As luzes de néon atravessam as persianas transversais que
tampam parcialmente a janela do quarto de hotel. O ambiente sombrio é banhado
por irregulares raios multicores. Uma música latina toca do mesmo local de onde
partem as luzes: o cassino Trevo Verde. Um homem permanece deitado no chão
do quarto. Várias garrafas de wisky barato estão vazias, espalhadas ao seu
redor. Caixas de antidepressivos amontoam-se sobre o criado-mudo ao lado da
cama. Do outro lado do quarto, em frente à cama, uma escrivaninha. Uma carta
endereçada a certa mulher havia sido embolada e depois aberta sobre a
superfície de madeira. O homem continua inerte, está nu, de bruços. Ele é
careca, aparenta ter entre quarenta e quarenta e cinco anos e seus traços são
ordinários. Deve ter uns setenta e cinco quilos, e cerca de um e setenta de
altura. Não respira, está morto. A carta, amarrotada e borrada, com frases
riscadas, tem apenas algumas palavras: “O que fiz, fiz por ti, apesar de teu
procedimento. Adeus.” Na primeira gaveta da escrivaninha, uma foto de família.
O homem, uma mulher de traços índios e cabelos crespos, uma menininha
sorridente. Na segunda, uma arma junto à carteira da Polícia Civil. Na última,
um comprovante de depósito.
Na manhã seguinte, a manchete:
– Ganhador da Mega-Sena
suicida-se em hotel da Capital.
sempre quando leio algo assim tão sombrio, me pergunto da onde teria vindo a inspiração para isso...
ResponderExcluirMesmo sendo uma história trágica, eu me encantei com a sua forma de descrever as coisas e montar a cena. Foi como estar sentada ao lado dele.
ResponderExcluirCruzes! Estou aqui... passada depois de ler isso tudo. Achando que havia traição por parte de alguém e me deparando com um momento de surto.... Mas pra que isso, Nerito? (risadas nervosas) Pra que o cara foi se matar?
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