segunda-feira, fevereiro 18, 2013

O Desespero e a Noite - Parte II de VI

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Chegaram a Keraz no quinto dia após o primeiro confronto. Era pelo meio da tarde, embora a neblina tornasse a atmosfera mais sombria. Os homens estavam extenuados pelos intensos combates e pelas precárias condições de repouso. Keraz era um aglomerado de casas estabelecido no alto de uma colina, onde os pescadores e fazendeiros das redondezas costumavam fazer seus negócios. A aldeia era, portanto, mais próspera e populosa que as demais. Todos temiam ver outra uma cena brutal, e ficaram surpresos ao descobrirem que Keraz resistia. Os próprios moradores cortaram grossos troncos de árvores e os dispuseram, enfileirados, ao redor da aldeia. O resultado foi uma sólida paliçada de uns quatro metros de altura. As toras de madeira tinham pontas bem afiadas e ao redor da paliçada um fosso razoável havia sido cavado, para completar as defesas.
Logo que a Companhia aproximou-se, o portão da paliçada foi aberto e alguns homens armados de espadas, foices e forcados surgiram. Não eram guerreiros, apenas simples camponeses, mas via-se, pelos seus rostos, mais alívio do que desafio. De forma gradativa, mais gente foi surgindo do portão. Todos tinham uma expressão de um desgaste que beirava o desespero. Um exército desconhecido, justamente naquele momento de crise, tornava ainda mais crítica a situação daqueles camponeses. Mas ter um exército à sua porta, com homens armados e bem equipados, soava-lhes mais como uma ajuda de Rheena do que uma ameaça.
O prefeito da cidade pôs-se à frente. Se aquele exército viera tomar Keraz, que o fizesse, pois era melhor estarem nas mãos de inimigos de que permanecerem à mercê dos mortos. Urso Pardo pareceu entender a atitude do prefeito e, por isso, ordenou que o destacamento parasse. Sozinho, o andarilho partiu ao encontro do líder de Keraz, que aparentava ter por volta de cinqüenta, talvez quase sessenta anos. Era alto, tinha uma avantajada barriga e a barba bem aparada, que descia por seu queixo com uma ponta curiosa. Após as devidas apresentações, Urso Pardo soube que o prefeito se chamava Denor de Keraz e também era um nobre, senhor de algumas terras naquela região e parente afastado do Conde de Arnoll. À distância, Seridath olhava com cobiça para as boas botas de couro que o homem calçava.
Ao saberem o motivo que trouxera a Companhia para o norte de Dhar, os moradores da aldeia acolheram os guerreiros com verdadeiro júbilo. Keraz não era um povoado pobre, mas não tinha construções de pedra. Embora algumas das residências fossem espaçosas e construídas com madeira de boa qualidade, a grande maioria constituía-se em um conjunto de casebres ordinários e com teto de palha. As construções mais ricas eram, evidentemente, dos homens importantes da aldeia, como o sacerdote, o juiz e o prefeito. A moradia do último era um casarão esplêndido, construído sobre um sólido fundamento rochoso, quase no centro da aldeia.
Foi para o casarão que Urso Pardo e os três capitães da Companhia se dirigiram, para uma conversa reservada com o prefeito, que estava acompanhado do juiz e do sacerdote da aldeia. Os demais ficaram sabendo da conversa quando Murrough e os os outros capitães retornaram.
O prefeito, muito solícito, os convidara a descansar nos aposentos de hóspedes.
– Não há tempo para confortos ou formalidades, bondoso senhor – replicou Urso Pardo, com polidez , pois o tempo urge. Temos enfrentado mortos durante os últimos cinco dias e precisamos saber qual a situação real desta região.
– Si... Sim, concordo - replicou, surpreso, o senhor Denor –, embora eu insista que os senhores devessem refazer-se da viagem primeiro.
– Estamos bem, caro senhor, novamente o digo. Meus homens são os mais duros e lutam pelo bem. Não se importarão de ouvir as cruciais informações que vós tendes para fornecer-nos. Em breve, retornarão às fileiras para reforçarem as defesas.
Ouvir que a Companhia estava pronta para auxiliar nas defesas da cidade deixou o prefeito mais tranquilo. Denor fez o convite para que Urso Pardo e seus auxiliares se assentassem, para que ele pudesse relatar como nos últimos dias Keraz havia mergulhado no mais profundo desespero.

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