Após perceber o erro de uma atitude temerária, Kain deposita toda as suas esperanças em um possível apoio do Bibliotecário...
O Bibliotecário causou forte impressão logo que Kain o viu. Era um homem alto e magro, de nariz adunco e o cabelo cinzento que denunciava o loiro dos anos verdes. Para o homem mais poderoso do lugar, tinha um olhar bem franco, quase bondoso. Mas o que surpreendia Kain era o ar de familiaridade que aquele senhor lhe lançava. O Bibliotecário assentiu levemente e saudou o viajante.
“Bem-vindo, senhor forasteiro. Ainda que o senhor ignore, alguns dos Príncipes desta cidade estão devidamente informados de sua chegada. Está de posse da insígnia?”
Apesar de Kain ter ficado levemente surpreso, aquilo era de se esperar dos chamados “grandes” da Cidade. Lembrando-se da recomendação de Marília, o viajante logo pôs-se de joelhos.
“Distinto senhor,” começou a dizer, enquanto estendia o medalhão, “apresento-me em busca de um trabalho. Não desejo me vangloriar, mas disponho de talentos que seriam no mínimo interessantes ao senhor e à Biblioteca.”
Em sua pose distinta, porém simpática, o Bibliotecário caminhou pausadamente até tocar o medalhão. O objeto começou a brilhar, como se aquecido e, num instante, desfez-se em fagulhas luminosas. O austero senhor fez um muxoxo e soltou um discreto murmúrio de satisfação.
"Creio que no caminho até este recinto o senhor tenha visto o número de trabalhadores à minha disposição. Não preciso de mais um, por mais talentoso que seja."
Era curioso, mas Kain já imaginava resposta como aquela. Fez menção de ficar de pé, mas o Bibliotecário tocou seu ombro, indicando que o viajante deveria continuar naquela posição incômoda. Pelo visto, o líder da Biblioteca ainda não havia acabado.
“No entanto, o cargo de intendente está vago e não acredito que um daqueles idiotas lá de baixo estejam aptos a assumi-lo. A insígnia que o senhor viajante trouxe revela uma procedência de qualidade incontestável. Acredito, portanto, ser interessante recebê-lo como aprendiz, até que seu prazo na cidade acabe. Se eu aprovar o trabalho, o cargo será seu."
Não deixava de ser uma surpresa, mas Kain manteve-se impassível. O Bibliotecário deu rápidas instruções para que o guia levasse o viajante para os aposentos que ele ocuparia temporariamente. O grave funcionário da Biblioteca foi silenciosamente seguido até uma pequena saída de serviço, escondida em uma extremidade do recinto, onde se via a entrada para uma escada em espiral. Kain ainda olhou para trás uma vez, para observar o ar melancólico da filha do Bibliotecário. Marília era como um dos títulos guardados naquele edifício. Um daqueles tomos com capa bordada e repleto de iluminuras. Inalcançável. Balançando a cabeça para afastar esses pensamentos, Kain tratou se seguir seu guia até o recinto a ele destinado.
Era uma cela minúscula, contendo uma cama rústica com o colchão e cobertor grosseiros, uma pequena mesa de canto e um castiçal para uma só vela. Não havia janelas. Era tudo bem simples, mas bastava para Kain. O viajante foi deixado sozinho após um grave cumprimento do guia. Sobre a pequena mesa, havia uma tigela de caldo, um copo de leite e pão fresco. Era estranho, parecia que ele já era aguardado.
Sempre desconfiado, chegou a ponderar se haveria veneno nos alimentos. Testou-os com magia e não encontrou alteração. Deu de ombros. Afinal das contas, havia dois dias que não tinha uma refeição decente e desde a sua chegada à Cidade Suspensa não comera nada. Seu corpo doía pela noite mal dormida, cochilando sentado no bonde noturno. Cansado demais para mais desconfianças, Kain comeu com voracidade para, em seguida, desabar na cama e entregar-se a um sono sem sonhos.
Caro amigo, atente-se à seguinte parte:
ResponderExcluirEra ima cela minúscula
Creio que tu quiseste colocar:
Era uma cela minúscula
Tirando isso, o resto está perfeito como sempre.
Já te disse que amo esta tua novela (romance) e que sempre estou de olho para ler a próxima parte. No mais, avisar-te-ei quando escrever a próxima parte do Seanchaí.
Abraços,
Tyr Quentalë
:o)
ResponderExcluirEi Tyr, obrigado pela dica! Meus olhos as vezes me enganam. Ontem fiquei debruçado sobre esse texto várias vezes...
ResponderExcluirIh... esqueci de perguntar. Vocês já votaram lá na enquete? Estou querendo descobrir o personagem mais amado de 'A Cidade Suspensa'!
ResponderExcluirOla!
ResponderExcluirParabéns pelo blog e pelas postagens "A Cidade Suspensa".
Comecei a ler um pedacinho da Parte X... nem terminei... fui logo, correndo, ver a Parte I.
Nossa!
Li todas, uma atrás da outra, até essa última...
Simplesmente fantástica essa saga...
Vc escreve muito bem. Prende a atenção.
Vou lendo e imaginando a cena como em um filme...
Muito bom realmente :)
Não vejo a hora de poder ler o próximo "capítulo"...
Abraço!
Explica aqui para essa leitora ignorante o que quer dizer "loiro dos anos verdes".
ResponderExcluir"Era um homem alto e magro, de nariz adunco e o cabelo cinzento que denunciava o loiro dos anos verdes."
Oi, Vagando no Espaço! Puxa, obrigado pelo comentário e espero que você curta os próximos capítulos. Faltam apenas 5 para o fim desta história. Abraços!
ResponderExcluirOi Dora! Significa que apesar de grisalho, o Bibliotecário tinha cabelos loiros durante sua juventude (os anos verdes). Abração!
ResponderExcluirSeguinte, não sei se foi meu bom humor matinal, mas esse texto me pareceu o melhor e mais bem articulado dos capítulos da cidade suspensa.
ResponderExcluirAquela proposta que você fez realmente acordou alguma coisa muito boa dentro de você, companheiro (veadagens à parte).
Oi Nerito,
ResponderExcluireu já votei na enquete, infelizmente meu personagem favorito está perdendo para um chinês bem malandro. kkkkk Acho que nem preiso contar que personagens aparentemente frágeis não fazem meu tipo, não é ;)
Beijos e trate de pensar na próxima novela >:]
Nerito eu acho que vc vai AMAR A Sombra do Vento... pelo menos eu amei mesmo!!!
ResponderExcluirAgora, hj termino Furia dos Reis e o escolhido é Marina, tbm do Zafon... acho q vou gostar tbm... logo comento!!!