O primeiro sinal de disparo soou
na trompa do arauto. Os arqueiros rapidamente entesaram seus arcos e
permitiram que as flechas tomassem o céu. Segundos depois, uma
chuva mortal caía sobre o campo à frente do exército.
Aldreth observou espantado a figura de um camponês que corria
na sua direção. Uma flecha havia se enterrado fundo no
seu pescoço, o que garantiria uma morte rápida ao
sujeito. Mas o homem continuava correndo, rosto contorcido e braços
abertos, mãos como garras na direção dos homens.
– As
cabeças! – gritava o andarilho Urso Pardo – Acertem na
cabeças!
Mas a violenta turba já
estava perto demais para que os arqueiros pudessem fazer um novo
disparo. Instantaneamente, os guerreiros entraram em ação,
unindo as bordas dos seus escudos, formando uma parede onde os
camponeses quebraram-se como uma onda contra uma sólida
represa. Com os escudos, os guerreiros empurravam os cadáveres
vivos, enquanto as lâminas desciam, para darem àquelas
almas atormentadas um fim mais digno.
A linha de frente era formada por
um dos três blocos de soldados, enquanto os demais blocos davam
cobertura, empurrando seus companheiros para frente e procurando
estocar por sobre seus ombros. Seridath não estava na linha de
frente, mas aguardava ansioso o momento de entrar em ação.
Logo que o primeiro bando chocou-se com a fileira de homens, um
segundo agrupamento de mortos surgiu de um pequeno bosque próximo,
atravessando a campina em uma corrida desenfreada, para flanquear a
infantaria pela esquerda. Outro bloco de guerreiros ofereceu
resistência, fazendo frente aos mortos-vivos. Então um
terceiro bando, três vezes maior que o segundo, surgiu de
alguns casebres que não haviam sido tocados pelo fogo. Iriam
atacar o flanco da direita, mas Urso Pardo, antecipando esse
movimento, ordenou aos anões que fizessem seu trabalho.
Uma dúzia de pequenas
esferas foram arremessadas contra aquele novo bando. Eram esferas do
tamanho de um punho fechado, de um cinza escuro. Logo que a primeira
espatifou-se no chão, explodiu violentamente, assim como as
demais. Os camponeses foram despedaçados e o bando reduzido à
metade. Os remanescentes logo tornaram-se alvo dos disparos dos
arqueiros. Os poucos que restaram foram eliminados ao se aproximarem
da infantaria.
A princípio, os camponeses
pareciam ter seguido um plano, mas aquele ataque fora uma mera
coincidência. Não havia inteligência entre aquelas
pessoas, vítimas da maldição que as levara à
morte e agora as reanimara. Mais mortos surgiam da fumaça ou
da campina, amontoando-se sobre os escudos dos guerreiros e
pressionando-os para trás. Urso Pardo procurava cobrir o
flanco direito com a artilharia, enquanto a linha de frente havia se
dobrado, assumindo definitivamente a forma de uma esquina. Onde
homens e zumbis se encontravam não havia espaço para
movimentos com a espada e mais camponeses se aproximavam com rapidez.
Com brados de ordem pausados e
coordenados, os três capitães comandaram uma investida
para empurrar os mortos-vivos e permitir que o espaço entre
eles fosse alargado, para que os guerreiros pudessem manejar suas
armas. Os que estivessem atrás fariam uma força
adicional, empurrando os companheiros à frente para que eles
tivessem um maior impulso contra os inimigos.
No
terceiro brado, houve um estrondo forte das bordas dos escudos
estalando umas contra as outras. Os zumbis foram empurrados para trás
e os guerreiros puderam golpeá-los com facilidade. Mantendo-se
bem próximos e com os escudos erguidos, os homens da Companhia
avançaram. Mesmo sendo dizimado, o inimigo não aliviou
o ataque. Os camponeses pulavam sobre as espadas como alucinados e só
paravam se um ferimento fatal fosse feito no topo de suas cabeças.
Mas a força coordenada da Companhia abriu espaço para
que os homens das fileiras de trás pudessem também
tomar a frente e fazer parte da carnificina.
Seridath
estava pronto para isso. "É agora!" pensou. Quando o
espaço se abriu, ele foi um dos primeiros a ganhar a frente,
enquanto atacava com Lorguth em riste. Deparou-se com um zumbi alto,
com ombros avantajados e braços bem robustos. Devia ter sido
um bom lenhador quando vivo. O cavaleiro deu um golpe certeiro,
fazendo a espada descer contra a testa do morto. A lâmina bateu
na pele esbranquiçada e não causou nada mais que um
leve arranhão. O morto, em contrapartida, revidou com
violência, lançando o guerreiro contra o chão. Os
demais homens haviam conseguido golpear seus oponentes, procurando
exterminar o máximo de zumbis restantes, sem qualquer
empecilho. Seridath ergueu-se, olhando perplexo para seu agressor.
Aquele golpe deveria ter destroçado a cabeça da
criatura.
Confuso,
o jovem observou os outros guerreiros fazendo seu trabalho, os demais
zumbis de forma eficaz. Com um grito de fúria, Seridath
lançou-se novamente contra o zumbi adversário, que
permanecia de pé. A ponta da espada penetrou na garganta do
monstro e lá ficou agarrada. O rapaz tentou puxá-la,
sem sucesso. Sentindo uma onda crescente de frustração
e desespero, Seridath largou o escudo e, segurando o cabo da espada
com ambas as mãos, pôs o pé esquerdo na barriga
do inimigo e puxou com toda sua força. A espada foi liberada,
junto com um jorro de plasma apodrecido que sujou todo o rosto do
jovem.
Esforçando-se
para segurar o vômito, enquanto recuava por instinto, escapou
por um triz dos braços que tentaram agarrá-lo. Uma
mordida poderia selar seu destino. Cansado, arfando, Seridath golpeou
com um giro horizontal. A lâmina de Lorguth atingiu a têmpora
do zumbi, sem causar dano. O morto-vivo segurou com força o
pulso do rapaz, tentando mordê-lo, até que uma espada
alheia decepou o braço do monstro na altura do cotovelo.
Seridath virou o rosto para a direita e viu um jovem guerreiro que
agarrou-o pelo ombro, puxando-o para longe do perigo. Esse rapaz
terminou o que Seridath tentara começar, dando um fim ao
morto-vivo. E esse era o último.
O jovem cavaleiro
sentou-se desfalecido na relva suja de cinzas e sangue negro.
Alcançaram a vitória, sem nenhuma baixa. E ele não
havia derrubado um único inimigo.
"deu ruim" na espada do guerreiro.
ResponderExcluirQto as mandingas de ano novo, a própria festa foi um fracasso, então tenho medo de 2013! [13!!!]
Samuca, essa história precisa ser publicada como livro. E seria um filme muito bom, o único filme de zumbis que eu iria gostar. 😊
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