quarta-feira, dezembro 01, 2021

Meu pé de milho


Encontrei aquele grão enquanto catava feijões para o almoço. Surpreso, segurei aquele pequeno e amarelo grão de milho no meio de minha palma. Não o juntei com os feijões rejeitados. Deixei-o à parte, um pouco afastado, para não esquecê-lo.

Desci com ele quando fui molhar as plantas lá fora. Eram algumas mudas que havia conseguido com pessoas queridas. Manjericão, Melissa, Capim Cidreira. Parei no centro do canteiro, em um ponto em que a terra nua era visível.

Enfiei o indicador na terra, que cedeu com facilidade. A chuva recente facilitou o processo. Depositei o grão de milho no pequeno furo e o cobri com terra.

Deixei de pensar nele. Fui lembrar de sua existência quase uma semana depois, quando vi umas folhas largas, longas e bem verdes. Tinham despontado justamente onde eu deixei repousando aquele grão de milho. Parecia um capim, mas diferenciava-se por serem folhas largas e compridas, com caule roxo.

Reconheci meu pé de milho. Orgulhoso, passei a diariamente dedicar-lhe atenção, um pouco de água e uma pequena parcela de meus sonhos. Comecei a me sentir como o Rubem Braga, quando ele contou em sua crônica a descoberta de um pé de milho em seu jardim e o encantamento de ver a planta crescer.

Já imaginava o futuro desse grão que o acaso protegera, escondendo-o em um pacote de feijões de supermercado, para ser encontrado, escapando da obliteração de água, fogo e dentes vorazes. Eu imaginava minhas mãos debulhando a espiga, preparando a terra para a prole desse pequeno grão de milho que agora já era outra coisa. Era um pequenino pé. Meu pé de milho.

Havia, porém, o medo. Como meus vizinhos receberiam a visão de um pé de milho crescendo no jardim? Temia que achassem isso um disparate. Eu ficava me perguntando se algum vizinho reclamaria, ou até mesmo poderia, na surdina, cortar a planta. O perigo, porém, surgiu de um lugar totalmente inusitado para mim.

Ontem, a empresa de jardinagem veio ao condomínio em que moro. Cortaram meu pé de milho. Não adiantou eu ter falado com o jardineiro chefe. Nem ter sinalizado o meu pé de milho, o manjericão, o salsão, o capim cidreira, a melissa. A máquina voraz cortou, esmagou, triturou essas vidas ainda tão tenras, tão tímidas. 

Agora, meu Pé de Milho existe apenas aqui, na galeria de tudo o que era para ser, mas não foi. 

2 comentários:

  1. Bom texto que gostei de ler. A germinação do milho em evidência
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    Cumprimentos poéticos
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  2. Estória bem triste e dramática. Amo a natureza e é horrível quando isso acontece.

    Boa semana!


    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

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