Quando Júnia me convidou formalmente, confirmei na hora. Minha intuição estava certa: na Flicar de 2023 conheci pessoas muito especiais. Gente que prospera na literatura através do apoio mútuo, do fortalecimento de laços. Pessoas que não se limitam a eventos literários, mas buscam conexões reais. Assim foi também em 2024.
Neste ano, a Flicar aconteceu dos dias 18 a 21 de setembro. Cheguei na quinta, ainda, dia 18, à noite. Em Oliveira, conheci o Curumim, artista da palavra em Contagem. Seguimos de carro com o Júlio até Carmo da Mata. Quem nos recebeu lá foi a produtora, Cinara. A programação do dia já havia encerrado. Porém, o pessoal ainda estava reunido, conversando calorosamente. Revi amigos queridos e preparei meu coração para o que viria.
Na sexta, aconteceu a programação na Escola Estadual J. Afonso Rodrigues. Foram oficinas literárias de prosa, poesia, rima e improviso. Eu não fazia parte dessa programação, mas me ofereci para contar histórias. A Júnia gostou da ideia e articulou minha participação. Compareci à tarde, me apresentando para uma turminha de 11 e 12 anos, acompanhado pela professora Roseli, responsável pela classe. Narrei para eles: “Uma questão de interpretação”, “O peixe maravilhoso” e “Miserinha”. Pediram mais. Que eu voltasse na segunda ou então na próxima sexta. Fiquei comovido e encantado. É sempre melhor que a gente saia de cena quando o público pede mais do que quando já estão enfadados da apresentação, dizia o meu maestro Marco Antônio Maia Drummond.
No sábado, estive na mediação da mesa “Literatura e Educação”, com a Lavínia Rocha e a Leida Reis. Foram 60 minutos testemunhando relatos inspiradores sobre o engajamento na sala de aula e na promoção da literatura. Lavínia é uma professora inspirada e inspiradora, além de escritora promissora e comprometida. Ela não se intimida diante das dificuldades estruturais que a educação no Brasil apresenta, mas enfrenta todo esse cenário com graça e criatividade. Já Leida demonstrou uma postura mais contida e sábia, pautada na experiência de quem escreve, edita e realiza eventos literários há nuitos anos. Apontou a necessidade de que educação e cultura andem sempre de mãos dadas, como parceiras.
Muitas outras mesas trouxeram palavras e reflexões impactantes e que irão reverberar em minha atuação tanto como escritor quanto como mediador de leitura. Destaco três em especial: A primeira foi a mesa “Entre o real e o imaginado: diálogo sobre a prosa contemporânea brasileira”, com a Ana Elisa Ribeiro, que sempre expande nossas mentes com suas palavras. A segunda, "O poder da palavra: Literatura e transformação social", nos fez refletir sobre como as políticas públicas são fundamentais para o fortalecimento da leitura e da literatura no Brasil. A terceira foi "O tehêy e a narrativa do povo Pataxoop", com D. Liça Pataxoop, que nos impactou com suas palavras de sabedoria ancestral. Não posso, porém, deixar de falar da presença de Nívea Sabino e Curumim, que deram um show à parte, com suas palavras repletas de energia, algumas suaves como carícia, outras cobertas pelas farpas do protesto. E por falar em show, Cinara e banda não nos deixaram ficar parados com um bom samba e muita energia.
Domingo foi o fim da programação do evento, com música, sarau e uma apresentação belíssima de narração de histórias, com várias brincadeiras. Quem conduziu não poderia ser ninguém além de Vânia Ordones e Patrícia Oliveira.
Assim, a programação oficial chegou ao fim. Porém, a gente sabe que a Flicar não acabou. Ela nunca acaba, mas continua reverberando em nós, em cada amizade nova, como o Mauro Donato e a Giovanna Soalheiro, e as já consolidadas, como a Mírian Freitas, a Thaís Campolina, o Servos Cardoso, a Ana Paula Dacota, o Pedro Gontijo e a Gil Kis.
Devo reforçar que é sempre uma grata experiência encontrar a Ana Elisa Ribeiro, uma das pessoas que mais admiro desde que conheci. Uma escritora genial e uma professora que trata o ensino como paixão. Suas falas são sempre inspiradoras e hipnóticas. Com ela, estavam algumas pessoas da pós-graduação do CEFET. Uma galera sempre animada e disposta a se envolver na promoção da literatura.
Ainda sobre reencontros, foi um prazer enorme rever Nívea Sabino e a Dalva Maria Soares, que esteve em uma mesa com o Henrique Rodrigues, do Instituto Caminhos da Palavra.
O que mais dizer? Posso não ter mencionado todo mundo que encontrei lá. Só sei que são pessoas incríveis, generosas e envolvidas, como a Mara Senna e o seu companheiro, o Paulo. Lamentei muito não ter conseguido sentar com o Luiz Eduardo de Carvalho, para mais uma das nossas inspiradoras conversas. Um bate papo com o Edu é uma mentoria de escrita!
De tudo o que vivi, posso garantir que já estou com saudades e ansioso para a próxima Flicar. Com certeza, a Festa Literária de Carmo da Mata de 2026 seguirá a tradição, sendo ainda mais surpreendente que a deste ano. E tudo por causa da Júnia Paixão. A ela meu muito obrigado, sempre!
O que rolou na programação:
19 de setembro
17h - Mesa 1: “Cinco vozes mineiras: a pluralidade da nossa poesia”
Amanda Ribeiro, Ana Paula Dacota, Thaís Campolina, Mara Senna e Clara Valverde, com mediação de Carol Vasconcelos
18h - Mesa 2: “Entre o real e o imaginado: diálogo sobre a prosa contemporânea brasileira”
Ana Elisa Ribeiro, Maria Fernanda Elias Maglio e Mauro Donato, com mediação de Thaís Campolina
19h - Mesa 3: "Ofício do escritor: tecendo mundos com palavras"
Ricardo Ramos Filho e Aguinaldo Tadeu, com mediação de Luiz Eduardo Carvalho
20h - "Sarau Lítero musical: Versos em si", com Daniel Bicalho e Bruno Rodrigo
21h - Show voz e violão com Caju
20 de setembro
9h - Hora do Conto, com Denise Arantes e Daniel Bicalho
10h30 - Mesa 4: "O tehêy e a narrativa do povo Pataxoop"
D. Liça Pataxoop, mediação de Pedro Gontijo
14h - Mesa 5: "O poder da palavra: Literatura e transformação social"
Henrique Rodrigues e Dalva Maria Soares, com mediação de Mauro Donato
15h - Mesa 6: "Literatura e educação: quando os caminhos se encontram"
Lavínia Rocha e Leida Reis, com mediação de Samuel Medina
16h - Mesa 7: "Vozes em cena: Slam e a força da poesia falada"
Nívea Sabino e Curumim, com mediação de Giovanna Soalheiro
17h30 - Lançamento Poetizar: "Antologia Poetizar - Sarau"
19h - Show de Samba, com Cinara Gomes e banda
21 de setembro
9h Apresentação musical com os alunos do CRAS e Sarau poético com o grupo Feliz Idade
10h - Manhã brincante com Vânia Ordones e Patrícia Oliveira
Algumas fotos pra deixar saudade:
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