Quem foram nossos ancestrais? O que fizeram? Como viveram? Se fosse possível traçar nossas árvores genealógicas e resgatar a história de cada pessoa nelas, o que descobriríamos? Encontraríamos atos heroicos ou crimes hediondos? Será que nos arrependeríamos de buscar as histórias dessas pessoas?
O romance Água de barrela talvez tenha surgido de alguma das perguntas acima. Escrito por Eliana Alves Cruz, este romance histórico é um primoroso trabalho de pesquisa histórica e criação literária. De início, não sabia o que era barrela. Posteriormente, soube que é uma mistura feita para alvejar as roupas, usado pelas mulheres escravizadas para lavar as roupas de seus senhores. Após a declaração da abolição, essas mesmas mulheres continuaram nesse trabalho, como se esse fosse o destino inevitável para elas.
O livro me encantou já de início, quando vi árvore genealógica que vai de Ewá (Helena), passando por Anolina, Martha, Damiana, Celina, até chegar à Eliana, a autora desse romance histórico que mostra o Brasil a partir da Bahia e das vidas de uma família marcada pela escravização.
Enquanto lia, meus olhos da mente criavam imagens de um país que se transformou de um império colonial a uma república de fachada, como se os tais valores republicanos nada mais fossem do que a tinta que caia um sepulcro. Afinal, essa democracia tão defendida pelos maiores intelectuais brasileiros não alcançou a grande maioria da população, que continuou vítima da exploração, da violência e do preconceito.
Com o objetivo de ultrapassar as barreiras sociais e alcançar ainda que o mínimo de liberdade e dignidade, uma família recorreu à educação. Apesar disso, foi a duras penas e muita roupa lavada que as matriarcas Martha e Damiana foram mudando os destinos dessa família.
Foi através desse livro que conheci Juliano Moreira, médico, um dos maiores do seu tempo. E negro. também conheci Matheus Cruz, grande mecânico, que até os 83 anos lecionava no Liceu Artes e Ofícios.
Mas esse livro é principalmente sobre mulheres. Sobre Martha e Damiana, que vendendo quitutes e lavando roupas foram buscando um futuro melhor para as filhas. Sobre Dodó, explorada até a morte pelo mesmo clã que no passado escravizou, torturou e estuprou suas ancestrais. É sobre Celina, corajosa professora, capaz de enfrentar o risco do cangaceiro Lampião, sem no entanto esmorecer.
Ao terminar o romance, senti culpa por minha branquitude, pelos privilégios estruturais que carrego na minha pele. Senti tristeza por saber que o país continua matando jovens negros. Senti também uma profunda comoção ao ver a justiça de Xangô, que nos descendentes de Ewá, Anolina, Martha, Damiana e Celina elevou essas heroínas, imortalizando-as nesse livro potente e profundo.
Ficha Técnica
Água de barrela
Eliana Alves Cruz
ISBN-13: 9788592736408
ISBN-10: 8592736404
Ano: 2018
Páginas: 322
Idioma: português
Editora: Malê
Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/agua-de-barrela-743875ed834219.html
Acredito que seja um romance interessantíssimo de ler.
ResponderExcluir.
Feliz fim-de-semana. Abraço e/ou beijinho.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
Oi Samuel, tudo bem?
ResponderExcluirUau. Senti o impacto, viu?
Essa dica veio num momento ótimo, porque as pessoas olham mais pra questão racial em novembro. O problema é que, como sociedade, precisamos olhar pra isso todos os dias, e não apenas agora. Existe um abismo entre onde estamos e a verdadeira igualdade. :(
Beijos,
Priih
Infinitas Vidas
Oie, esse eu ainda não conhecia, mas me deixou curiosa.
ResponderExcluirBjs
Imersão Literária
Boa tarde meu querido amigo. Obrigado pela dica. Bom início de semana.
ResponderExcluirVou guardar a sugestão.
ResponderExcluirIsabel Sá
Brilhos da Moda