terça-feira, janeiro 30, 2018

Renegado - Parte IV de IV

Ir para Renegado - Parte III de IV

Thin caiu de joelhos, enquanto a população na ameia mergulhava em profundo silêncio. Os trabalhadores no portão pararam imediatamente e os guerreiros desembainharam suas espadas, encarando o cavaleiro com um tom belicoso no olhar. Seridath ainda era um guerreiro. Estava com todo o equipamento que recebera quando ingressara na Companhia. A cota de malha, o elmo com proteção nasal e o escudo, tudo permanecia em bom estado. A sua presença ainda era uma forte ameaça. Seridath embainhou novamente Lorguth e olhou para Thin, que continuava agachado junto ao chão.
- Se quer mesmo vir comigo, vermezinho - declarou Seridath -, é melhor jurar me servir manter o seu juramento.
- Sim, senhor - respondeu Thin, que parecia ter recuperado a fala. - Eu juro servi-lo e manter minha fidelidade à sua espada.
Seridath não levantou outras objeções. O jovem olhou para trás, enquanto observava que os guerreiros e camponeses ainda não haviam retornado ao trabalho. Pelo visto, esperavam que o famigerado Viajante Cinzento executasse com sua espada negra o ladraõzinho vil. De súbito, um pequeno tumulto começou no meio da turba. Aldreth, amparando o arauto Lucan, fazia caminho entre as pessoas, para fora da cidade. O anão Uri também seguia com eles. As vaias recomeçaram, enquanto os guerreiros do portão fizeram menção de impedir a saída dos três, mas desistiram ao cruzarem com o olhar ameaçador de Uri, que carregava seu machado ainda sujo de sangue. Seridath observou em silêncio a aproximação dos três, enquanto Thin erguia-se, aliviado. Por um tempo sua vida estaria garantida.
– O que você está fazendo aqui? – perguntou Seridath, atordoado ao ver Aldreth aproximando-se.
– Cumprindo meu juramento – respondeu o rapaz, timidamente. E acrescentou: – Ainda que seja por medo...
– E vocês? – perguntou ele aos outros.
– Queremos jurar ao senhor nossas lâminas – respondeu Uri, enquanto cuspia para o lado. – Aqueles vermes não sabem o que é uma guerra, senhor. Vão se arrepender de te expulsar, ah se vão!
Aldreth levava alguma bagagem. Mantimento, roupas e o ouro que Seridath lhe havia confiado quando ingressaram na Companhia. O rapaz tirou de um dos sacos uma camisa velha, um gibão e um par de botas furadas para Thin. Seridath nada respondeu. Não podia acreditar que não estava mais sozinho. Sua força não era somente a de um homem só. Conseguira em tão pouco tempo ganhar homens que o seguissem. E homens motivados. Os primeiros do seu exército.

Para mais uma vez agradecer

E foi assim

E então, do riso fez-se mais riso ainda.
Não a gargalhada, o esgar quase
Desesperado.
Foi um riso doce, leve
Riso de riacho, nascente.
Não foi de repente.
Foi planejado e tão certo
Que alguns ousam chamar
Destino.

Quero abrir deste jeito esta pequena homenagem. Sábado, nós celebramos mais uma vez nossa união. Tentamos contemplar quantos amigos fosse possível, mas sabemos que não conseguimos. A verdade é que nós desejávamos ter o espaço que comportasse todas as pessoas que nos tocaram. Mas desejo e realização nem sempre andam juntos. Ou quando andam, não conseguem concordar em tudo.
A Pam sabe que eu não sou muito afeito a planejamentos. Gosto do calor do improviso, da emoção do incerto. Por isso, conciliar esse meu lado irresponsável com o jeito superorganizado da Pâmela foi um desafio para ambos.
Falei de desejo e realização porque nosso trajeto foi repleto de acidentes. Amizade, romance, separação, união. Tivemos de tudo um pouco. E muita relutância. Afinal, eu cheguei a me declarar celibatário convicto.
Quanta ingenuidade a minha! Pois aqui estou, de aliança dourada na mão esquerda e muito feliz com isso.
Deixando de rodeios, chego ao ponto que realmente quero abordar neste texto: nosso Chá de Panela. Foi um evento épico para mim, um momento que marcará minha história que agora é nossa.
Quero agradecer imensamente as pessoas que nos ajudaram a tornar possível esse sonho. A começar pela Talita, irmã da Pam, e o Agnello, namorado dela. Eles estiveram conosco durante a maior parte do sábado, dividindo conosco o trabalho pesado. Agradecemos também à Bianca Bastos, irmã caçulinha da Pam e à Tia Nina, que nos ajudaram na finalização da decoração. Elas contaram com a ajuda do Tiago Ferreira, da Samantha Vilarinho e do Marison Lacerda. Muito obrigado, Samantha e Marison, pelo belíssimo arranjo no painel das fotos!
Tenho muito a agradecer à Brenda Linda, ao Fernando Jose Lages, à Alessandra Medina e ao meu irmão Milton Medina, que nos ajudaram nos comes. Ana Paula Medina Lages, minha irmã, também deu uma força. Obrigado, Mana! Não posso deixar de mencionar o Bernardo, filho da Paulinha, que foi muito prestativo e ajudou de diversas formas.
Tivemos um momento muito especial organizado por Aline Cantia, Fernando Chagas e Rodrigo Teixeira. Eles nos fizeram suar com as brincadeiras. Mas então tive uma irrefutável prova de amor ao descobrir que Pam consegue me identificar até pelo cotovelo!
Jean Félix, seu lindo! Com o sorriso maravilhoso e o olhar cheio de sensibilidade, fez o registro fotográfico. Muitíssimo obrigado!
Temos muitas pessoas a agradecer. Temo não conseguir mencionar todas. Obrigado, Tatiani Estrela, pelo talento e profissionalismo com a decoração, as lembranças, os doces, o bolo... Por favor, transfira também nossos agradecimentos a seus pais, Mimi e Jairo. Silvana, ainda que você não estivesse presente, foi sempre lembrada. Principalmente através dos arranjos e toalhas para as mesas. Obrigado!
Sou grato também ao Edney, que nos ajudou com os pallets e outras urgências.
Arthur Medina e Soraya Fernandes Medina, obrigado pela presença, pelo carinho e por vibrarem conosco.
Bárbara Amaral, obrigado pelo convite tão lindo! Foi um presente encantador que nos deixou tão felizes!
Terei que fazer um agradecimento adicional. Muito obrigado, Rodrigo Teixeira, por ter ficado com a gente até o final. Você nos salvou, mano. Sem sua ajuda, acho que eu e Pam estaríamos até agora arrumando tudo. Nós te amamos!
A todas e todos que estiveram mas não mencionei, quero fazer este agradecimento especial. Muito, muito obrigado! E que este chá de panela seja o marco para outros momentos de união e amor.

PS: Pâmela Medina Machado, obrigado por escrever comigo este texto. E nossa história. Te amo!

domingo, janeiro 28, 2018

LIMERIQUES A CONTRA-GOLPE #8


VAMOS ANTES DE ACABAR O ANO
ENFRENTAR E DEPOR O TIRANO.
JUNTOS DE BRAÇOS DADOS
SEM SER DERROTADOS
PRO BRASIL VOLTAR A SER HUMANO!


Escrito e publicado no Facebook no dia 10/12/2017... :´-(

terça-feira, janeiro 23, 2018

Uma vida a dois


No dia 16 de janeiro de 2018, aproximadamente às 10:50, nasceu alguém.

Era uma pessoa gerada, pensada e amada há quase três anos. Foi gestada com muito carinho e cuidado, acalentada e apoiada. Cresceu em um ventre de sonho e rompeu seu casulo rumo à realidade.

Essa pessoa é a junção de duas outras. Pam e Samuca. Uma pessoa em duas. Uma fusão e um amálgama. Uma mistura bem heterogênea que tem seus momentos de completa sintonia.

Essa união se tornou oficial para o mundo no dia 16 de janeiro.

Quem me conhece há mais de dez anos, sabe que cheguei a dizer que nunca me casaria. E houve quem tenha me escutado afirmar que nunca mais me arriscaria em um namoro.

De repente, aqui estou eu, de aliança na mão esquerda. Uma jóia escolhida pelos dois, pensada e sonhada. Um par de alianças que nos permitiu aquele momento romântico em que nós dois as olhamos e tivemos a sensação de que estas eram as alianças certas.

Passamos por altos e baixos até escolhermos que nos casaríamos, a princípio, apenas no civil. E na terça passada descobri que a palavra "apenas" é uma injustiça.

Lá estava eu, com a Pam ao meu lado, diante do juiz de paz. Ele deu um sorriso caloroso para nós, como se fosse uma pessoa que tivesse nos acompanhado desde o noivado. Com uma voz serena, ele perguntou a cada um de nós se estávamos certos de nossa escolha. Diante da afirmação, seu sorriso se abriu um pouco mais e ele calmamente nos orientou na troca das alianças. Fechou então com a declaração pública de que estávamos oficialmente casados.

Pensava que seria um momento de mera formalidade, mas não foi assim. A condução do juiz de paz deu uma outra dimensão ao acontecido. Tornou tudo mais terno, aconchegante, humano. Eu me senti em uma cerimônia plena de casamento.

Lamentei não ter podido levar mais pessoas para testemunharem comigo esse momento. A Pam também. Assim, resolvi fazer este relato sobre o meu encanto diante do nascimento de uma nova vida.

Uma vida a dois.

quarta-feira, janeiro 03, 2018

2018 no lugar e 2017 no lagar


O ano acabou. O ano começou. Nesse finado 2017 tive muitos dissabores, como a consolidação do golpe e do encolhimento dos direitos dos trabalhadores. Perdemos gente valiosa, tanto para mim quanto para o mundo. Logo no primeiro semestre, minhas avós, Maria da Conceição Santos Medina e Vivaldina do Nascimento. Para o mundo, partiram pessoas geniais,
como Elvira Vigna, George Romero e Ângela-Lago.
Mas não estou aqui para contabilizar perdas, e sim para perceber que esse ano, como a Vida em si, apontou para um Renascimento, para um Renovo, para a Esperança.
Tive a oportunidade de conhecer gente incrível. E também de aprofundar a amizade com pessoas incríveis que já conhecia. Fui impactado e transformado pelo Candeia - Mostra Internacional de Narração Artística. Vi nascer o Coletivo Narradores, com privilégio de poder integrar esse processo. Tive uma participação muito
proveitosa no Festival Internacional de Literatura de Belo Horizonte - FLI-BH.
Muitas outras maravilhas aconteceram. Confirmei em palavras, gestos e imagens que encontrei o Amor para toda Vida, ao firmar meu noivado com Pâmela Bastos Machado, companheira de palavras, histórias e sonhos.
Testemunhei o nascimento de Lucía, Aurelinho e Haku, três gatinhos muito especiais.
A apoteose de 2017 foi entre amigos valiosos, embora tantos outros não estivessem presentes. Saibam, porém, que estavam no coração.
Seria impossível escrever aqui todas as boas coisas que me aconteceram. Assim, depois de pisotear e escarafunchar 2017, descobri que saí vitorioso, renovado, transformado e pronto para mais encontros e escutas, em 2018. E, claro, FORA TEMER!

domingo, dezembro 24, 2017

Frio: um conto de natal

Eu caminhava pelas movimentadas ruas do centro, tentando inutilmente me proteger do frio com a gola de minha jaqueta. Sim, este é um conto de natal, tem que ser ambientado em baixa temperatura, de preferência com neve e pessoas taciturnas, envoltas em seus casacos. Mas estamos em um natal dos trópicos e, por isso, não haverá neve e será verão.
Providencialmente, uma frente fria chegou, trazendo o frio que veio a calhar tão bem em nosso conto.
Estou andando, sim, tentando não esbarrar em nenhum dos frenéticos cidadãos que precisam fazer suas compras de véspera de natal. Inúmeras pessoas se acotovelam na calçada, em busca de tentadoras ofertas que façam valer seu presente até o último centavo. Eu, porém, não compartilho desse frenesi. Ando à revelia, estou buscando uma cena que sirva de inspiração para o meu conto. E apesar do frio, meu natal está pobremente provido de elementos inspiradores. Não existem papais noéis balançando sininhos e pedindo esmolas. Isso é coisa de filme norte-americano. E na verdade quase não vejo Papai Noel algum. Eles estão todos confinados aos Shopping Centers.
Uma ideia pipoca em minha mente. É isso! Talvez em um Shopping, devidamente sintonizado com o espírito desse mágico momento, eu possa encontrar a inspiração certa para um lindo conto.
Sigo quase que correndo para o Shopping mais próximo. Estou com pressa, assim como todos os compulsivos compradores, mas não quero comprar nenhum presente. Quero na verdade criar uma história mágica, comovente, talvez até mesmo ter de volta minha alma.

xxx

Entrei pelos altos portões de vidro e senti uma lufada do ar-condicionado, mais fria do que lá fora. O caloroso espírito do natal evidentemente já tomava conta dos corredores do Shopping, abarrotado de pessoas que só paravam poucos segundos diante das vitrines para examinar quase mecanicamente os produtos exibidos. Fiquei observando essa horda de zumbis, enquanto andava, calmamente, pelo largo corredor, já assimilando a magia que emanava dos enfeites de natal. Tudo é paz, tudo amor. Uma música natalina quase não conseguia superar o barulho de vozes e passos apressados. Segui pelo corredor até chegar ao pátio central, onde uma imensa árvore de natal havia sido armada.
Meus olhos pararam diante dos enfeites. O trenó, as renas, os duendes, todos inanimados. Somente o Papai Noel esbanjava vida, cobrando módicos valores aos afortunados pais que quisessem satisfazer a vontade de seus filhos de tirar uma foto sentados no colo do bom velhinho. Enquanto eu divagava diante da cena das crianças quase se esmurrando para ter a primazia junto ao Papai Noel, um tumulto começava a surgir alguns metros atrás de mim.
Antes que eu pudesse me virar para observar do que se tratava, o causador da bagunça já passava por mim e andava apressado na direção do trono do velhinho Noel. Assustei-me com a figura. Parecia uma criança, à primeira vista, por causa de sua baixa estatura. Investindo um pouco mais de atenção no exame, porém, qualquer um veria que aquela pessoa não seria uma criança de fato. Seus cabelos eram grisalhos e lisos, embora grossos e cobertos por um gorro verde. Tinha-os na frente aparados rente aos olhos e, atrás, na altura na nuca. Um par de orelhas pontudas despontava além do gorro, insinuando que aquela pessoa não era um ser humano. Seus olhos eram astutos e confiantes, embora estivessem um pouco tristonhos, adornados por sobrancelhas expressivas, também grisalhas. Um bigode espesso cobria o lábio superior, dando à criaturinha um certo ar de autoridade. Sua roupa era toda verde, guarnecida de guizos prateados.
A princípio, quis negar o que meus olhos denunciavam e imaginei que poderia ser um anão fantasiado, talvez um mendigo que conseguira driblar os seguranças, que seguiam atrás dele.
De fato, sua roupa não estava lá um primor. Estava suja, tinha vários remendos e alguns guizos faltavam, enquanto outros estavam manchados, escurecidos pela ferrugem. Aquelas orelhas não pareciam ser falsas, é verdade, mas existem hoje fantasias que simulam totalmente um personagem natalino. E esse sujeito era idêntico às estátuas de duendes que acompanhavam o trenó e as renas de mentira que enfeitavam a árvore de natal do Shopping.
O duende jogou-se aos pés do Papai Noel. As crianças, horrorizadas, foram esconder-se atrás dos seus pais. Estes, por sua vez, puseram a bradar contra a administração do Shopping. Os seguranças pararam a alguns metros de distância, como que para observar a conversa que aconteceria dali em diante. Apesar da confusão de todos, o bom velhinho continuava calmo e sereno.
– Papai Noel – disse o duende –, eu não posso acreditar que encontrei o senhor. Sou o único que restou de todos nós. Não sei mais dos outros. Agora estou feliz porque o senhor vai cuidar de seu duende-mestre, do supervisor da sua antiga fábrica de brinquedos.
– Afaste-se, Dimas. – disse o velhinho, calmamente – Nossa fábrica faliu, estou fazendo esses bicos para ver se pelo menos consigo tirar meu nome do SPC.
– Mas, Pa..Papai Noel... – o duende parecia horrorizado ante a frieza de seu antigo mestre. – Eu avisei ao senhor para que não mudássemos nossa moeda, que transferir-se para o Brasil não seria uma boa idéia,  que o clima faria mal para as renas, mas o senhor insistiu em não manter nossas transações em ouro e ainda por cima quis comprar um chalé na Serra da Mantiqueira...
– Eu sei, Dimas, eu sei – retorquiu o velhinho, com um sorriso entre a bondade e a tristeza. – Estou pagando caro por minhas inovações. Nossos investidores quebraram. A bolha imobiliária nos atingiu em cheio. O Banco do Pólo Norte pediu concordata e conflitos mundiais me encheram de temor. Pensei que seria um bom negócio vir para cá. O país ia bem, o povo ia bem a pobreza estava em queda. Não imaginava que tudo iria para o buraco tão rápido. Essa instabilidade na política brasileira, os escândalos nos jornais e uma crise de origem duvidosa acabou com nossas reservas.  E onde estão os outros?
– Acabaram-se – o duende baixou os olhos, com um olhar triste –, todos viraram gesso ou pedra. Eu acho que Kamil está entre aqueles enfeites ali.
E apontou para os falsos duendes do Shopping. Pelo visto um deles não fora falso um dia. Eu permaneci calado. É, parece que a crise atingiu até mesmo o Papai Noel! Pensei que o bom velhinho, um dos símbolos do Capitalismo, seria o único imune a suas adversidades e manobras. Os dois continuaram sua conversa. Noel mantinha uma expressão cada vez mais fria e severa. O duende, por sua vez, curvava-se cada vez mais.
– Papai, por favor, me aceite a seu serviço. Eu posso ser seu assistente, como antes!
– Impossível, caro Dimas. Eu só posso pagar duas assistentes e – Noel apontou as moças que o acompanhavam –, como vê, não há como eu deixar uma dessas duas lindas jovens sem amparo financeiro, em troca de um molenga como você!
– Mas, mas...
– Chega de “mas”, Dimas! – a voz do velhinho foi enérgica, fazendo o duende encolher-se. – Não quero mais ouvir suas lamúrias. Se quiser, torne-se gesso de uma vez e faça companhia para Kamil. Talvez o Shopping deixe você aí, junto com os outros enfeites e, no final da temporada, encontre um lugar quente e seco para te guardar até o próximo natal. Essa é minha única oferta!
Dimas, entristecido, baixou os olhos. Fora vencido, não havia para quem mais recorrer. Eu olhava com compaixão para o pequenino duende. Pensei até em convidá-lo para trabalhar para mim, como faxineiro talvez. Mas ter um duende em casa talvez não seria lá uma coisa muito comum de se ver. Eu seria alvo de curiosos, telejornais, mídia. Eu não queria publicidade, queria só um conto de natal. Enquanto eu ponderava sobre as vantagens e desvantagens de se ter um duende em casa, Dimas foi lentamente se transformando. Aos poucos tornava-se uma figura mais fictícia do que real, feita apenas de gesso e tinta. O duende agora não passava de uma estátua velha e mal pintada.
Esfreguei bem os olhos, como se estivesse saindo de um transe. Olhei para aquela figurinha triste, enquanto, para minha admiração, as pessoas voltavam às suas preocupações normais. Papai Noel já voltara a atender as crianças com o sorriso mais bonachão do mundo, enquanto os pais riam e conversavam uns com os outros, esperando na fila a vez de seus pequeninos. Somente eu estava maravilhado. Somente eu me preocupava com o duende. Deixei o Shopping com pressa, ouvindo uma música fúnebre, saindo de não sei que lugar, sobrepondo sorrateiramente a música natalina que enchia todo o ambiente.

sábado, dezembro 23, 2017

quarta-feira, dezembro 20, 2017

Noite para renascer

Sabemos da força das palavras. Muitas vezes, porém, nos esquecemos disso. Na noite do último sábado, dia 16 de dezembro, fui testemunha dessa potência. Um poder renovador, capaz de inaugurar novos ciclos, fundar mundos.
Estávamos no Santo Chá, para a apresentação "Contos para Renascer" e tive o privilégio de dividir a palavra com pessoas experientes e talentosas, preciosas em tudo. Estavam comigo na apresentação Carlos Barbosa, Fernando Chagas, Isaac Luiz e minha amada, Pâmela Bastos Machado. Na direção artística, junto com o Fernando, estava a Aline Cântia.
Narramos histórias que nos levaram a outro patamar de vida, um renascimento interior, que procuramos compartilhar com os demais.
Além das pessoas já citadas, também contávamos com as presenças de colegas nos prestigiando, como a Bárbara Amaral, a Alessandra Nogueira, Nadja Calábria e Rodrigo Teixeira. 
Contamos, declamamos poesia e também cantamos. Abrindo a apresentação, fizemos um cortejo ao som de "Ô lá vem vindo..." Pâmela distribuiu sementes entre as mesas.
Carlos recitou um belíssimo poema do Thiago de Mello. Fernando cantava "Quem sabe isso quer dizer amor". Isaac narrou a lenda do Peixe Boi. Pâmela, "A pequena vendedora de fósforos". Lemos, juntos, "Os Estatutos do Homem". Carlos então narrou um lindo trecho do livro "O Dom da História: uma fábula sobre o que é suficiente", de Clarissa Pinkola Estés. Por fim, contei a lenda da mandioca, história que aprendi com o mestre Joca Monteiro.
Aline tomou a palavra e, com voz embargada, falou da importância dessas histórias e da necessidade de lutarmos contra o cenário atual, em que nosso país retorna para o mapa da fome. A emoção não deixou que ela continuasse. Aline olhou para nós, entre lágrimas.
Então, num arroubo de ousadia, falei algumas palavras inflamadas e gritei um "#ForaTemer!"
Confesso que foi um momento muito especial para mim. Sinto-me renascido. Amparado para força desse maravilhoso grupo, vejo-me como planta e também semente. Planta, por estar entre tantos galhos nós e seiva de histórias. Semente, porque sinto-me imbuído da potência das palavras, que me lançam a um horizonte que, espero, seja sempre melhor.

segunda-feira, dezembro 11, 2017