segunda-feira, setembro 03, 2012

Seridath - Parte I de II

Ir para A Espada - Parte II de II

Fonte: AutoRealm



Koen vagara por terras imersas em sombras. Como quem desperta de um pesadelo, ele agora pousava diante daquela encosta enlameada, tendo atrás de si as montanhas sombrias. Quando criança, soubera o que significava a palavra "ternura". Dera valor a palavras como essa. Agora, tudo isso soava-lhe como superstição antiga e já morta. Koen era outro, seus claros olhos azuis eram envolvidos por uma frieza impiedosa. A visão da grande montanha imperava em sua mente. A montanha e a espada. Seu prêmio. Uma lâmina que lutaria por ele e o serviria como uma amante, como protetora, como fonte de força. Lorguth. O nome que ocupava todos os seus pensamentos. "Você é minha, Lorguth".
O forte som do metal chocando-se fez Koen despertar de seu devaneio. Sua espada já fazia seu trabalho. Surpreso, descobriu-se empunhando a lâmina negra, defendendo com perícia o golpe do líder do bando. Um segundo bandido, com uma lança, veio pelo lado direito e estocou com energia. Dando um impulso ágil para trás, Koen tirou o corpo, escapando por um mero instante da afiada estaca, que perfurou sua capa de um lado a outro. Gingando para a direita, deixou que a capa fosse destruída, enquanto fazia a espada deslizar pelo cabo da lança até alcançar o pulso esquerdo de seu agressor. O corte foi profundo e, enquanto o homem gritava, Koen puxou o braço do cavaleiro e usou o próprio inimigo para subir ao cavalo. Terminou seu serviço passando o fio serrilhado no ventre do bandido, que soltou um grito assustado e ofegante, enquanto tentava segurar as vísceras que ameaçavam sair.
Koen, com um muxoxo, jogou o homem para a esquerda, deixando-o tombar do cavalo, e tomou o seu lugar. Os outros bandidos olhavam atônitos. Pedaços da capa rasgada ainda o cobriam parcialmente, mas agora seus agressores podiam ver que se tratava de um jovem de ombros largos e braços fortes. Os cabelos negros e lisos eram volumosos e estavam bem sujos e compridos, cortados de forma irregular na altura dos ombros. Os olhos, carregados de um azul intenso, transmitiam pura frieza. Seu rosto era marcante, com uma barba bem rala cobrindo o queixo estreito, felino. Olhava para seus inimigos como uma fera observa sua presa.
O homem derrubado do seu cavalo jazia ao chão, com o sangue a misturar-se na lama. Ainda atônitos, os homens apenas observavam o rapaz como se fosse um fantasma, uma sombra amaldiçoada que escolhera brincar com eles. Mas Koen já movia as rédeas do animal rumo ao líder. Perplexo, o homem sentiu-se inclinado a fugir, admitindo que subestimara o jovem misterioso que cavalgava em sua direção. Mas ainda havia seus homens, seu bando, sua reputação. Pelo seu orgulho, não fugiria. Partiu com fúria contra o jovem.
Quando se cruzaram, Koen pôs sua espada na posição vertical, bloqueando com um canglor o corte horizontal da lâmina do inimigo. Tirando o golpe do adversário, ele moveu seu braço num semicírculo, atingindo com rapidez a nuca do oponente antes que os cavalos dos dois acabassem de se cruzar. Tudo aquilo ocorrera em um segundo; logo depois o líder pendia do cavalo, semi-decapitado.
Koen não se permitiu observar o derrotado e agonizante inimigo. Girou a lâmina da espada contra suas costas, do lado esquerdo do cavalo, um movimento que exigia tanto força quanto perícia. A ponta da espada foi bater firme no rosto de outro oponente, que tentara pegar o rapaz pelas costas. O homem ergueu a mão esquerda, que antes segurava a rédea do cavalo, tentando amparar o corte no rosto. Koen voltou energicamente sua montaria na direção do oponente ferido e enterrou a espada em seu peito.
Faltavam somente dois. Um deles largara sua lança rústica e fugia a galope, enquanto o outro se mantinha parado, a alguns metros de distância, segurando debilmente seu arco com mãos trêmulas. Koen aproximou-se calmamente. Percebeu que era o rapazinho louro e mirrado. Parecia ser mais jovem que o próprio viajante cinzento; não deveria ter nem quinze. Seus cabelos eram muito lisos e escorridos. Tinha a magreza daqueles que sempre trabalharam duro na vida, mas um rosto belo. Os seus olhos verdes eram dóceis e mantinham-se atentos, amedrontados. Mas isso não seria problema para Koen se tivesse que matá-lo. 

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