Balgata praguejou mais uma vez.
Não era de seu feitio ou de sua criação dizer
palavras chulas, mas achava que, afinal, o ímpeto do sangue
estrangeiro de seu pai começava a falar mais alto. Ele também
ignorava o que acontecia em outros pontos de Keraz, mas tinha certeza
que ali onde estava pouco podia piorar. Aquilo tudo estava uma
tremenda desgraça. Cuspindo novamente para afastar a má-sorte,
o único capitão ainda de pé segurou com mais
força a espada que tinha na mão esquerda. Não
era canhoto, mas tinha mais força no braço esquerdo. Na
verdade, poderia lutar com qualquer uma das mãos, esse era um
de seus talentos. Balgata ainda era jovem, no frescor de seus 22
anos, e mantinha uma aparência impecável. Era o mais
novo dos três capitães, o mais inexperiente, e aquela
porcaria de missão era a primeira naquele posto.
Balgata, porém, era um
ex-soldado de Dhar e tinha uma boa experiência militar. Servira
com Murrough e tinha grande admiração por seu antigo
superior. Buscava sempre seus conselhos, fossem eles sobre ações
militares ou coisas triviais, como mulheres, bebidas e armas. O jovem
capitão vinha de uma família de mercadores dos reinos
litorâneos a oeste, além de Gaeramont, a cadeia de
montanhas que divide o continente. Seu pai era um misterioso pirata
que saqueara e queimara sua cidade natal. Desse ato de pirataria
nasceram muitos bastardos, dentre eles um forte menino que recebera o
nome Balgata, que na língua primitiva significava "golpe
mortal". Fora criado por tutores, longe de sua família,
por ser considerado uma desonra para sua mãe, que nunca
conseguira um casamento.
Sendo um homem de posses, o avô
de Balgata o enviou ainda jovem para a grande cidade de Nintra, para
que ele aprendesse um ofício de artesão. Filho bastardo
e de uma família que, mesmo influente, era plebéia, ele
cresceu recebendo doses regulares de desprezo alheio. Principalmente
porque puxara os cabelos vermelhos e a compleição
robusta dos saqueadores estrangeiros.
Mas por ser um rapaz disciplinado
e talentoso, logo Balgata percebeu que teria que fazer seu próprio
destino. Fugiu de seu tutor em uma noite de verão, unindo-se a
uma caravana de artistas que rumava a leste. Após meses de
jornada, fazendo pequenos trabalhos para a trupe, o rapaz chegou ao
belo e verdejante reino de Dhar. A primeira visão que Balgata
teve foi das torres brancas de Sathal, brilhando ao sol primaveril.
Em seguida, os portões da cidade se abriram e de lá um
magnífico exército marchou, com toda a sua glória
de flâmulas e estandartes. Naquele momento, Balgata decidiu seu
destino. Seria soldado até envelhecer ou morrer em batalha.
Meticuloso, dedicado e
responsável, o jovem acumulou recomendações e
prêmios em sua carreira no exército, até
descobrir que não chegaria longe, por não ter uma
ascendência privilegiada. O posto máximo para alguém
como ele seria o de tenente e isso foi fácil conseguir. Quando
Murrough, seu capitão, aposentou-se e chamou-o para buscar
fortuna, Balgata não pensou duas vezes. Deu baixa de suas
obrigações militares e seguiu seu capitão. "E
foi nessa merda que o senhor me meteu, capitão." murmurou
Balgata, entredentes. Sempre soube que Murrough não tinha lá
uma cabeça muito boa mas, diabos, ele adorava aquele homem.
Para o jovem, seu antigo capitão era como o pai que ele nunca
teve.
Aquele não era momento para
nostalgia, pois seus homens morriam por todos os lados. Havia perdido
a conta de quantas daquelas coisas ele havia abatido, mas tinha
certeza que haveria bem mais delas. Quando a chuva de dardos pegou-os
de surpresa, o jovem capitão havia conseguido dar ordens que
mantivessem seus homens agrupados e seguros. Sua bateria de arqueiros
havia repelido tanto os monstros cuspidores de dardos quanto os
zumbis que marchavam. Começaram a acreditar que aquela divisão
levaria a vitória para a Companhia. Mas então o
desastre aconteceu. Uma sombra esquisita postou-se sobre a paliçada,
mesmo crivada de flechas. Era um ser humanóide, com um
peitoral de placas rebitadas e sem elmo. Segurava duas espadas curvas
em suas mãos e gritava em ameaça, enquanto seu rosto se
contorcia, disforme. Bocas e olhos misturavam-se naquela face
escurecida. Aquilo perturbou a todos. Balgata ordenou que os
arqueiros arrancassem aquela coisa do alto da paliçada, mas
todos hesitavam.
A “coisa” então abriu
uma bocarra enorme, repleta de dentes pontiagudos, e soltou um berro
lancinante. Todos os homens tamparam os ouvidos e alguns desmaiaram.
A criatura explodiu em seguida, fazendo uma brecha considerável
na paliçada, de onde entraram gritando outras criaturas como a
primeira.
Continua...
Adorei Sam! Fiquei curiosa pela continuação :3
ResponderExcluirBeijão.
Oi, tudo bom?
ResponderExcluirAdorei o texto.. Tem um quÊ de Jon Snow com Brienne, não sei porque.
Adorei a criação desse mundo imaginário, mas fiquei um pouco confura no início...
Parabéns!
Tem post novo lá no blog!
Beijão
endless-poem.blogspot.com.br