quarta-feira, outubro 30, 2019

Histórias Suspensas no CCSG


Continuo visitando os centros culturais de Belo Horizonte para conversar com leitoras e leitores sobre A Cidade Suspensa. As experiências acumuladas durante esses encontros têm sido muito proveitosas. Ao mesmo tempo, recebo um retorno direto sobre os trechos lidos e tenho sentido que sou muito bem acolhido. A terceira realização da oficina "Histórias Suspensas" acontecerá agora no Centro Cultural São Geraldo, com apoio da bibliotecária Luciane Carvalho Moisés. 

Na Lagoa do Nado, recebi uma numerosa turma escolar de pré-adolescentes. Já no Centro Cultural Lindeia Regina, tive a oportunidade de falar sobre o livro no sarau que acontece mensalmente. Amanhã, dia 31 de outubro, encontrarei um público um pouco diferente daqueles que encontrei antes. E o convite continua: vamos conversar?

Histórias Suspensas


Roda conversa sobre o livro A Cidade Suspensa, com leitura de trechos da obra durante o encontro.

Centro Cultural São Geraldo
Av. Silva Alvarenga, 548 - São Geraldo
Informações: (31) 3277-5648


Sublime

Meus olhos
Sofrem
A ausência
de tua
Imagem
Miragem
de sonho
É meu constante
suspirar
Por
Ti.

Para Pâmela
30/10/2018

quinta-feira, outubro 17, 2019

A Cidade Suspensa nos centros culturais de BH

A Cidade Suspensa é um dos meus projetos mais antigos e duradouros. Iniciado como folhetim online, ele evoluiu em uma novela de fantasia sombria. Hoje, o livro é distribuído gratuitamente aqui no portal e pode ser adquirido a preço mínimo na plataforma da Amazon.

Contudo, eu sentia falta do livro em formato físico. Assim, em parceria com a editora Senhor da Lenda, imprimi 100 exemplares com a capa e o projeto gráfico da Thaís Lopes. 

Com o objetivo de alcançar ainda mais leitores, estou oferecendo a oficina "Histórias Suspensas" nas bibliotecas de alguns centros culturais de Belo Horizonte. A proposta é ter um bate-papo descontraído, entremeado com leituras de trechos da obra. Ao final, um exemplar é doado para ser incluído no acervo da biblioteca.

A primeira oficina aconteceu dia 8 deste mês, na biblioteca do Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado. O próximo encontro será no Centro Cultural Lindéia Regina, às 14h30.

A quem estiver interessado, fica aqui meu convite. Vamos conversar?



sexta-feira, outubro 11, 2019

Bacurau - Uma distopia pernambucana

Acabei de assistir Bacurau. Saí do cinema ainda impactado. Na tela, assisti a saga de um povoado em estado de sítio ser atacado por um grupo de estrangeiros, vestidos como uma unidade de elite norte-americana, num doentio jogo de morte, e se defender com bravura. Uma original distopia pernambucana. 

Logo no início, vemos uma placa avisando que aquele que vier, que venha em paz. O lugarejo de Bacurau é simples e orgânico. Todos se conhecem. E nós espectadores somos apresentados ao lugar justamente em um momento de luto, em que a matriarca, Dona Carmelita, é velada. 

Foi interessante perceber que o norte-americano mais sanguinário se chama Joshua, o que acredito ser uma referência ao bíblico Josué, que dizimou povos inteiros, matando inclusive crianças.

Outra coisa que me chamou à atenção foi o tom de atrevido orgulho que os habitantes de Bacurau ostentavam. Uma forasteira, ao perguntar sobre o que significava Bacurau, uma moradora responde, num ar zombeteiro, que se tratava de um pássaro noturno, muito bravo.

É essa ousadia que mais me encantou no povo de Bacurau. 

segunda-feira, outubro 07, 2019

Terceira Candeia - O Corpo e a Voz


A terceira edição da Candeia - Mostra Internacional de Narração Artística - chegou ao fim. Dos dias 1 a 6 de outubro, mergulhamos em um mundo de vozes, gestos, cheiros e toques. Um festival sinestésico. 

Foram momentos de celebração da Memória em suas diversas formas de materialização. Companheira da Palavra e sua originária, a Memória foi celebrada na voz e no corpo, nos gestos e no canto. Na poesia e na melodia.

Há muito o que falar, refletir, pensar. A poesia teve um papel fundamental nessa Candeia, assim como o corpo. Fomos lembrados de que a voz se realiza também nos gestos, no toque, no olhar. E pudemos apreciar momentos belíssimos em que a língua de sinais teve afirmado seu protagonismo.

Os dias, intensos em experiência e afeto, mais uma vez foram inesquecíveis. Transpusemos fronteiras. Vivemos uma única nação chamada Memória 

quarta-feira, outubro 02, 2019

A força e a delicadeza

Outubro inaugurou a Palavra. O mês começou e a III Mostra Candeia de Narração Artística veio junto, como maduro fruto temporão.

No Sesc Palladium, essa festa da Arte e da Oralidade tomou o Grande Teatro, encantando o público com as vozes de Chicó do Céu, Rafa Salles e Teo Nicácio. Aline Cântia evocou o sagrado através da força da memória e assim teve início o primeiro espetáculo.

Sim, foi espetacular a presença de Luciano Pontes. Com sua voz macia e seu sotaque marcante, Luciano nos embalou com cantigas, parlendas, trava-línguas e muitas histórias. Sem falar de sua simpatia, numa presença que unia o paradoxo da força e da delicadeza. 

Bem, na pessoa de Luciano Pontes, foi possível constatar que não há paradoxo algum. Sua apresentação foi puro amor. Não pude deixar de pegar meu autógrafo e fazer uma foto com a Pam e o autor.

Mais uma vez a chama começa a brilhar forte. 



segunda-feira, setembro 30, 2019

Entre duas montanhas

Estive na mediação da última mesa do FLI-BH 2019. Foi uma honra e uma grande responsabilidade.

Ana Maria Gonçalves e Marcelino Feire são gigantes da literatura atual. Estar entre eles fez com que eu me sentisse ainda mais pequeno. Um vale entre duas montanhas.
Evocando o termo "Oralitura", muito pesquisado pela professora Leda Martins, homenageada pelo Festival, Ana Maria falou muito sobre as vozes de sua realidade como uma pessoa filha de mãe negra e pai branco. Contou como a figura da contadora de histórias formou nela a consciência de também ser uma contadora de histórias.

Da mesma forma, Marcelino Feire destacou como sua infância em Pernambuco é de fundamental importância para sua literatura. Marcelino deu um espetáculo ao recitar de memória trechos de seus textos, em especial o conto "Totonha". Relembrando a figura de sua mãe e de uma tia, o escritor assinalou como essas vivências são fundamentais em sua palavra escrita e falada.

Além das vozes, os corpos também foram destacados. Ana Maria Gonçalves apontou o corpo negro como fronteira e a importância da evidência desse corpo, muitas vezes apagado, tratado como invisível. Assim, a escritora defendeu o papel das políticas afirmativas para evidenciar esses corpos como próprios e pertencentes a todos os lugares. O acesso às universidades, antes quase que exclusivas a brancos, seria um exemplo.

Já Marcelino ressaltou como, em sua literatura, é fundamental que a palavra passe por todo o corpo. Ao terminar de escrever, ele passa o novo texto pelo crivo da Leitura em voz alta. Durante a leitura, esse novo texto precisa passar por todo o seu corpo. Ele precisa sentir todo o corpo envolvido. 

Destaco esses dois assuntos, entre tantos abordados. Esses, porém, foram os que mais me impactaram. Os mais frescos em minha memória. Foi um momento de muito aprendizado para mim. E espero continuar aprendendo.

sexta-feira, setembro 27, 2019

Contando Histórias no FLI-BH 2019

Chuva. Em frente ao palco literário, uma tenda enorme abrigava algumas pessoas. Eu estava atrasado para o início da apresentação De lobo a bolo. A galera do Biqueira Cultural já estava a postos, para um sarau que aconteceria logo em seguida.

Apesar do nervosismo, fruto da insegurança, tudo foi maravilhoso. Contei Chapeuzinho Amarelo, O caso do bolinho e Um herói diferente. São as histórias mais contadas na apresentação que organizei. 

Depois que me apresentei, permaneci na tenda para participar do sarau. Fiquei encantado com a apresentação da poeta marginal e narradora de histórias IZA REYS, que narrou contos africanos.

Ter escuta é sempre um privilégio, principalmente em um mundo de silenciamentos, como o nosso. A oportunidade de ouvir também é fundamental. E fui agraciado com esses momentos. Que eles se repitam, seja no FLI-BH, seja em outros eventos e lugares.

Fotos de Ana Paula Cantagalli.





quinta-feira, setembro 26, 2019

Cortina de fumaça

Belo Horizonte, meados de setembro de 2019. Um odor de fumaça entra pelo meu quarto. Sinto os olhos arderem. Lá fora, o ar parece embaçado. Serão meus óculos? É noite. 

Uma amiga no centro comenta sobre a fumaça. Um amigo, no Renascença, fala da dificuldade em respirar. Pelo aparelho celular, vejo vários vizinhos especulando sobre a causa de tanta fumaça. Uns falam que é no Bairro São Paulo. Outros, que é no São Gabriel. 

Minha esposa me manda uma mensagem perguntando se eu já vi a Lua. Deixo o apartamento e vasculho os céus. A luz dos postes ressaltam a fumaça, como uma neblina seca e quente, a envolver e espessar a noite.

Olho pra cima e percebo a Lua. Sua fase cheia começa a minguar. Ela está quase dourada. É como ela costuma ficar quando está perto do horizonte. Agora, porém, a Lua está alta, assim como a noite. São 23 horas. 

No dia seguinte, o noticiário local anuncia queimadas por todas as florestas que cercam a Região Metropolitana de BH. Imagino que a Lua Dourada seja um sinal de que até o astro queima diante de tanto calor e destruição. Ou talvez seja o efeito da fumaça, mesmo.

Foto de Miriam Doti

Originalmente publicado no Facebook dia 19 de setembro de 2019.

quarta-feira, setembro 25, 2019

De lobo a bolo no FLI-BH

O terceiro Festival Literário Internacional de Literatura de Belo Horizonte está para começar. Por quatro dias e meio, BH irá celebrar a Literatura em suas mais diversas formas e realizações. Uma delas é pela oralidade. 

Sendo assim, é com muito gosto que farei parte da programação do Festival com minha apresentação "De lobo a bolo: uns heróis bem diferentes". Com uma seleção de textos literários e narrativas orais, este espetáculo faz parte de minha vida há três anos, desde que o apresentei na Virada Cultural. Sua gestação, porém, faz parte de quase dez anos de atuação como mediador de leitura para crianças.

Faço o convite para que todas e todos possam me prestigiar com suas escutas e seus corações.

Mais informações:

Narração de histórias para crianças de todas as idades. O repertório parte de textos literários consagrados junto ao público infantil, bem como de narrativas da tradição oral.


Local: Palco Literário (Largo em frente ao Teatro Francisco Nunes)
Data: 26/9 (quinta-feira)
Hora: 14h

segunda-feira, setembro 23, 2019

Mais um dia repleto de histórias


Não bastou para mim compartilhar histórias no Centro Cultural Liberalino Alves de Oliveira, na manhã de sábado, dia 21 de setembro. Eu queria mais. Não apenas contar, mas ouvir também.

Por isso, segui para a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte e assisti mais uma vez ao espetáculo Ouvi Contar. Poesia, narração e interpretação em um projeto belíssimo de acessibilidade.

Voltei então ao Parque Municipal para me apresentar novamente. Contei "Chapeuzinho Amarelo", de Chico Buarque, e "O caso do bolinho", conto tradicional registrado por Tatiana Belinky.

A interpretação em LIBRAS foi de Mavione e Jivago.

As fotos são de Rivanda.





sábado, setembro 21, 2019

Primeiro dia na Tenda de Histórias

Era tarde de uma quinta-feira. Setembro chegava a seu décimo nono dia. O Parque Municipal Américo René Gianneti, em Belo Horizonte (MG) estava em festa.

Fui para a Tenda de Histórias ainda um pouco inseguro. Haveria público? Esse é sempre o receio de um contador de histórias.

A amiga Sterlayni Duarte coordenava a tenda e deu todo o apoio necessário. Quando vimos uma turminha da Educação Infantil, ela sugeriu que eu abordasse o grupo e convidasse para ouvir histórias.

Foi o que eu fiz. Com Norma e Guilherme revezando como intérpretes de LIBRAS, dei vida ao bolinho tão querido de minhas histórias.
Antes, porém, fiz o LOBO virar BOLO com "Chapeuzinho Amarelo", do Chico Buarque.
Quando essa turminha já estava de saída, havia outra, sentada poucos metros fora da tenda, aguardando a vez. Como o tempo já estava adiantado, resolvi contar uma história apenas, enquanto as crianças ainda lanchavam. Contei a aventura de um herói bem diferente. Só não digo que herói é esse pra deixar no suspense e fazer mais pessoas ouvirem a história!
Foi um momento agradável, maravilhoso. Agradeço às crianças, às professoras e também a todas as mães e pais que emprestaram sua escuta para este narrador!

Fotos de Sterlayni Duarte



sexta-feira, setembro 20, 2019

FLI-BH 2019 - Do livro à voz: narrativas vivas

A programação do FLI-BH 2019 está no ar. Com a curadoria de Nívea Sabino e Marilda Castanha, o Festival está mais que bonito, está um monumento! Autoras e autores de diversos registros e lugares encontrarão seu espaço no Parque Municipal Américo René Gianneti. Temos Adão Ventura como homenageado. Leda Martins e Ailton Krenak são as menções honrosas.
Sinto que será uma honra para toda e qualquer pessoa que transitar por essa ciranda de Oralitura, que adentrar esse quintalzão que será o Parque Municipal nos dias 25 a 29 de setembro.
Mais que um lugar de escrita, será de escuta. Uma grande roda como aquelas que nossos ancestrais faziam. E nessa grande roda, saudaremos suas vozes com as nossas. Na figura de tantas letras, cantos, performances, slams e saraus, seremos todas uma grande colcha de retalhos.
Não poderia deixar de puxar uma sardinha pro meu lado. Estarei na Biblioteca do FLI-BH com oficinas literárias. Faço também a apresentação "De lobo a bolo". Por fim, terei o privilégio de receber Ana Maria Gonçalves e Marcelino Feire em uma mesa maravilhosa.
A história da Literatura de BH e do mundo ganha mais um capítulo. Um daqueles cheios de reviravoltas, aventuras e muita emoção. E nesse grande épico, estamos todas e todos convidadas. Vem com a gente!

Confira a programação completa no site http://www.fli.pbh.gov.br/.

quinta-feira, setembro 19, 2019

Álbum da fama - com o Coletivo Simples


O Coletivo Simples, do qual faço parte, foi convidado pelo poeta Wir Caetano para realizar uma performance poética no lançamento de seu Álbum da Fama. Será um momento de troca poética, com leituras de poemas de autoras e autores do nosso cenário literário, além do anfitrião e homenageado, Wir Caetano. Será uma honra para mim estar lá, junto das pessoas queridas do Coletivo Simples.

Álbum da fama

13 faixas e um bônus

videopoemas de Wir Caetano

Participação: Coletivo Simples
Dia 21 de setembro, sábado, às 20h

Butiquim Desde 1999
Rua Mármore, 758
Santa Teresa
Belo Horizonte

quarta-feira, setembro 18, 2019

Profusão

Solidão profunda
me inunda
arregaça o peito
não me aceito
É a minha sorte
de ser forte
Perdedor contudo
pobre e mudo.

Sigo o meu caminho
vou sozinho
E me endureço
Pago o preço
de ser diferente
sigo em frente
Sem chegar porém
Sou ninguém

Olho à minha volta
Medo volta
E engulo em seco
Eu me perco
No vazio triste
que persiste
E que todavia
Me alivia

domingo, setembro 15, 2019

Picadeiro

Apresento-me aqui
Senhor leitor
Neste picadeiro iluminado,
tua cuca tão pós-moderna!
Não reflitas tanto, caro amigo,
pois hás de enlouquecer
e darás uma pirueta
como a que dou agora
em tua desamparada caixola
caio
não caio
me equilibro, por um triz,
na ponta do teu nariz.
Quero risos, gargalhadas
quero caretas.
Nem que sejam
de mais puro desespero
e que a comédia
seja já sem graça
piada de mau gosto
bolo de mel amargo
estragando as expectativas
imitação mórbida
quase idêntica
da nossa vida.

sábado, setembro 14, 2019

Necessidades

Precisa-se de sorrisos
raios de sol esparsos
despertas sonolências
relampejos de felicidade

Precisa-se de lágrimas
decantadas pedras preciosas
diamantes, cristais oblíquos
efêmeros tesouros de nostalgia

Agora, mais que desesperadamente
precisa-se de sangue
gotas e mais gotas, chuvosas
mares eternos em tom escarlate

E suor, por Deus, não se esqueça dele
correndo salgado por um corpo forte, rijo
voluptuosamente ativo, imponente
a preencher despropositadamente o vazio.

sexta-feira, setembro 13, 2019

Pinóquio e a mecânica do vazio

Jimmy Barata é um cara incompreendido. Ele não consegue se adequar ao modelo de trabalhador convencional, com uma rotina de trabalho repetitiva, embrutecedora. É um inseto com aspirações e muitas ideias. Seu sonho é ser escritor. Porém, a vida não correspondeu aos seus ideais. Alcóolatra e com problemas para se ajustar ao ambiente corporativo, de repente ele se vê desempregado e no fim de um relacionamento fracassado. Sua esposa o expulsa de casa justamente depois que ele é demitido.

Tudo parecia perdido quando, porém, Jimmy descobre um espaçoso apartamento todo em aço inox. Ao constatar que o imóvel está vazio e tem uma privilegiada vista para a pia, Jimmy resolve se estabelecer nesse novo imóvel e decide dar início à escrita do seu tão almejado romance.

Assim tem início a magnífica paródia de Pinóquio. Escrito e desenhado por Winshluss, esta graphic novel tem o enredo situado em um universo de conto de fadas decadente. Pinóquio narra o périplo de um menino de metal - não de madeira - indestrutível, movido por uma mente habitada por uma barata. Jiminy Cricket (Grilo Falante) soa como Jimmy Cockroach (Jimmy Barata), numa genial corruptela da famosa consciência do menino de madeira.

A narrativa é construída em um paralelo entre as andanças de Pinóquio, um robô criado pelo inventor Gepeto, e os dramas existenciais de Jimmy, seus problemas com a bebida e sua incapacidade criativa. A linha narrativa de Pinóquio, feita em cores e simulando a estética dos desenhos animados infantis, mostra um mundo perverso, de ladrões, estupradores, traficantes de órgãos, ditadores e fábricas de brinquedos movidas por crianças escravizadas. Já o universo de Jimmy é traçado em preto e branco, sendo mais "civilizado" e monótono, numa sátira clara à sociedade de consumo e ao homem comum pseudointelectual.

Outro ponto a ser destacado é que a narrativa protagonizada pelo robô Pinóquio, livremente inspirada no romance de Carlo Collodi, raramente conta com textos, sendo principalmente visual. Mesmo os diálogos são narrados com gestos e outros símbolos não verbais. Assim, é importante destacar a extrema plasticidade da obra de Winshluss.

Numa genial metáfora do homem-máquina contemporâneo, sem moral ou culpa, o livro nunca realizado de Jimmy Barata leva o título de Mecânica do Vazio, numa clara alusão à falta de sentido e à decadência dos ideais. Em uma iconoclastia icônica, o mundo de Pinóquio é como uma enorme máquina que move suas engrenagens em um perpétuo esgar de tédio e desespero. 

Ficha Técnica:
Pinóquio
Winshluss
Globo Livros

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/livro/261936ED293518

quinta-feira, setembro 12, 2019

Exilado

Habito em outro mundo
longe de mim
Lá a vida é mais simples
e luminosa também
Uma princesa ali existe
me esperando libertá-la.
Um castelo subsiste
Ainda que de nuvens
com um trono de jasmim
e uma coroa de cristais
Mas não vivo nem lá
nem cá
Pois nos melhores momentos
sou despertado pelos barulhos do trânsito
das notícias econômicas
da filosofia vã
e das batidas do meu próprio coração

quarta-feira, setembro 11, 2019

Semana da Educação - Espaço Contação de Histórias no Parque Municipal

De lobo a bolo: uns heróis bem diferentes

Narração de histórias para crianças de todas as idades. O repertório parte de textos literários consagrados junto ao público infantil, bem como narrativas da tradição oral.

Duração: 30 minutos

Público: infantil

19, 21 e 22 de setembro de 2019, às 13h30
Local: Parque Municipal Américo René Giannetti. Belo Horizonte. MG.



segunda-feira, setembro 09, 2019

Queria

Queria
passar um dia
sem me sentir
inadequado
Ter potência
irrompendo
ser aríete
Torreão
Arder estrela
Desabrochar
Queria
só por um dia
ser todo um céu
e não um cisco
sob o
mar.

domingo, setembro 08, 2019

Desconínuo

Uma flor manca
sobre um prado cinzento
de solitária fuligem
ardente impressão
do que estava pra vir
que já veio
e já fez o seu estrago
caiu
ou será
que ascendeu?
Acender é que não foi
pois é escuro como
breu
ou será que a luz que eu pedi
era negra?
Só vejo o que quisera sempre ver
teus olhos
tristonhos
trincados
mas teus olhos

sábado, setembro 07, 2019

Hoje eu saio de preto

Hoje eu saio de preto contra o desrespeito à vida, contra a desigualdade, a mentira e a calúnia.
Hoje eu saio de preto contra um presidente que ridiculariza quem é mais fraco.
Hoje eu saio de preto contra o desmonte da educação.
Hoje eu saio de preto contra os vetos à lei de abuso de autoridade.
Hoje eu saio de preto contra a reforma da Previdência.
Hoje eu saio de preto contra a destruição do direito dos trabalhadores.
Hoje eu saio de preto contra o desrespeito à Constituição.
Hoje eu saio de preto contra o nepotismo e a desonestidade.
Hoje eu saio de preto contra a injustiça social que o governo atual promove.
Hoje, sete de Setembro, eu saio de preto.

sexta-feira, setembro 06, 2019

Queixa

Um dia ainda comerei moscas
Para ver se cago moedas
Desculpe minha indiscrição
Mas tô já cansado desse mal de condição

Condição financeira, condição física, condição psicológica
Tanto con que eu já to cheio de anexos
Dá até vontade de mandar todas essas circunstâncias
Lá pro lugar que vossa senhoria bem (des)conhece

Tem tanta gente comendo coisa boa e só faz cagada!
Enquanto os que mais trabalham menos têm pra comer,
Quem sabe eu coma bosta e cague um tesouro!
Porque só bosta esses bundas-moles me dão pra comer!
Mandam em mim e eu que mandei eles pra lá 
(e agora mando lá pra aquele lugar)

Mas deixa estar
E estará
Enquanto isso fico aqui
Cuidando de meus carrapatos

quinta-feira, setembro 05, 2019

Digressão

Quando às vezes não há nada para escrever
Teima-se em pôr no papel palavras
Ainda que sejam tão fracas
Quanto este poema

Vida que se esvai na seca
Da alma seca calma quente
Ar parado do peito que pára
Das escamas que se incandescem

E cobrem a nudez da imagem invertida
Reflexo insano da própria vida
Convulsa
Avulsa
Dentro de sóis e paróis
Caleidoscópio vingativo
Que insana a alma humana
E frecha a frecha acerta a brecha
Onde o olho espia a verdade incerta
Sangra
Sangra
Sangra
e Sangra...

E não pára-
lelepípedo

quarta-feira, setembro 04, 2019

A Lira

A lira alva
como a aurora
treme e chora
em doce canção

seu ser estava
vazio embora
esteja agora
pleno então

A lira asperge
seu doce canto
Atrai no entanto
minha atenção

seu som prossegue
Qual suave manto
imerso em pranto
A sua canção.

Momento Mágico

Momento mágico. Eu atravessava a Praça da Estação e tive o olhar sequestrado por esse ipê em toda a sua majestade.

Minha mente foi invadida por um verso escutado na infância. Nesse verso, a Poeta deseja que um ipê seja seu.

Não cheguei a desejar esse ipê que domina a frente do Museu de Artes e Ofícios. Eu não me senti à altura. Desejei apenas ter comigo esse momento, para sempre, num sonho que se repete. 

Se existir vida após a morte, quero que seja como ver esse ipê rosado em seu ápice de floração.

Belo Horizonte, 4 de agosto de 2019


terça-feira, setembro 03, 2019

Poemicídio

Assassinaram todos os meus poeminhas
Mas não fui eu, juro!
Foi aquele poema de uma perna só
Não podia ter filhos
por isso
tornou-se amargo
e minha vida quis amargar.
Não o culpo de nada,
nem me arrependo.
Haverá outros sóis a pintar
E depois massacrá-los sadicamente.

Vídeo: Livro-minuto - Adeus



Livreto produzido dentro do projeto Livro-minuto.

Este exemplar está disponível.

Quando o vídeo alcançar 10 "joinhas", a primeira pessoa que tiver comentado no canal ganhará pelo correio uma cópia feita à mão desse livro-minuto.

* Válido apenas para residentes no Brasil.

segunda-feira, setembro 02, 2019

Contando Histórias na EMEI Alto Vera Cruz

Não é segredo para ninguém que tenho um carinho especial pela Educação Infantil. O universo de histórias, cantigas e brincadeiras continua a fascinar este adulto de quase quarenta anos.

Ao deixar de trabalhar na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, passei a valorizar ainda mais as oportuidades de me apresentar para as crianças pequenas.

E foi por isso que nem pensei duas vezes quando conheci a professora Aline. Ao saber que ela trabalhava em uma EMEI, perguntei sobre a oportunidade de visitar a escola para contar histórias.

Fui muito bem recebido na EMEI Alto Vera Cruz no dia 10 de julho deste ano. As crianças foram reunidas no refeitório, sentadas em tapetes circulares. Eu, diante de tantos rostinhos, dei início com a leitura de Dorme, menino, dorme. Em seguida, narrei algumas histórias, com destaque ao meu principal herói, o bolinho.

Ao fim da apresentação, as crianças voltaram para suas salas e eu fiquei um pouco na biblioteca. Havia uma turminha lá. Aproveitei para contar outra história. 
Fiquei o resto da manhã lá na biblioteca, conhecendo os livros. Tive ótimas surpresas, como o excelente 20 disfarces para um homenzinho narigudo. À tarde, tive a segunda parte, quando contei histórias para outras crianças da EMEI. Aproveitei para apresentar os livros que tinha conhecido lá na Biblioteca. Também brinquei um pouco de adivinhas, antes de começar a narração. 

Foi um dia maravilhoso para mim e que estará sempre gravado em minha memória. Quero aproveitar e mais uma vez agradecer à pedagoga Aline Costa pela oportunidade, confiança e pelo registro fotográfico.








domingo, setembro 01, 2019

Lágrima

Em uma página rasgada
Havia uma lágrima escondida
e, sem saber,
as memórias perdidas
de um jovem poeta.
Suja, amassada, num beco escuro
a lágrima morta permanecia,
suas marcas deixadas
no papel, como um borrão escuro,
parte da sombra
ou a sombra da sombra
daquela vida sombria
daquela noite sem lua
sem estrelas
sem janelas, varandas ou serenatas.
Somente aquele beco escuro e frio
permanecia na solidão
com aquela lágrima já seca
que, em sua morte, apenas deixara um borrão
e no papel, as palavras nem mais se entendiam
pois seu sentido se perdera na noite
junto com a esperança do poeta.

Bolsoriques #2

Bolsonaro é um parvalhão
Acha que pode tudo, mas não!
Estudantes unidos
Jamais serão vencidos
Aliados pela educação!

A ciência virou balbúrdia
Que coisa mais estapafúrdia
Ministro engraçado
Não é educado
Contra ele eu faço balbúrdia!

Um déficit de bolsa, imagina,
o problema é um "Bolso" lá em cima
Que não dá o valor
para o educador
Que o governo de hoje incrimina!

Bolsonaro sem nenhum pudor
Quer seu filho pra embaixador
Mas o tal de Eduardo
E um tirano mimado
Que só quer espalhar o terror!

sábado, agosto 31, 2019

Contraponto 1

Alma na lama
lama na alma
lama limpa
lavagem da alma
leva a alma
à lama
da lama leva
lavagem
à alma
lavo
louvo
louro
louros de louvor
à lavagem no meio do poema
no poema do meio
da lama.

sexta-feira, agosto 30, 2019

A fúria do corpo - Um relato selvagem

Um homem sem nome nem sem passado conta uma furiosa história de amor. Ele vaga pelas ruas do Rio de Janeiro. Em especial, de Copacabana. Sua palavra é descontrolada. Ao leitor, ele faz o relato de seus devaneios em uma vida insalubre e inconsequente, que ele divide com a mulher que ama.

Esse é, por se dizer, todo o enredo de A fúria do corpo, de João Gilberto Noll. O romance gira em torno das experiências sexuais e delírios do narrador. Nesta obra, Noll faz um retrato de um Rio de travestis, prostitutas e mendigos com suas vicissitudes. Um livro que é, antes de qualquer coisa, escatológico.

Aqui, o adjetivo escatológico se confunde em seus sentidos divergentes. A linguagem é pornográfica, profana, libertina. Contudo, o texto é entremeado de referências bíblicas, em especial ao livro Apocalipse de João. O próprio narrador já de início se compara ao evangelista em seu relato.

Outra forte fonte de referências, porém, está no paganismo que cerca a figura de Afrodite, a mulher que compartilha com o protagonista o caminho da mendicância. Por diversas vezes as experiências sexuais narradas se tornam bacanais onde a depravação pura é o ponto de partida. E o clímax acontece justamente no Carnaval.

Outro viés da narrativa é seu cunho de retrato de exclusão, em tom de denúncia velada. O narrador mais de uma vez declara estar pronto para ser morto pelo Esquadrão da Morte. Há relatos de violências absurdas em prisões e cadeias. Sua vida e de Afrodite estão sempre a ponto de serem descartadas.

Com muita crueza, mesclada a uma certa dose de doçura, pela adoração incondicional que o narrador devota à sua mítica Afrodite, A fúria do corpo flerta o tempo todo com a insanidade, sem deixar de lado o trato minucioso com as palavras e um apreço por fazer literatura. Assim, este é um complexo romance de enredo extremamente simples, mas que na sua simplicidade aprofunda e mostra o que nós temos de mais humano.

Ficha Técnica 
A fúria do corpo
João Gilberto Noll
Ano: 1989
Páginas: 276
Idioma: português
Editora: Rocco

quinta-feira, agosto 29, 2019

Ilusão

Quando eu fizer uma poesia
que seja bela como o nascer do sol
me avisem, não saberei a diferença
Temo tomá-la por mais um devaneio
fruto de meus olhos caleidoscópicos
Era tão bom ver assim
até descobrir que os outros viam diferente
Que agora esqueci-me do que é ver.

quarta-feira, agosto 28, 2019

Caleidoscópio: meus poemas dos anos 20

photo taken by H. Pellikka
Minha relação com a escrita poética é bem antiga. Lembro-me de ter arriscado versos e rimas lá pelo fim da infância. Eram versos que falavam do tempo e da ansiedade que ele traz. Infelizmente, esses versos não sobreviveram à minha adolescência.

Quando comecei a cursar Letras, tentei novamente. Experimentei sonetos, rimas e versos livres. Quase tudo foi abandonado lá pelos 25 anos. Diferente dos versos da minha infância, esses poemas foram, em sua maioria, preservados. 

O único problema é que eu não compartilhei a maior parte desses poemas. Ainda assim, não fui capaz de destruí-los. De uns anos pra cá, eu os reuni em um quase livro, que batizei de Caleidoscópio, o mesmo título do meu poema preferido dessa época. Alguns amigos leram, fizeram comentários e sugestões. 

Atualmente, esse livro está em processo de publicação. São poemas antigos, ingênuos, que mostram um pouco da carne que há além da minha pele. E continuo querendo divulgá-los. 

Vou compartilhando aos poucos esses poemas por aqui, com a hashtag #Caleidoscópio. Será como postar fotos antigas, daquelas que mostram como bonitinhos - e desengonçados - a gente costuma ser, quando jovem.

Convido aos interessados que acompanhem em meu blog possíveis desdobramentos, como um lançamento futuro. Podem conhecer todos os poemas do futuro livro na Página do Projeto Caleidoscópio. E conto com vocês para torcerem por mim - e pelos poemas também.