sábado, maio 07, 2011

Diana Wynne Jones e o mundo mais escuro

No dia 18 de junho de 2010, recebi uma mensagem de celular de uma amiga dizendo que o mundo havia se tornado um lugar pior, pois José Saramago havia partido. E foi com certeza o mesmo sentimento que tive quando soube do falecimento de Diana Wynne Jones.

Meu primeiro contato com a obra de Diana deu-se na verdade por caminho indireto. Apesar de ser um amante da literatura desde a tenra idade, conheci O Castelo Animado através de Hayao Miyazaki. Já naquele tempo era um leitor assíduo dos mangás, com minha cota de animes. Não há duvida que, nas animações, Miyazaki sempre esteve (e talvez sempre estará) no topo da minha lista.

E foi grande minha surpresa quando descobri que a animação era na verdade adaptação de uma obra literária. Costumo ser reticente quanto às adaptações, pois as considero muito irregulares. Mas o Mestre Miyazaki, não só criou uma obra-prima como também a fez inspirada em outra obra-prima.

O Castelo Animado, no caso o livro, é uma das leituras mais deliciosas que já tive em minha vida. Vai além de fruição, de prazer estético ou prazer da narrativa. É um texto sutilmente alegre, mas com suas doses de tragédia, claramente tecido por alguém que encontrou o prazer na vida.

Não restringi minha leitura apenas a um livro desta autora. Quando soube de outras obras dela traduzidas para o Português, não pude deixar de conferi-las. Adquiri Vida Encantada e As Vidas de Cristopher Chant, ambos da série Os Mundos de Crestomanci. Foi como se eu confirmasse uma certeza oculta. O mesmo traço alegre, a mesma pitada de tragéia, a mesma forma de construir enredos inusitados.

Não há dúvidas que Diana escreve para o público infantil. E essa criança está escondida tanto em um homem de 29 anos quanto em uma senhora de 80. Esse é a magia que movia seus livros, que podiam ser lidos por todos, pois tocavam naquilo que nos torna todos iguais: nossas almas. 

Uma das marcas mais fortes na obra infantil desta escritora, presente principalmente na série de Crestomanci, é a solidão infantil, ou seja, a incompreensão dos adultos em relação às crianças. A falta de diálogo entre gerações. A infância, mesmo repleta de seus encantos, pode ser uma fase bem solitária e incompleta. Principalmente quando os adultos ao redor não conseguem assumir seus papéis de orientadores, conselheiros. Mas os personagens de Diana, embora em muitos aspectos solitários e perdidos, também representavam a busca pela superação, da inocência e da liberdade. 

Diana nunca negou de onde tirava inspiração para seus livros. Professora, sempre rodeada de crianças, sempre buscando compreendê-las, ela aceitava de peito e mente abertos suas ideias, transformando-as nas mais belas histórias. Ela contava, por exemplo, que havia escrito O Castelo Animado a pedido de um garotinho, que havia pedido por uma história onde uma casa tivesse uma porta que pudesse ser aberta para vários lugares diferentes.

Em 2009, Diana foi diagnosticada com câncer e desde então lutava contra o tumor. No final de 2010, porém, ela decidiu interromper o tratamento, pois as dores estavam se tornando insuportáveis. Em 29 de março Diana partiu. No Brasil, onde seus livros ainda estão começando a se espalhar, sua morte passou quase despercebida, infelizmente.

Sinto muita tristeza ao saber que não mais haverá histórias do mago Howl, de Sophie, Cálcifer e dos outros incríveis personagens criados por tão criativa escritora. Também fiquei emocionado com o depoimento que Neil Gaiman fez em seu blog sobre a grande amizade com quem ele considera sua grande mestra. Gaiman não está errado. Certamente o mundo ficou mais triste e escuro sem a presença dela, que contribuiu para tornar as vidas de cada um de seus leitores uma Vida Encantada. Diana Wynne Jones foi uma grande Mestra e seu nome será jamais esquecido. 

Diana Wynne Jones
Nascimento: 16 de Agosto de 1934
Morte: 29 Março de 2011

quinta-feira, abril 14, 2011

Vieira - As palavras, as imagens e as ideias

Quando pensamos em Barroco, por conta das longínquas aulas de história em nosso tempo de estudantes, nossas mentes são logo povoadas por imagens das igrejas de Ouro Preto e pelas belíssimas obras do Aleijadinho. Mas não podemos esquecer que o Barroco foi um estilo que influenciou inclusive a literatura, tendo o Padre Antônio Vieira como um dos seus principais representantes. 


Nascido em Portugal, Vieira foi ainda criança para o Brasil com toda a sua família. Sua formação como jesuíta foi de fundamental importância para sua carreira eclesiástica e acadêmica, uma vez que suas pregações o fizeram conhecido tanto no Brasil quanto em Portugal. Durante toda a sua vida lutou contra a escravização do índio e com isso fez diversos inimigos. 


Em Sermões, antologia organizada pela editora AGIR, estão organizados três dos principais sermões do padre missionário: Sermão Pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as da HolandaSermão do Mandato e Sermão da Sexagésima. Vieira era adepto do Conceptismo, uma corrente do Barroco que buscava um discurso simples, de fácil entendimento para qualquer pessoa, mas que também encerrasse em si profundos conceitos. O Sermão da Sexagésima, o mais famoso dos sermões do Padre Antônio Vieira, pode ser considerado, inclusive, como um verdadeiro manual do pregador, discorrendo exclusivamente sobre a arte de pregar. O estilo simples do sacerdote jesuíta leva o leitor através de um delicioso discurso, repleto de jogos de imagens, trocadilhos e alegorias.


A relevância do trabalho de Vieira é inegável tanto no ramo religioso quanto no literário, por conta da exímia habilidade que o eclesiástico mantinha com a palavra. Tanto que, com todo o mérito, o Sermão da Sexagésima foi escolhido como leitura obrigatória para o Vestibular 2010 da UFMG.

Ficha Técnica
Título: VIEIRA - SERMOES - COLECAO NOSSOS CLASSICOS - VOLUME 11
Organizador:  GOMES, EUGENIO
Editora:  AGIR
4ªEDIÇÃO.
Páginas:  134
ANO:  1966
BROCHURA

domingo, março 27, 2011

A Guerra (im)Possível

O mundo acabou. Uma horda de mortos-vivos causou um grande colapso mundial. A boa notícia é que a humanidade, depois de chegar quase à extinção, conseguiu sobreviver e praticamente eliminar a grande ameaça. Esse período ficou conhecido como "Guerra Mundial Z". 

Dez anos depois, o autor, a pedido da ONU, viajou pelomundo e recolheu depoimentos de pessoas de diversas camadas sociais e que desempenharam diferentes papéis nos eventos anteriores à guerra e durante a mesma. É assim que Max Brooks apresenta seu livro, Guerra Mundial Z.

Alguns dos entrevistados foram grandes figurões, outros, simples soldados que combateram no front contra a multidão de zumbis. Seus relatos desenham uma história fragmentada, controversa e confusa. Cabe ao leitor, portanto, refazer os pedaços, construindo em sua mente toda a trajetória desde o paciente zero, o surto que originou o Grande Pânico, a virada e por fim o sucesso da vitória, conhecido como dia Z. Brooks, com genialidade, cria desta forma um romance que também funciona como um jogo. Um livro interativo que desafia o leitor a decifrá-lo.  Os relatos procuram cumprir com fidelidade o princípio de veracidade. Desta forma, Brooks insere cada acontecimento em seu contexto histórico, econômico e cultural, levantando possíveis reflexos e impactos que um surto zumbi de grandes proporções poderia causar em escala regional e global.

O único tropeço, a meu ver, é a linguagem assumida pelo autor para alguns personagens, como a fala de um brasileiro, cujo modo de expressar-se soa muito artificial, num tom que o aproxima mais do estilo norte-americano. Mas deslizes como esse não desqualificam a interessante e inovadora obra de Max Brooks. Guerra Mundial Z é mais que um bom livro. É um relato indispensável tanto para amantes do gênero zumbi como daqueles que não fogem a um bom desafio intelectual.


Editora: Rocco
Autor: MAX BROOKS
ISBN: 9788532525550
Ano: 2010
Edição: 1
Número de páginas: 368
Acabamento: Brochura
Formato: Médio

domingo, março 13, 2011

O Chinês Americano - Uma fábula sobre quão preciosa é nossa alma

Nessa incrível fábula, o menino Jin Wang, apesar de nascido nos EUA, tem suas raízes na china. Ele quer se enturmar, quer ser aceito, ser parte do grupo. Mas enfrenta os preconceitos e a incompreensão daqueles que se consideram americanos "genuínos".

Como alegoria da busca de Jin em ser parte desse país tão diferente da China que ele nunca conheceu, somos apresentados à lenda do Rei Macaco e sua busca incansável em ser igual aos deuses.

Por fim, há a terceira história das dificuldades de Danny, um menino americano que estranhamente tem um primo chinês, chamado Chin-kee. E Danny sempre acaba metido em confusão por causa do seu estranho primo. Essa história é contada no tom satírico de um seriado de comédia americano.

O Chinês Americano é acima de tudo uma narrativa fabulosa. São três histórias bem diferentes entre si, embora tenham elementos que a vão aproximando gradativamente. A própria lenda do Rei Macaco recebe elementos ocidentais, tornando-se também uma criação híbrida, fruto de contribuições diversas, como acontece em toda narrativa de tradição. Como grande mote que amarra as três histórias está a pergunta: até onde uma pessoa iria para se tornar outra? Estaria ela disposta a abrir mão da própria alma?

Gene Luen Yang renova a mitologia chinesa ao incluir à mesma elementos judaico-cristãos. A jornada do oeste se torna símbolo do próprio périplo chinês em busca da prosperidade americana. Mas essa jornada tem como risco a perda da própria alma, da identidade.

Apesar do tom alegórico, o texto é límpido e sincero. As situações nunca parecem forçadas. Além disso, os momentos de comédia são de arrancar gargalhadas. Definitivamente este é um quadrinho que não pode faltar na estante dos amantes do gênero.

Ficha técnica:


Editora: Companhia das Letras
Autor: GENE LUEN YANG
ISBN: 9788535914498
Ano: 2009
Edição: 1
Número de páginas: 240
Acabamento: Brochura
Formato: Médio

terça-feira, março 08, 2011

A guerra dos tronos

Fonte: divulgação.
É difícil resenhar sobre um livro cujo enredo não se fecha em si, mas prevê continuações. Afinal, a narrativa do autor ainda está em construção e o primeiro romance nada mais é que a ponta do iceberg.

Fica ainda mais complicado quando o livro tem quase seiscentas páginas e uma profusão enorme de personagens, inclusive quando o foco passeia entre alguns deles, como uma estratégia a tornar o leitor mais íntimo de algumas das mais importantes testemunhas da história que se desenrola.

Por isso considero um grande trabalho falar de A guerra dos tronos, livro recente de George R R Martin. Mais difícil ainda porque se trata de um estilo literário do qual aprecio muito, a narrativa épica de fantasia.

Em um mundo totalmente diferente, onde o inverno e o verão não funcionam como um ciclo anual e regular como em nossa realidade, sete antigos reinos são dominados por um único rei, Robert Baratheon. Para fazer sua vontade, o rei conta com um braço direito cujo título do cargo é "Mão do Rei". Em Winterfell, o antigo reino do norte, Lorde Eddard "Ned" Stark recebe o convite de seu amigo, rei Robert, de assumir o alto cargo no lugar da antiga Mão, que havia morrido subitamente. Ned aceita o cargo pela amizade, mas logo descobre que o preço pela obrigação será mais caro do que imagina, ao começar a investigar as misteriosas causas da morte do seu predecessor.

Enquanto as intrigas e perigos se desenrolam no sul, somos convidados a acompanhar os perigos que envolvem outros membros da família Stark, bem como outros personagens que têm profunda ligação com a história do reino e da suposta conspiração. No fundo dessas tramas, uma possível e sinistra ameaça começa a se desenhar além da Muralha, no extremo norte. Uma ameaça antiga e terrível, evocada dos piores pesadelos.

George Martin desenha um mundo medieval extremamente detalhado, com sua história, sua geografia, seus deuses e folclore. É uma história antiga, que remonta dez mil anos, deixando o leitor fascinado com as possibilidades de outras histórias de eras passadas. A construção dos reinos e das regiões aos seus arredores é meticulosa e sólida. Porém, o autor acaba pecando pelo excesso de detalhes. Como estratégia para não deixar o leitor entediado, o foco narrativo a cada capítulo muda para um outro personagem. Desta forma, o leitor também é convidado a observar personagens que têm grande valor estratégico ao longo de toda a narrativa, para além do primeiro volume. Um dos pontos altos do romance é sem dúvida quando a narrativa se alterna entre dois personagens que estão em lados antagônicos em uma sequência de batalhas. 

O foco em mais de um personagem também permite ao narrador desenhar mais profundamente os perfis que irão interferir com mais força na narrativa. Esta estratégia, apesar de engenhosa, também traz certos perigos, uma vez que em alguns momentos a narrativa se arrasta quando determinados personagens entram em cena. Isso pode fazer com que o leitor fique entediado. E o tédio, em um livro, pode ser perigoso, apesar de ser um risco que ronda qualquer narrativa.

Embora vasto, meticuloso e de certa forma desnecessariamente extenso, o romance de George Martin é uma excelente narrativa, um épico grandioso que apresenta uma engenhosa trama em um ambiente de fantasia medieval. Ótima leitura tanto para fãs do gênero quanto para aqueles que desejam uma boa leitura.

Ficha técnica
Título: A guerra dos tronos
Editora: Leya
Autor: GEORGE MARTIN
Número de páginas: 592
Acabamento: Brochura
Formato: Médio

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/16048-a-guerra-dos-tronos

domingo, fevereiro 27, 2011

O Ladrão de Raios

Fonte: Divulgação


Percy Jackson sempre se considerou um garoto normal. Seus principais problemas são a dislexia e o déficit de atenção, que prejudicam seu rendimento nas aulas e a boa relação com seus professores. Além disso, o garoto de 12 anos nunca conseguiu se firmar em uma escola por mais de um ano. Sempre estranhos acidentes ocorrem ao seu redor e, como as causas nunca são muito claras, Percy acaba sempre levando a culpa.

Até aí tudo bem. O menino está disposto a aceitar que tem uma sorte ruim. Assume o fato de que precisa se defender dos valentões da escola e até decide proteger um de seus colegas, Groover, que parece ter uma deficiência em ambas as pernas. Tudo muda de forma surpreendente quando, durante uma visita escolar a um museu de história, ele é atacado por uma professora, que se transforma em um terrível monstro. O monstro acusa Percy de ter roubado algo muito valioso, além de poderoso, e o menino só escapa do perigo quando um outro professor, o sr. Brunner, surge sem aviso e lhe lança uma caneta que, na verdade, é uma espada grega disfarçada. Assim, Percy é obrigado a enfrentar a professora monstro e a derrota.

Esse incidente acaba fazendo com que Percy descubra uma incrível verdade: ele é um meio-sangue, um semideus, filho de um dos deuses gregos. Seu amigo Groover é um sátiro e o professor Brunner é na verdade Quíron, o mais notório dos centauros. Por ser um meio-sangue, Percy será para sempre perseguido por monstros e deverá estar pronto para enfrentá-los.

E a situação é ainda mais crítica, pois com o roubo do raio-mestre de Zeus, o jovem meio-sangue corre mais perigo do que nunca e deverá antes de tudo alcançar o Acampamento Meio-Sangue, único lugar seguro para alguém como ele. Porém, até mesmo o o Acampamento Meio-Sangue oferece perigos, pois Percy não sabe se pode confiar nos vários semi-deuses que encontra, principalmente os populares Annabeth Chase e Luke Castellan, filhos de Atena e Hermes, respectivamente.

Ao ler O Ladrão de Raios, fiquei um pouco decepcionado com a falta de ambição da obra. Não vou negar que seja um projeto interessante, digno de um professor que tenha um profundo conhecimento sobre a mitologia grega. Mas é somente isso. Estava claro que o autor tinha como objetivo unir em um único texto o ensino sobre a mitologia grega e sobre os grandes monumentos históricos e culturais norte-americanos.

Desta forma, o universo de Rick Riordan, apesar de rico, é extremamente limitado, sendo reduzido ao território dos Estados Unidos e aos seus valores simbólicos. E chega a ser de extremo mau gosto ter um foco tão limitado, como se o restante do mundo não existisse. São questões simbólicas, é lógico, mas diante das grandes mudanças atuais no campo do conhecimento, é temerário um professor norte-americano assumir de forma tão arrogante que todos os valores, sonhos e, principalmente, medos da civilização ocidental estejam transfigurados em cidades, monumentos e paisagens turísticas norte-americanas.

Além dessa visão simplista do mundo e do conceito de civilização, temos também a forma nociva que o autor estabelece o equilíbrio de forças como o bem e o mal, delineando um quadro de maniqueísmo em que Cronos e seus asseclas, os titãs, postam-se contra Zeus e os demais olimpianos. Os próprios deuses do Olimpo são apresentados sem muitos atrativos. De fato, os deuses gregos sempre tiveram seus vícios e falhas de caráter. Os titãs, porém, não parecem tão diferentes dos deuses e são pintados como seres malignos, amaldiçoados, liderando monstros, prontos para lançar a humanidade na escuridão.  

Afinal, titãs, deuses e monstros são representações do imaginário humano, símbolos de nossos comportamentos, sejam eles bons ou maus. A escolha dos jovens meio-sangue, talvez, seja o símbolo da escolha de nossa juventude, disposta sempre a aceitar os discursos ambíguos de nossa sociedade, discursos que visam antes de tudo a manutenção de um determinado estilo de vida, com sua tecnologia, suas facilidades, seus valores e vícios.

Ficha Técnica

Editora: Intrínseca
Autor: RICK RIORDAN
ISBN: 9788598078397
Ano: 2008
Número de páginas: 400
Acabamento: Brochura
Formato: Médio
Volume: 1



domingo, fevereiro 20, 2011

O profundo abismo da alma

Gostaria que este post fosse uma resenha sobre a peça A Tocaia, texto e direção de Ricardo Batista. Acontece que não me considero nem com talento nem com bagagem o suficiente para resenhar uma peça de teatro. Não mesmo. E ontem tive o prazer de mergulhar na narrativa psicológica de Cisne Negro, direção de Darren Aronofsky.

Ao mesmo tempo que ambas as obras tratam de histórias tão diferentes, considero que elas abordam um tema comum: o abismo que a alma pode cavar dentro de si mesma, criando um labirinto de imagens que vão aos poucos sufocando seu dono.

A peça a que me refiro teve apresentação única aqui em Belo Hoizonte, no Palácio das Artes, no dia 16 de fevereiro, durante a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança. Confesso que eu estava ansioso por assisti-la. Eu havia perdido a oportunidade na campanha anterior. Por conta disso, comprei os ingressos ainda na primeira semana que os mesmos estavam disponíveis.

Já o filme foi mais fácil... Como o cinema hoje em dia é muito mais acessível que o teatro, foi só ficar sabendo que a película havia sido lançada nas principais salas dos shoppings. E ambas foram intensas experiências de sentidos. E me atrevo a dizer que ambas as obras têm o poder de aguçar no espectador o seu sexto sentido.  

Em A Tocaia, um assassino contratado para matar um viajante em uma pedreira abandonada acaba por ser emboscado por seus próprios medos e culpas, pelos fantasmas de seu passado. Em Cisne Negro, uma dançarina de balé, para conseguir o papel de sua vida, sacrifica tudo, inclusive sua sanidade. Mesmo que as diferenças estejam claras, o elemento que pode ligar as duas narrativas talvez seja justamente a loucura. 

O assassino Geraldo "das Almas" é meticuloso, desconfiado e implacável. Já a dançarina Nina carrega pelo menos duas dessas três características. E é justamente o que lhe falta é essa impiedade, a coragem de expressar seu desejo e buscá-lo sem se importar com as consequências. Mas aos poucos dentro de Nina o Cisne Negro, aquele que concederá à dançarina o poder de ser implacável, irá emergir. E Nina aos poucos se entrega, disposta a ser o Cisne Negro, mesmo que isso a destrua.

Ainda que haja um certo tom alegórico nessas duas narrativas, o que mais me fascinou foi a desconstrução da fábula, da moralidade, da lição a ser aprendida. Tanto o assassino quanto a bailarina, personagens tão diferentes, acabam por perceber que estão em uma armadilha e que a vida e a sanidade estão em jogo. Mas ambos têm um compromisso mais forte com seu próprio destino. Um compromisso selado por um ato de morte. E é esse tom fáustico que se mescla ao fantástico, uma viagem de pesadelo.

Não posso me esquecer de mencionar Tchaikovsky, cuja obra reverbera por todo filme Cisne Negro, tornando sublime o que já era excelente.

terça-feira, fevereiro 15, 2011

sábado, fevereiro 12, 2011

O menino no espelho

Divulgação.

Um homem maduro conta suas experiências de quando era criança, mergulhando nas suas reminiscências e nas suas fantasias infantis. Esta é a proposta que Fernando Sabino faz ao leitor. Publicado pela primeira vez em 1982, “O Menino no espelho” é um romance curto, quase em tom de novela, experimental por ser episódico, como se cada capítulo encerrasse um conto.

Este é um dos pontos mais importantes do romance. Ele não assume um compromisso com o enredo tradicional, na estrutura princípio-meio-fim. Pode ser iniciado a partir de qualquer capítulo, degustado, apreciado. O leitor pode escolher pular capítulos, recombiná-los. Outra característica desta obra de Sabino é que o narrador, seguindo um estilo de memória, leva o leitor a lembranças que vão aos poucos se misturando a fantasias, sonhos, desejos, como voar ou conseguir ser invisível. São os sonhos de criança que tomam a realidade, reconstruindo a memória e aproveitando na literatura o que ela tem de melhor: sua ligação com o imaginário, o fantasioso, o verossímil, aquilo que se aproxima da realidade, como um piloto que ameaça pousar, mas, após um rasante, alça voo rumo ao infinito.

E o efeito realidade-fantasia é ainda mais realçado pelas escolhas de estilo do escritor. Ao mesmo tempo que confere um tom anedótico, de causo, à sua narrativa, ele situa a mesma em um universo reconhecível, passível de ser mapeado, como a glamourosa Praça da Liberdade da Belo Horizonte dos anos 1930.

Repleto da ingenuidade infantil, dos medos e triunfos da criança carregada no título, “O menino no espelho” é, ao final de sua leitura, uma mágica viagem que cada leitor faz ao menino que um dia foi.





Fernando Sabino (1923 - 2004) nasceu em Belo Horizonte. É conhecido por O encontro marcado e O Grande Mentecapto, romances que, dentre outras obras, concederam-lhe a imortalidade.


sábado, fevereiro 05, 2011

Refletir Cultural

Um espaço para a Cultura em todas as suas manifestações, em todas as faces de sua humanidade. Um lugar para além de refletir, de encontrar-se.

http://refletircultural.blogspot.com

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Tempo

O dia que começa é como o reflexo do que termina. O tempo parece fluido, escapa de nossas mãos, nos deixando a sensação de vazio.