quarta-feira, julho 30, 2014

Engenharia Social

Fonte: http://www.freeimages.com/profile/edu

Da venda de enciclopédias tirava o seu sustento. Veio a internet e destruiu seu ganha-pão. Deu uma guinada: virou cabo eleitoral.

terça-feira, julho 29, 2014

Quando a sombra ficou no lugar

Noventa e três,
tempo de sonhos
Nascem mazelas no lugar
A poeira da rua unta nossos pés
enquanto o caminho, interrompido
corta pela metade qualquer desejo
Éramos muitos,
poucos olhavam
Era tudo quase fraterno
Veneno (Marco Antônio) fala digavar
Adão como toda a pasta de dente
Cuei acha a minha camisa folgada demais pra ele
Tobinha acerta uma pedra na nuca de Meio-quilo
E o Manchinha, sempre tão afobado
queria apenas uma namorada
Éramos muitos
poucos os sonhos
"Não é permitido"
sussurravam as pedras
A cada dobra de esquina

domingo, julho 27, 2014

A Cidadela - Parte III de IV

Ir para A Cidadela - Parte II de IV

Uma presença inegável respondeu como algo que invadia sua mente qual uma onda. Lorguth atendia ao seu chamado com uma vivacidade incrível. Da lâmina emanavam sentimentos muito próprios, mas era difícil para Seridath identificá-los, distingui-los dos seus próprios sentimentos. Mais uma vez o rapaz teve medo. Temeu ser subjugado. Lembrou-se então da vergonha que sentira quando a espada não funcionou. Aquilo tudo era parte do teste e, para ser aprovado, ele precisava dominar sua arma, fazê-la erguer suas vítimas para que elas novamente lutassem por ele.
O rapaz levou um bom tempo para conseguir separar os seus pensamentos dos de Lorguth. Quando sentia cansaço mental por causa do exercício, deixava de tocar a lâmina para conseguir certificar-se de seu próprio eu. Mas logo ele já conseguia identificar a presença da consciência da espada junto à sua própria. Percebeu que Lorguth transbordava volúpia. Ela havia impulsionado a querela contra Balgata e o desprezo contra Aldreth. Talvez ela o tivesse impelido a ingressar na Companhia. Até aquele momento, o rapaz não fizera nada mais do que obedecer aos impulsos caóticos de sua companheira.
Outro sentimento forte na lâmina era uma euforia quase pueril. Lorguth não estava interessada no sangue dos homens dentro da cidadela. Ela ansiava provar o sangue de algo maior, mais forte. Seridath sentiu uma palavra surgir involuntária em sua mente: “Tominaro”. O cavaleiro surpreendeu-se, desconhecendo o significado dessa palavra. Mas havia também outra coisa, a expectativa de um encontro. A espada transmitiu a Seridath que havia um ente incrivelmente poderoso naquele exército de mortos. Talvez mais de um.
Aquilo era um problema para Seridath. Balgata e os outros esperavam que ele cumprisse sua parte. O guerreiro precisava invocar os servos de Lorguth antes que a caravana chegasse à cidadela. Ele acreditava que todos os entes vivos que fossem mortos pela sua espada deveriam tornar-se como aqueles dois monstros que surgiram em Keraz. Na verdade, deveriam ser três, o número de vítimas que Seridath fizera em sua primeira luta. E se as usas suposições estivessem corretas, os argros e as criaturas mutantes engrossariam suas fileiras.
Se três monstros fizeram aquele estrago em Keraz, as novas vítimas seriam uma temida força, e Seridath contava com isso. O plano era simples: Balgata e alguns homens teriam que segurar os portões abertos até que os servos invadissem e matassem qualquer inimigo, poupando somente quem estivesse desarmado. O capitão parecera vacilante na adoção a esse plano, mas as opções de que dispunha eram realmente escassas. 
Enquanto Seridath estava imerso em sua luta pessoal com Lorguth, os sobreviventes se preparavam para dar início ao plano para tomar Arnoll. Balgata ainda lançou um olhar para trás, para o interior do bosque, esperando que sua escolha não os condenasse. Era um risco que estava disposto a correr. 
Nas entranhas do bosque, Seridath continuava a fazer suas descobertas, como que mergulhado em profunda meditação. O jovem começava a distanciar-se da realidade sensível e física, para penetrar em uma densa escuridão. Lentamente ele começou a perceber que agora era a espada que o conectava ao mundo real. Deixou-se levar, ainda que com cuidado, por esse caminho escuro, penetrando nas sombras profundas.

sábado, julho 26, 2014

Ébrio

tolhido de sentidos
ele persevera.
Vence colinas
escala montanhas
e persevera.
Não fosse a linguagem
ele estaria morto.
Morta sua aspiração
Morto seu ideal
mas ele persevera
e fala
fala
e não se
cala
sua voz ecoa
pelas galerias
num
vazio
eco

sexta-feira, julho 25, 2014

Fábulas para adulto perder o sono


O que dizer de tão fabulosa obra de Adriane Garcia? Com o perdão do trocadilho, ler essa obra poética que conquistou o Prêmio Paraná de Literatura, é de fato uma surpreendente jornada ao mundo de nossas fantasias infantis. E na tentativa de buscar adjetivos que façam jus à potência desse livro, acabo caindo no clichê, no lugar-comum. 
Contudo, creio que essa seja a grande força da poesia de Adriane Garcia. Em sua obra ela revisita esses tantos clichês e os revitaliza, ressignifica, chega até mesmo a devolver um pouco de seu caráter sombrio, desprovido dessa roupagem homogeneizante do politicamente correto.
Assim, Garcia aposta nessa inesgotável fonte que é nossa literatura oral e tece uma urdidura que se destaca justamente em sua diferença, em sua ousadia. São poemas que equilibram graça e aspereza, num jogo de morte e assopra que vai quase como um gingado, uma dança de sedução.
Ainda que faltem palavras, o apelo permanece. E o convite: venha você também perder o sono. 

quarta-feira, julho 23, 2014

Média

No meio do caminho 
Fonte: http://www.freeimages.com/profile/senjur
tinha um viaduto
Braços e pernas
esmagados
pelo dolo
grama e concreto
servindo aos 
mesmos
fins ao
mesmo
dEUS.
A dança do fogo
o jogo de imagens
a língua amputada
a vida apagada.
No meio do viaduto
tinha um 
carro
No meio do campo
tinha uma
bola
No meio do ano
tinha um
engano.

Belo Horizonte, 12/07/2014

sexta-feira, julho 18, 2014

A partida de um grande escritor

Ainda me lembro com vivacidade da aventura que foi desvendar Paraty em plena FLIP. E foi indefinível o prazer que senti ao beber das palavras de João Ubaldo Ribeiro. Com todo aquele seu carisma, sua boa prosa, seu sorriso fácil e sempre franco, João disse algo que me impressionou profundamente. Ele disse que a Literatura é um dos mais poderosos meios para sermos o outro. E arrematou: "quando escrevo, se eu quiser posso ser puta".
Obrigado, João Ubaldo Ribeiro!

O filho de mil homens - Uma literatura para além da esperança

Um homem solitário que deseja um filho mais do que tudo; um menino sem família, perdido entre a complacência e a arrogância das pessoas que o cercam; um homem que luta contra sua sexualidade, vítima do preconceito de todos e da incompreensão de sua família; uma mulher desencantada com a vida e com o amor, tanto que parece até encolher por causa de sua angústia.

Estes são alguns dos personagens de O filho de mil homens, romance de autoria do escritor português Valter Hugo Mãe. Uma obra pungente, visceral, arrebatadora. No enredo temos o pescador Crisóstomo, um homem que ao fazer quarenta anos se vê sozinho, não tendo realizado ainda seu maior sonho, ter um filho. Sua solidão é tamanha que, para mitigá-la, ele inutilmente compra um boneco, como se este pudesse, como um Pinóquio contemporâneo, virar um menino de verdade. 

A partir do desejo de Crisóstomo e de sua busca inocente por felicidade, somos apresentados a outros personagens, todos incompletos e imersos em suas tragédias pessoais. Assim, Válter Hugo Mãe constrói um romance poderoso, profundo, cuja aparente ingenuidade não enfraquece seu impacto.

Pode-se dizer que o enredo revela uma perspectiva otimista. Contudo, a complexidade de cada personagem, bem como suas sofridas experiências mostram uma felicidade construída na resiliência, na esperança. Desta forma, esse otimismo torna-se um motor para a transcendência dos personagens. Essa transcendência também permite o encontro com o outro, com a diversidade. O leitor, através dos olhos de cada pessoa narrada, tem a possibilidade de transcender, de se transformar. 

Belo, poderoso e profundo, O filho de mil homens é uma bela jornada e, sem dúvida, uma surpreendente descoberta.


Ficha técnica

Edição: 1
Editora: Cosac Naify
ISBN: 8540501767
Ano: 2012
Páginas: 208

quinta-feira, julho 17, 2014

Semana do Livro Nacional na BPIJBH

Semana do Livro Nacional



De 19 a 27 de julho de 2014



Dia 19 de julho, sábado
Oficina Registre seu Livro
A oficina propõe orientar autores iniciantes sobre os procedimentos necessários para o registro de textos literários no Escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional. Com Samuel Medina
Público: juvenil e adulto (autores iniciantes)
Às 10h

A Escrita Jovem
Mesa debate com os autores Ewerton Ribeiro, Laura Cohen Rabelo e Guilherme Hargreaves, seguida de sessão conjunta de autógrafos.
Público: juvenil e adulto
Às 11h

Dia 25 de julho, sexta, dia do escritor nacional
II Encontro de Jovens Autores e Blogueiros Literários
Em comemoração ao Dia do Escritor Nacional, será realizada uma roda de debate sobre os desafios que o autor iniciante enfrenta em sua caminhada e quais são as principais estratégias para que seus leitores sejam alcançados.
Às 18h


Dia 26 de julho, sábado
Territórios Fantásticos
Sessão de autógrafos com Ledinilson Moreira, autor de Portais e Paulo Campos, autor de O Sino de Arsch e Hermes M. Pontes, autor de O Enigma do Fogo Sagrado

Às 11h30

Todas estas atividades ocorrerão no espaço da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte.

Endereço: Rua Carangola, 288 - Térreo - Santo Antônio. Belo Horizonte - MG

Telefone: (31) 3277-8658

E-mail: bpij.fmc@pbh.gov.br



quarta-feira, julho 16, 2014

Persona



Créditos: http://www.freeimages.com/profile/pacoccepas
Enquanto escrevo
escavo
escravo
Sulco sentidos
removo pedras
ou
as recoloco
apenas
obstruo caminhos
em
pequenas veias
feridas e rugas
vou construindo
minha 
máscara