quarta-feira, abril 18, 2012

Literatura e (f)utilidade

Auditório lotado. É momento de silêncio descontraído. Espocam aqui e ali cochichos discretos. Todos esperam que o famoso escritor Ricardo Azevedo comece sua fala.
De um jeito que passeia entre o brincalhão e o tom professoral, ele desfia sua prosa. Como se fosse íntimo da plateia, chama todos para uma maior proximidade, para uma conversa franca. Sua voz quase deixa o público com a sensação de estar sentado à sala de visitas, para um cafezinho. 
Falando do que lhe é comum, Ricardo comenta sobre a diferença entre a cultura oral e a moderníssima atualidade. Comenta sobre a improvisação, algo comum às sociedades orais, enquanto a sociedade moderna tem tudo planejado, sob medida.
Assim, o escritor define: vivemos num mundo de simulacros, dominado pela técnica e pela especialização exagerada. E assim produzimos um sujeito também sob medida, que irá consumir produtos feitos exclusivamente para ele. Uma corrida rumo ao consumo. Infelizmente, a literatura acaba sendo julgada com esses mesmos padrões. Assim, o mercado busca ditar o que deve ser escrito. Um texto que provoque o descompasso é julgado inconveniente, pois, como acreditam alguns educadores, literatura também deve ter utilidade.
Com uma sutil ironia, Azevedo defende que a literatura não deve ter utilidade nenhuma. Não que ele acredite na inutilidade do texto literário, longe disso. Assim como as demais linguagens artísticas, a literatura é algo inerente ao ser humano, sendo um espaço para realização e reconhecimento de si mesmo e do outro. A literatura é um espaço para a reflexão, para a possibilidade de tocarmos o infinito que é o outro.
Ao encerrar, o escritor recorre à poesia, citando textos que se sustentam, sem a necessidade de justificativas para sua existência. Ao recitar o belo e inesquecível poema "Os dois lados", de Murilo Mendes, Ricardo Azevedo evoca o que talvez exista de mais belo e frutífero no ser humano: sua indefinição.

Este relato foi produzido em questão da conferência de abertura do 7º Beagalê - Leituras e escritas incômodas, realizado em Belo Horizonte, no dia 17 de abril de 2012.

4 comentários:

  1. Oi CMachado, o que ele quis dizer é que muitos educadores em geral defendem uma destinação educacional para literatura. Essa visão, muitas vezes, norteia a escolha de livros para compra em escolas. E essa não é uma fala do Ricardo Azevedo, é conhecimento geral. Abraço!

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  2. Nerito... quanto ao filme O Leitor... perfeita definição... é um filme tocante... mas que me deixa meio que sem palavras para desrever os sentimentos que despertou em mim!!

    Estrnho né... que as vezes, algo de que a gente gosta muito, ou que mexe muito com a gente, nos deixe sem palavras....

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  3. Enquanto isso, aqui em Brasília ocorre vários eventos por conta da 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura. Tivemos seminários bem interessantes na parte do Plano Nacional do Livro e da Leitura, sobre o quão é importante a leitura, o papel dos professores e das pessoas como mediadores e agentes literários e mais um bocado de coisa que eu passaria horas escrevendo. Bom.. de qualquer forma \o/ Obrigada pela leitura sempre diferenciada e chamativa que você nos oferta ;)

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  4. Poxa, que legal, amiga Tyr. Em BH, teremos em breve a Bienal do Livro de Minas. Será mais para o final de Maio e estarei em um estande por lá! Abraço!

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