quarta-feira, agosto 08, 2012

Um Mundo em meus braços

Algazarra. Vozes infantis se alternam, enchem o ambiente. É como uma melodia improvisada para me recepcionar. Os sorrisos brilham através dos olhos infantis. Sorrisos que esbanjam venturosa inocência.

Sou visita, mas é como se fosse de casa. Ali, o que dita a regra é o pertencimento, o afeto. Meus braços são levados ao limite; as três crianças querem colo, embalo, atenção. Meu nome é gritado e repetido por vozes que não cessam enquanto não forem atendidas. Minha alegria é temperada pelo desafio que beira o desespero. Se pudesse, embarcaria o mundo todo com estes braços. Três mundos inteiros, particulares, que passeiam entre a agitação vulcânica e a paz idílica.

As brincadeiras são interrompidas quando o dono da casa chega, trazendo o lanche. Momentos de oração, de compartilhamento. O alimento passa de mão em mão, como naquela antiga Ceia. Uns cuidam dos outros, servindo o pão, o café quente e forte, o achocolatado.

Barrigas cheias fornecem a energia para uma segunda rodada de algazarra. Pezinhos tão pequenos dançam, sapateiam, enquanto as mãos se erguem, criando coreografias repletas da graça infantil.

Subitamente, o dono da casa decreta: hora de dormir. Ordem dada não é necessariamente ordem cumprida. Até dormir se torna brincadeira para os três pequenos, que deitados resistem ao sono com risos e cochichos. Não param um momento sequer. A cama é pequena para os três e eles usam o espaço limitado para continuar a bagunça.

Tomo nos braços a menor deles, um toquinho que ainda não fez dois anos. Ela como que imediatamente se aquieta, enquanto conversamos de um jeito só nosso.Ela mostra para mim toda a sua curiosidade, repetindo com diligência os nomes dos objetos à nossa frente à medida que eu os pronuncio. Sinto meu peito tremer de ternura e gratidão por participar dessa singela exploração, nós dois tateando o espaço através das palavras. Vasculhamos o céu, conhecendo as estrelas. Ela diz de repente que a lua não veio, ninguém "a trouxe".

Começo a cantar para ela. Embalada pelo som de minha voz, ela adormece. E meus olhos se umedecem ao vislumbrar aquele pedacinho de gente, um mundo inteiro traduzido num nome. Naquele instante, um mundo adormece em meus braços.

3 comentários:

  1. Bonito demais, Samu...
    Imagino quando você estiver nos braços o seu filho... Muita beleza ainda está por vir. Que assim seja.

    ResponderExcluir
  2. Parabens, Samuel, não sabia que vc tb tinha esse dom da escrita, dentre tantos outros. O texto é lindo. Mande-nos outros.

    ResponderExcluir
  3. Lourdinha Viana11:26 PM

    Que delicioso relato...retrato escrito de momentos entre amigos , entre parentes. E que jeito bom que vc tem de descrever uma cena, cheia de sons e risos mas principalmente cheia de intimidade.

    ResponderExcluir