sexta-feira, fevereiro 02, 2018

O Minotauro - Um mergulho na Grécia Antiga

O Sítio do Picapau Amarelo está de pernas para o ar, mais parece um cenário de fim de festa. Afinal, após a invasão dos monstros da Mitologia Grega, Tia Nastácia está desaparecida e os lugares que antes estavam repletos de personagens incríveis agora exibem o mesmo aspecto ordinário de antes: morros com mato por todos os lados. Não há mais castelos encantados, mar dos piratas e criaturas fantásticas. A pior das perdas, porém, está no sumiço da incrível cozinheira do Sítio.
Assim começa O Minotauro, obra da coleção do Sítio do Picapau Amarelo. Escrito para dar continuidade ao enredo de O Picapau Amarelo, o livro tem início com a turma do Sítio à bordo do Beija-flor das ondas, o antigo navio do Capitão Gancho, anteriormente chamado Hiena dos Mares. O destino é o porto do Pireu, situado no litoral da Grécia.
Ao chegarem ao porto, porém, as crianças ficam impressionadas com o aspecto desagradável do porto. Afinal, eles não chegaram de fato em seu destino. A Grécia que almejam é aquela de seus tempos áureos, a chamada Grécia Antiga. Decidem então fazer um mergulho, desaparecendo do Pireu de 1939 e aparecendo em 438 antes de Cristo, no chamado Século de Péricles. Enquanto Dona Benta, em companhia de Narizinho, decide permanecer nesse tempo, enquanto Pedrinho, Visconde e Emília seguem para a Grécia Olímpica, um tempo ainda mais antigo que aquele. Dessa vez, utilizam-se de um pó desenvolvido pelo Visconde, o Pó número 2.
Assim segue a narrativa de Lobato, dividida em duas linhas temporais e duas tramas distintas. Uma para desvendar o mistério do paradeiro de Tia Nastácia e outra para descortinar as maravilhas da Grécia do chamado Século de Péricles.
O texto de Lobato, como sempre, é ágil e repleto dos maneirismos de Emília, sua mais célebre personagem. Além disso, o autor faz a mesma escolha que em outros livros e carrega seu texto com uma certa dose de didatismo. No desenrolar da obra, somos apresentados a personalidades históricas como o filósofo Sócrates, apresentado como um rapaz de nariz horroroso, e o dramaturgo Sófocles.
Em contrapartida, Emília, Pedrinho e o Visconde visitam o Olimpo, observam os deuses em seus assuntos divinos e ainda provam do néctar a da ambrosia, alimentos exclusivos aos deuses. Descem do Monte Olimpo e têm a oportunidade de testemunhar um dos 12 trabalhos de Hércules.
Como é de se esperar, há uma certa dose de humor, principalmente na dinâmica entre Emília e seu fiel companheiro, o Visconde de Sabugosa. Alguns dos mais divertidos momentos da narrativa ocorrem justamente por conta da subserviência do sabido sabugo e sua obrigação em carregar a bagagem da "ex-boneca". O Classicismo é preponderante no texto e chega a ser exacerbado. Há porém, alguns contrapontos, como a crítica que Dona Benta faz à escravidão, ou sua constatação de que Péricles era na verdade um ditador que manipulava a opinião popular através de seus discursos.
Há alguns pontos nevrálgicos no texto de Lobato, como por exemplo o tratamento que ele dá à Tia Nastácia, não só pela Emília, mas também por Pedrinho. São aspectos que merecem atenção, não apenas por sua polêmica, mas justamente para entendermos Lobato em suas particularidades e contradições.
Portanto, considero O Minotauro uma ótima indicação de leitura. Especialmente se esta vier acompanhada de um momento de mediação.

Ficha Técnica:
Título: O Minotauro
Autor: Monteiro Lobato
Ilustrações de Odilon Moraes
Ano da primeira publicação: 1939

Página do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/o-minotauro-4881ed230203.html

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