Imagem: Pixabay |
Agarro com força o fio. Lá no alto, outra parte de mim, mesmo que emprestada, anseia liberdade. Projeto na armação de taquara e papel uma existência encantada, tão minha, embora seja, para mim, impossível de controlar.
O fio tem cerol, alguns me advertem. Ignoro. Não porque seja daqueles intrépidos, alheios ao perigo. Creio que um misto de medo de decepcionar as outras crianças e descuido fazem com que eu segure o fio com força demais.
É assim que uma rajada de vento mais forte puxa pra longe a pipa e eu aumento a força, tentando reter a linha. Ela desliza na minha mão, quase sem doer.
Mais pelo choque, que pela dor, largo a linha. Pipa e carretel se vão, agora posse do vento.
Já sentindo um pouco órfão da brincadeira, olho para a palma da minha mão direita. Agora ela tinha um risco de lado a lado, oblíquo. Observava o risco vermelho, fascinado, como quem olha um labirinto de apenas um caminho. Aquele fio havia ficado em mim.
Não imaginava como esse fio iria doer fundo, mais tarde, naquele mesmo dia. E ainda dói hoje, ainda dói.
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