segunda-feira, novembro 28, 2022

O sobrinho do mago - um vai e vem entre mundos



Digory está numa enrascada. Por causa das maquinações de seu tio, o feiticeiro André, sua amiga, Polly, desapareceu ao tocar em um anel mágico. Agora, caberá ao menino enfrentar seus medos e viajar rumo ao desconhecido, através do poder de um desses anéis mágicos, para resgatar sua amiga.

Assim tem início O sobrinho do mago, segundo livro de As Crônicas de Nárnia, mas que consta no volume único como o primeiro, pois conta acontecimentos ocorridos antes de O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, obra que estreia a saga. Mas voltemos à aventura de Digory.

Trata-se de uma narrativa leve e amena, sem grandes percalços. A jornada por Charn é especialmente interessante, por conta de seu tom de mistério e suspense. A origem da Feiticeira Branca também é narrada, om direito a uma atrapalhada incursão pela Londres vitoriana, com carruagens destroçadas e policiais nocauteados aos montes. Sendo assim, a narrativa carrega um tom ímpar de humor e se configura na mais pitoresca das aventuras em Nárnia.

Fato é que O sobrinho do mago acaba destoando um pouco dos demais livros da saga. Muitos o apontam como o menos interessante. Porém, destaca-se o tom poético que a obra assume ao apresentar o poderoso leão Aslam na criação de um mundo de sonhos, repleto de deusas e fadas.

A dinâmica entre Digory e Pollyu é ótima. São crianças que assumem uma parceria ímpar. Digory se apresenta como um garoto íntegro e corajoso. Polly é intrépida e destemida. Há um certo tom que contrapõe a cidade e o campo, como se Londres (ou Charn) fosse o lugar da malícia e do vício, enquanto o campo se configura como o destino de quem quer reencontrar a inocência e a pureza.

André é uma figura especialmente maligna, mas de uma malignidade rasteira, como de um vilão de terceira categoria, tornando-se de antagonista a figura de riso e piada. Já a Rainha Jadis surge como o contraponto ou sombra de André. Totalmente ofuscada pela própria grandeza, ela não consegue entender que com força bruta nunca será capaz de dominar um mundo complexo como o nosso. A rainha age como uma força obtusa, sem propósito a não ser espalhar o caos na já caótica cidade de Londres vitoriana.

Apesar de carregar um tom menos épico que os demais, o livro é uma narrativa divertida e poética, com sua leveza e seus percalços, tornando-se uma ótima diversão para aqueles que amam Nárnia, bem como para os curiosos sobre as origens desse mundo de magia.


Ficha Técnica

As Crônicas de Nárnia

Volume Único (Edição WMF 2020)

C. S. Lewis

ISBN-13: 9788578270698

ISBN-10: 857827069X

Ano: 2010 

Páginas: 751

Idioma: português

Editora: WMF Martins Fontes


segunda-feira, novembro 21, 2022

A Polícia Secreta Para Crimes Mágicos - Mundos que se encontram pela Magia



Agnes Tahanian. Criada por seus tios-avoôs, os gêmeos Marcílio e Lucindo, a jovem é órfã de pai e sua mãe permanece internada em uma clínica psiquiátrica. Com isso, é como se a moça fosse duplamente órfã, uma vez que sua mãe não responde a qualquer estímulo. Outra questão para Agnes é a presença de um amigo imaginário, o indígena Guaraci. Porém, nem a psicóloga de Agnes se lembra de a menina ter mencionado antes tal amigo imaginário.

Além dessas questões, a moça sente ansiedade por seu aniversário de quinze anos, que se aproxima, além de ficar apreensiva pela onda de assassinatos de adolescentes acontecendo em Belo Horizonte, Minas Gerais. Para tentar desvendar quem está por trás de tais mortes, entra em ação A Polícia Secreta Para Crimes Mágicos

Escrito por Emanoel Ferreira, o livro é arrojado, interessante e imaginativo. O autor nos conduz por um cenário em que mundos se encontram, através da magia e de um lugar chamado Mundo do Meio, onde o tempo corre diferente. A narrativa não apenas acompanha Agnes em seus dilemas, mas nos apresenta outras personagens de perto, dando a eles o protagonismo, como a agente Nanã. Até mesmo os vilões ficam sob os holofotes, através da pena de Ferreira.

E por falar em personagens, são muitas pessoas retratadas, cada uma com personalidades bem definidas. Além disso, estão presentes no livro referências de muitas tradições mágicas, mostrando a extensão da pesquisa do autor na elaboração do livro e sua habilidade em costurar tais referências sem que essas ficassem forçadas. Fato é que Emanoel Ferreira cria mundos fascinantes e envolventes, capturando nossa leitura desde o início do enredo e nos prende até seu desfecho. Seu final é abereto aberto, dando espaço para uma sequência.

Quero agora me voltar para algumas personagens. Agnes, que é curiosa, corajosa e tem um forte senso de justiça, sempre disposta a fazer o certo. Em seguida, temos Nanã, agente da Polícia Secreta Para Crimes Mágicos. Impassível, sábia e talentosa, Nanã nos fascina com suas raízes ancestrais africanas. Ainda destaco Marcílio e Lucindo. O primeiro é sério e comedido; o outro, expansivo e cheio de humor. As reações dos dois irmãos, sua dinâmica cria um contraste interessante e irônico, já que são gêmeos idênticos. Há muitas outras personagens memoráveis, mas deixo para as pessoas ao lerem que descubram por conta própria.

Outro ponto que gostaria de abordar são algumas referências judaicas. Não apenas as religiosas, mas as históricas. O sobrenome de Agnes, Tahanian, vem da Armênia. O genocídio do povo armênio pelo Império Otomano é abordado. Nesse horroroso episódio da história humana, as vidas de milhares de armênios foram destruídas. O livro nos vem ser um lembrete para nos, leitores, de como as instituições humanas podem cometer atos pavorosos. Sendo assim, a obra age como um alerta contra preconceitos em geral e, principalmente, contra o antissemitismo.

Por fim, considero um livro gostoso de ler, que nos inspira e incomoda, ao mesmo tempo nos envolve com seus impasses.

Com diversas referências à magia, um enredo policial e muita ação, A Polícia Secreta Para Crimes Mágicos nos brinda com uma boa história, algo que é sempre bem-vindo, não importa o tempo em que vivemos, principalmente quando traz uma mensagem sobre o perigo da intolerância. Perigo este que nos assombra e contra o qual devemos estar sempre preparados.


Ficha Técnica

A Polícia Secreta Para Crimes Mágicos

Emanoel Ferreira

ISBN-13: 9786589912125

ISBN-10: 6589912122

Ano: 2022 

Páginas: 280

Idioma: português

Editora: Pipoca & Nanquim


Perfil do Livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/a-policia-secreta-para-crimes-magicos-11815924ed12200742.html

quarta-feira, novembro 16, 2022

Balanço do lançamento do livro Aurora


Cheguei timidamente e atrasado para o SARAU COLETIVOZ. Por conta do nervosismo, fiz confusão e acabei indo parar em outro bar chamado The Wall. Rodrigo estava comigo e.e acalmou, enquanto chamava o uber para obar certo.

Logo que efetivamente chegamos, escolhemos um lugar nos fundos e ficamos curtindo o ambiente. Rodrigo tirou da mochila uma pilha de livros de poesia - todos de autoria do pessoas do COLETIVOZ. A partir da curadoria e da coleção do Rodrigo, nossa intenção era prestigiar as moças e rapazes das quebradas, que fazem uma poesia aguerrida e engajada.

Logo a amiga Norma de Souza Lopes chegou com a filha Carol. Conversamos um pouco sobre nossa performance, entre uma e outra cerveja.

No momento certo, fui então chamado ao microfone. Falei um pouco sobre o livro que eu estava lançando, comentei sobre a minha vivência ter sido material para a narrativa e convidei as pessoas a conhecerem meus textos. Em seguida, convidei minha irmã e meu irmão de coletivo para nos apresentarmos. 

Fizemos as performances com poemas de Deia, Joi Gonçalves, Karine Bassi, entre outras, e também com poesia da Norma de Souza Lopes. Por fim, convidamos a galera pra ocupar o palco, dando prosseguimento ao sarau.

Na quinta-feira, dia 10, às 19h, foi a sessão de autógrafos na Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais. Foi um evento com um público menor, mas com amigos fiéis que me prestigiaram e a presença de boa parte da família. Faço um agradecimento especial à escritora Thais Venzel, que foi a primeira a chegar, estando lá ainda antes do evento começar.




Acredito que o trabalho de divulgação de um autor é árduo e muitas vezes é preciso fazer um retrabalho, para conseguir alcançar mentes e corações.  Sinto que minha caminhada ainda é longa, mas não me cansarei de caminhar.

sexta-feira, novembro 11, 2022

Hoje acordei triste

Pelos sonhos 

que lograram

meu sono

Pelo tempo 

que perdi 

como morto

Pelo riso 

que parece 

um escárnio

Pelo monstro 

que foi solto 

e se gaba

Pelo grito 

que se perde 

na turba

E para não 

sufocar 

em tristeza,

dou um longo suspiro

e pro sono retorno em fuga.

sexta-feira, novembro 04, 2022

Atenção para os lançamentos do livro "Aurora"

É com muita alegria que anuncio os eventos de lançamento do livro Aurora. Obra de ficção fantástica, o livro apresenta três amigos, Artur, Mauro e Wedge, que são tragados por eventos oníricos inexplicáveis logo que concluem um jogo de computador. 

Publicado pela editora Letramento, mediante o Projeto Temporada de Originais, Aurora aborda questões da atualidade, como família, amizade e ética. Seguem as informações sobre os eventos de lançamento.

 


COLETIVOZ SARAU DE PERIFERIA

Data: 9 de novembro de 2022, quarta-feira, às 19h

Local: The Wall Pub. Rua Padre Bartolomeu de Gusmão, 250 - Jardim Industrial - Contagem.



Lançamento na Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais

Dia 10 de novembro de 2022, quinta-feira, às 19h

Galeria de Arte Paulo Campos Guimarães. Praça da Liberdade, 21 - Savassi. Belo Horizonte

quarta-feira, novembro 02, 2022

Golpe

A poesia 

que tentei 

fazer 

Passou-me 

a perna. 

Era de pau 

quebrei a 

canela. 

Dor não houve 

nem um pouco. 

Foi assim 

que soube: 

Eu era feito 

de porcelana. 

quinta-feira, outubro 27, 2022

Bolha

As palavras chegam 

aos borbotões

Tento controlá-las.

Conter sua fúria

Mas não posso 

Eu mesmo 

estou furioso 

Dormi demais 

e ainda durmo

em meu 

casulo

Enquanto o mundo

lá fora 

se 

des-

in-

te-

gra.

quinta-feira, outubro 20, 2022

Se não fosse essa preguiça atávica

Se tivesse estudado a dose certa

Talvez tivesse sido um bom escritor

Talvez tivesse conseguido ser poeta.

domingo, outubro 09, 2022

DIZEM QUE É BOA INVENÇÃO

ESSA TAL DE INTERVENÇÃO

DEIXARAM O CIRCO

NA MÃO DE MILICO

PRO POVO NÃO TER OPÇÃO!

20 de fevereiro de 2018

sábado, outubro 08, 2022

Limerique

FICA ESPERTO, POVO BRASILEIRO,

SENÃO SOMEM COM O SEU DINHEIRO

SE A COISA APERTA

É O POBRE, NA CERTA,

QUEM PAGA A CONTA PRIMEIRO!

21 de fevereiro de 2018

sexta-feira, outubro 07, 2022

Bolo

Para os que esperam

o fim do mundo,

digo apenas que esqueçam.

Já passou

e você foi o único

a não ser convidado

para a festa.

quinta-feira, outubro 06, 2022

Ficar na 51

Lá na Biblioteca, eu estava conversando com o Rodrigo, quando nos deparamos com o Carlos, vulgo “Minério”. Ele comentou um pouco sobre a saúde e a vez em que havia vomitado sangue  misturado com uma pasta amarelada.

Então o questionei, apontando que ele deveria parar de beber álcool de posto. Carlos deu um riso torto e explicou que fazia esse álcool render, misturando-o com água. Era a única forma de manter o vício. Ainda falei umas duas ou três vezes de que ele precisava maneirar, ficar na 51, quando ele retrucou: “E com que dinheiro”?

Diante de minha expressão dúbia, que misturava uma hipócrita incredulidade com uma vazia empatia, ele deu as costas, num sorriso que cambaleava entre a culpa e a resignação.

10 de novembro de 2017

quarta-feira, outubro 05, 2022

Alegorias

Samuel: Organizar quadrinhos é como descascar cebolas.

Rodrigo: É mesmo...

Samuel: Você descobre camadas atrás de camadas.

Rodrigo: Ah, tá. Pensei que você quis dizer que era um negócio que a gente faz chorando...

Samuel: É... também...

terça-feira, outubro 04, 2022

Egrégora

Do que pode

ser desejado

Lugar-comum

que de comum 

nada tem

Onde nos vemos

deixa de ser espelho

para ser espalho 

ou

espantalho

11 de novembro de 2020

segunda-feira, outubro 03, 2022

História universal da infâmia - uma volta ao mundo pela sua sordidez



Há livros em que o texto nos guia por contos que apresentam personagens infames e pérfidos. Um exemplo é justamente História universal da infâmia, de Jorge Luis Borges. Os contos são quase crônicas, quase perfis literários dessas personalidades odiosas, todas tendo feitos memoráveis nos diversos continentes da terra.

Borges é um mestre do texto e nos envolve com seu discurso pretensamente neutro. Nessa neutralidade ele apresenta os feitos pavorosos de uma escória que sofre e faz sofrer. Na edição que eu li há um longo ensaio, assinado por regina L Zilberman e Ana Mariza R. Filipouski, e que aborda a questão da origem da infâmia ocorrer por conta da opressão de classes. Ao mesmo tempo, aborda a fascinação que Borges tem pelo romance policial e assim ele aproveitaria o mote do gênero para escrever esses contos. Esse mote seria justamente da origem dos males ser condicionada à opressão das classes mais pobres. Ou seja, haveria um falso engajamento político nessa obra de Borges.

O livro tem ainda dois prefácios redigidos pelo autor, onde ele apresenta seus contos e alega que o motivo de tê-los escrito ser a simples e pura diversão.

Os últimos textos do livro são pequenos excertos redigidos a partir de livros orientais, onde Borges relata casos de magia com reviravoltas surpreendentes. Antes dele há ainda o conto enigmático "O homem da equina rosada", que narra um caso de desafio e morte ocorridos nos pampas argentinos.

O livro é curto e dinâmico, com uma linguagem altamente imagética, visual, a qual bebe claramente no cinema. A ação e a rapidez ditam o tom.

Com uma linguagem hipnótica e cativante, o domínio da literariedade e da ação cênica, Borges nos concede uma experiência ímpar com o livro História universal da infâmia. Um livro que é aula de cinema e literatura.


Ficha técnica

História Universal da Infâmia

Jorge Luis Borges

Tradução de Flávio José Cardoso

ISBN-13: 9788525004956

ISBN-10: 8525004952

Ano: 1989 

Páginas: 77

Idioma: português

Editora: Editora Globo