O menino chega a um corredor de livraria. Não sabe como chegou lá. Apenas lembra que atravessou morros verdes, repletos de tons alourados pelo sol entre nuvens brancas. Horas de viagem, observando a paisagem por dentro de uma janela embaçada.
Outra lembrança: mãos enormes, morenas, segurando a pequena mão do menino, guiando seus passos trôpegos e fracos de criança adoentada. Criança acostumada a crescer encolhida em espaços pequenos, escondida em cantos silenciosos onde pudesse deixar sua mente mais livre que suas pernas. Uma criança que várias vezes foi repreendida por abrir portas de papel, repletas de escrituras.
Agora o menino se vê entre essas estantes. De ambos os lados livros parecem quase tocar o céu, tão alto chegam nas prateleiras. Um livro em especial chama a atenção de seus pequenos olhos: Na capa, um garotinho segura uma espada, enquanto uma menina está ao seu lado. Ao fundo, um cavaleiro de armadura completa domina a paisagem.
O menino não sabe, mas seus olhos brilham de entusiasmo. É aquela porta que procura, tem quase certeza! Ninguém sabe, mas o menino busca essa porta há anos, desde que havia conhecido a história de uma borboleta apaixonada por um grilo; desde que viajara para um sítio divertido e repleto das mais incríveis criaturas. Essas visitas a cada um desses mundos deixavam o menino extasiado, mas ele sabia que não pertencia a esses lugares. Queria encontrar o lugar a ele destinado. Talvez aquela seja a porta!
Ao depositar, esperançoso, o livro sobre as mãos morenas, uma decepcionante surpresa: Não pode! Esse livro, não! Está cheio de imagens perigosas para uma criança, seres "malignos". O menino não acredita, sabe que, por maiores que sejam aquelas mãos morenas, elas não sabem tudo. Mas o menino deixa passar e silenciosamente aceita.
Os anos passam. Muitos. O menino cruza montes verdejantes inúmeras vezes. Viaja a diversos outros mundos e, por suas próprias forças, busca encontrar aquele mundo para si. Ainda tem esperança.
Um dia, descobre em uma biblioteca secreta não só aquele livro desejado, mas outros seis! Seis livros incríveis, seis portas mágicas que o guiam para uma outra porta: um guarda-roupa. E por anos o menino vive entre mundos, feliz. Demora a descobrir que esse mundo não é somente dele, mas de muitos outros. Descobre também que não precisa passar somente pelo bosque dos lagos, mas pode circundar o canto do quarto e chegar ao Lugar do Meio. Sem falar naquele misterioso Castelo que nunca fica parado!
O menino acaba também por descobrir que não são sete livros que podem levá-lo a Seu Mundo, mas muitos outros. Muitos.
Sem perceber, esse mesmo menino continua a buscar. Ele impulsiona o homem a continuar atravessando os morros verdejantes, mesmo que eles se tornem cinzentas montanhas. Ele está chegando lá, ao seu Mundo, aquele que o espera além das fronteiras do Sonho.
Este post faz homenagem aos autores: Lúcia Machado de Almeida, Monteiro Lobato, C.S. Lewis e Diana Wynne Jones, que fizeram da criança a parte mais importante do homem.
Ah, meu caro! Que bela homenagem a um dia que habita dentro de nós, por mais que os adultos tendem a negar. Livros, sempre nos impulsionam, nos levam às portas mágicas que gostamos de visitar. Alguns despertam mais tarde, outros despertam mais cedo, mas acho que todos despertam um dia...
ResponderExcluirAbraços de sua amiga, que resolveu postar algo em um local que já foi verdejante, mas que agora se encontra em locais obscuros.
PS: Creio que o Seanchai, está se tornando um desafio tão grande quanto Alice me era desafiadora.
Teve uma menina que também foi privada, por um tempo, de livrosd e magia... diziam que isso não era coisa que devia ser lida... mas a menina cresceu e agora pode escolher os livros que lê e os mundos pelos quais viaja!! ;o)
ResponderExcluirown mais que linda homenagens Nerito ! *-* , amei :3 .. rs' .
ResponderExcluirBjim.