Algazarra. Vozes infantis se alternam, enchem o ambiente. É como uma melodia improvisada para me recepcionar. Os sorrisos brilham através dos olhos infantis. Sorrisos que esbanjam venturosa inocência.
Sou visita, mas é como se fosse de casa. Ali, o que dita a regra é o pertencimento, o afeto. Meus braços são levados ao limite; as três crianças querem colo, embalo, atenção. Meu nome é gritado e repetido por vozes que não cessam enquanto não forem atendidas. Minha alegria é temperada pelo desafio que beira o desespero. Se pudesse, embarcaria o mundo todo com estes braços. Três mundos inteiros, particulares, que passeiam entre a agitação vulcânica e a paz idílica.
As brincadeiras são interrompidas quando o dono da casa chega, trazendo o lanche. Momentos de oração, de compartilhamento. O alimento passa de mão em mão, como naquela antiga Ceia. Uns cuidam dos outros, servindo o pão, o café quente e forte, o achocolatado.
Barrigas cheias fornecem a energia para uma segunda rodada de algazarra. Pezinhos tão pequenos dançam, sapateiam, enquanto as mãos se erguem, criando coreografias repletas da graça infantil.
Subitamente, o dono da casa decreta: hora de dormir. Ordem dada não é necessariamente ordem cumprida. Até dormir se torna brincadeira para os três pequenos, que deitados resistem ao sono com risos e cochichos. Não param um momento sequer. A cama é pequena para os três e eles usam o espaço limitado para continuar a bagunça.
Tomo nos braços a menor deles, um toquinho que ainda não fez dois anos. Ela como que imediatamente se aquieta, enquanto conversamos de um jeito só nosso.Ela mostra para mim toda a sua curiosidade, repetindo com diligência os nomes dos objetos à nossa frente à medida que eu os pronuncio. Sinto meu peito tremer de ternura e gratidão por participar dessa singela exploração, nós dois tateando o espaço através das palavras. Vasculhamos o céu, conhecendo as estrelas. Ela diz de repente que a lua não veio, ninguém "a trouxe".
Começo a cantar para ela. Embalada pelo som de minha voz, ela adormece. E meus olhos se umedecem ao vislumbrar aquele pedacinho de gente, um mundo inteiro traduzido num nome. Naquele instante, um mundo adormece em meus braços.
Bonito demais, Samu...
ResponderExcluirImagino quando você estiver nos braços o seu filho... Muita beleza ainda está por vir. Que assim seja.
Parabens, Samuel, não sabia que vc tb tinha esse dom da escrita, dentre tantos outros. O texto é lindo. Mande-nos outros.
ResponderExcluirQue delicioso relato...retrato escrito de momentos entre amigos , entre parentes. E que jeito bom que vc tem de descrever uma cena, cheia de sons e risos mas principalmente cheia de intimidade.
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