Quem deveria lutar pela justiça persegue a liberdade. Quem deveria investigar de forma transparente e objetiva tem sido vetor de comportamentos intimidadores e repressivos. Quem deveria defender a democracia contra os fascistas tem se unido a eles. Agora eu me pergunto: Quando ser antifascista foi algo ruim?
Quando pequeno, escutava sobre meu avô, que lutava por justiça social, que se mobilizou para que os direitos de seus colegas ferroviários fossem assegurados e protegidos. Em 1964, meu avô, Nestor Antônio Medina, foi preso. Felizmente, ele retornou, mas nunca disse uma palavra sobre o que passou na prisão.
Meu avô não foi considerado perigoso o suficiente para ser morto. Não foi considerado perigoso o suficiente para ser deportado. Simplesmente continuou aqui, arrastando suas cicatrizes, bem como as cicatrizes de sua esposa, Maria da Conceição Santos Medina, e de suas filhas e filhos.
De repente, começo a escutar sobre pessoas que assumem um discurso que criminaliza quem se posiciona como antifascista. Acho que essas pessoas, ou não entendem o sentido de ser antifa, ou simplesmente são mal-intencionados o suficiente para distorcer discursos e forjar falsas verdades.
Agora, se você se identifica com essas pessoas, posso dizer com todas as letras que você é um mau-caráter. Não adianta tentar inverter os papeis. Quem faz pose de "arminha" e defende a pena de morte é tão horrível quanto esse presidente assassino que governa nosso país.
Esta crônica foi escrita inspirada na nota abaixo:
"10 DE JUNHO DE 2021 - 17:57 #Liberdade De Expressão #Nota Pública
Na tarde desta quinta-feira, 10, quatro professores e cinco estudantes da Universidade Estadual do Ceará (UECE) foram intimados a comparecer à Unidade de Polícia Federal para prestar esclarecimentos sobre ação que apura 'atos antifascistas', 'organização de polícia ideológica' e 'perseguição [a grupos] por serem cristãos, bolsonaristas e não quererem declarar voto no candidato do Partido dos Trabalhadores', supostamente ocorridos em 2018.
A ação acontece desde o referido ano, e o Ministério Público Federal já afirmou não existir viabilidade na acusação. No entanto, o inquérito ainda não foi arquivado.
Nesse contexto, a UECE manifesta incondicional apoio institucional aos professores e aos estudantes que estão sendo alvo dessa intimação que fere a liberdade de expressão e de 'aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber' (Constituição Federal, Art. 206).
Os professores intimados, em momento algum, perseguiram alunos por terem posicionamentos divergentes, pois é exatamente em virtude dessas diferenças e do livre debate de ideias que a ciência se constrói. Na verdade, discussões e posicionamentos diversos são os pilares da academia.
Em tempos de obscurantismo e de retrocessos, comprometemo-nos, obviamente, com a verdade dos fatos e reiteramos nosso compromisso com a democracia, com a autonomia universitária – a nós garantida pela Constituição Federal – e com o Estado Democrático de Direito, além de apoiarmos incondicionalmente os membros de nossa comunidade acadêmica nessa luta.
Iluminando caminhos, seguimos firmes em defesa da democracia."
http://www.uece.br/noticias/nota-publica-em-defesa-da-liberdade-de-expressao/
Nenhum comentário:
Postar um comentário