Fonte: AutoRealm |
Koen vagara por terras imersas em
sombras. Como quem desperta de um pesadelo, ele agora pousava diante
daquela encosta enlameada, tendo atrás de si as montanhas
sombrias. Quando criança, soubera o que significava a palavra
"ternura". Dera valor a palavras como essa. Agora, tudo
isso soava-lhe como superstição antiga e já
morta. Koen era outro, seus claros olhos azuis eram envolvidos por
uma frieza impiedosa. A visão da grande montanha imperava em
sua mente. A montanha e a espada. Seu prêmio. Uma lâmina
que lutaria por ele e o serviria como uma amante, como protetora,
como fonte de força. Lorguth. O nome que ocupava todos os seus
pensamentos. "Você é minha, Lorguth".
O forte som do metal chocando-se
fez Koen despertar de seu devaneio. Sua espada já fazia seu
trabalho. Surpreso, descobriu-se empunhando a lâmina negra,
defendendo com perícia o golpe do líder do bando. Um
segundo bandido, com uma lança, veio pelo lado direito e
estocou com energia. Dando um impulso ágil para trás,
Koen tirou o corpo, escapando por um mero instante da afiada estaca,
que perfurou sua capa de um lado a outro. Gingando para a direita,
deixou que a capa fosse destruída, enquanto fazia a espada
deslizar pelo cabo da lança até alcançar o pulso
esquerdo de seu agressor. O corte foi profundo e, enquanto o homem
gritava, Koen puxou o braço do cavaleiro e usou o próprio
inimigo para subir ao cavalo. Terminou seu serviço passando o
fio serrilhado no ventre do bandido, que soltou um grito assustado e
ofegante, enquanto tentava segurar as vísceras que ameaçavam
sair.
Koen, com um muxoxo, jogou o homem
para a esquerda, deixando-o tombar do cavalo, e tomou o seu lugar. Os
outros bandidos olhavam atônitos. Pedaços da capa
rasgada ainda o cobriam parcialmente, mas agora seus agressores
podiam ver que se tratava de um jovem de ombros largos e braços
fortes. Os cabelos negros e lisos eram volumosos e estavam bem sujos
e compridos, cortados de forma irregular na altura dos ombros. Os
olhos, carregados de um azul intenso, transmitiam pura frieza. Seu
rosto era marcante, com uma barba bem rala cobrindo o queixo
estreito, felino. Olhava para seus inimigos como uma fera observa sua
presa.
O homem derrubado do seu cavalo
jazia ao chão, com o sangue a misturar-se na lama. Ainda
atônitos, os homens apenas observavam o rapaz como se fosse um
fantasma, uma sombra amaldiçoada que escolhera brincar com
eles. Mas Koen já movia as rédeas do animal rumo ao
líder. Perplexo, o homem sentiu-se inclinado a fugir,
admitindo que subestimara o jovem misterioso que cavalgava em sua
direção. Mas ainda havia seus homens, seu bando, sua
reputação. Pelo seu orgulho, não fugiria. Partiu
com fúria contra o jovem.
Quando se cruzaram, Koen pôs
sua espada na posição vertical, bloqueando com um
canglor o corte horizontal da lâmina do inimigo. Tirando o
golpe do adversário, ele moveu seu braço num
semicírculo, atingindo com rapidez a nuca do oponente antes
que os cavalos dos dois acabassem de se cruzar. Tudo aquilo ocorrera
em um segundo; logo depois o líder pendia do cavalo,
semi-decapitado.
Koen não se permitiu
observar o derrotado e agonizante inimigo. Girou a lâmina da
espada contra suas costas, do lado esquerdo do cavalo, um movimento
que exigia tanto força quanto perícia. A ponta da
espada foi bater firme no rosto de outro oponente, que tentara pegar
o rapaz pelas costas. O homem ergueu a mão esquerda, que antes
segurava a rédea do cavalo, tentando amparar o corte no rosto.
Koen voltou energicamente sua montaria na direção do
oponente ferido e enterrou a espada em seu peito.
Faltavam somente dois. Um deles
largara sua lança rústica e fugia a galope, enquanto o
outro se mantinha parado, a alguns metros de distância,
segurando debilmente seu arco com mãos trêmulas. Koen
aproximou-se calmamente. Percebeu que era o rapazinho louro e
mirrado. Parecia ser mais jovem que o próprio viajante
cinzento; não deveria ter nem quinze. Seus cabelos eram muito
lisos e escorridos. Tinha a magreza daqueles que sempre trabalharam
duro na vida, mas um rosto belo. Os seus olhos verdes eram dóceis
e mantinham-se atentos, amedrontados. Mas isso não seria
problema para Koen se tivesse que matá-lo.
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