sexta-feira, março 29, 2013

Freud, me tira dessa! - a literatura no divã

Fonte: divulgação.
Nunca pensei que chegaria a resenhar um livro chick-lit. Confesso que sequer pensei que um dia leria um. Sim, começo esta resenha confessando um preconceito. E isso para reforçar minha surpresa durante a leitura do livro Freud, me tira dessa!, de Laura Conrado. 

Tive a chance de adquirir o livro de Laura de suas próprias mãos, quando estive no evento Livros: paixão sem fronteiras, que ocorreu no último sábado, 23 de março, na Casa Una de Cultura, aqui em Belo Horizonte. Havia acabado de conhecer a Laura, que tem feito esforços tremendos para realizar em nossa cidade a Semana do Livro Nacional. Pois bem, lá estava eu, com o livro na mão, para pegar um autógrafo. Ao folheá-lo, imaginei que o texto poderia ser mais direcionado ao público feminino. Acreditei então que aquele era um presente ideal para a minha namorada.

Sim, o presente foi ótimo. O que eu não esperava é que a leitura me capturaria tão rapidamente. Quando saí do evento, já combinando de passar na casa de minha amada, resolvi abrir o livro e vasculhar suas primeiras páginas. Ainda sentia um ranço de machismo, achando que me sentiria "deslocado". Ledo engano. Fui de tal forma absorvido pela narrativa tão cativante da Catarina, uma mineira típica, naquele jeito mais gentil e carinhoso que se pode imaginar. 

Ao me encontrar com minha namorada, mostrei-lhe o presente, ao mesmo tempo que o pedia emprestado. E assim foi, passei o final de semana acompanhando os passos de Catarina, jovem de 23 anos, desencantada com o amor depois de tomar um fora. Desejando entender o motivo que a levava a relacionamentos infrutíferos, ela resolve buscar auxílio de um psicólogo. E de repente acontece o que qualquer leitor romântico podeira imaginar: Catarina se apaixona por seu terapeuta.

Como já disse acima, o texto é leve, despretensioso. Isso aproxima o leitor, principalmente o jovem, muitas vezes portador do pré-conceito de que literatura deve ser floreada, densa e carregada. Isso não acontece neste livro, que busca uma proximidade com o leitor que quase dá ao texto um tom de confidência. Aí entra toda a feminilidade do texto. Laura poderia estar sentada ao seu lado, contando a história de suas peripécias sentimentais e "psicanalíticas". 

Outro ponto interessante no romance de Laura Conrado é que ela não busca "tecnicizar" o texto. Faz menções à psicanálise, sem usar definições ou referências científicas. Afinal, trata-se de um texto literário e não acadêmico.  Além disso, a autora evita sabiamente certas soluções prontas e fáceis para os conflitos. Alguns deles ficam no ar, são aceitos como parte constituinte das histórias das personagens. De certa maneira, ela revela que a vida é feita a partir da desconstrução de nossos ideais. Um caminho de autoconhecimento, que pode até ser doloroso, mas certamente vale a pena ser trilhado.

Ficha Técnica:
Edição: 2
Editora: Novo Século
ISBN: 9788576796541
Ano: 2012
Páginas: 239


Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/229897


segunda-feira, março 25, 2013

O Último Capitão – Parte I de III

Ir para O Desespero e a Noite – Parte VI de VI


Balgata praguejou mais uma vez. Não era de seu feitio ou de sua criação dizer palavras chulas, mas achava que, afinal, o ímpeto do sangue estrangeiro de seu pai começava a falar mais alto. Ele também ignorava o que acontecia em outros pontos de Keraz, mas tinha certeza que ali onde estava pouco podia piorar. Aquilo tudo estava uma tremenda desgraça. Cuspindo novamente para afastar a má-sorte, o único capitão ainda de pé segurou com mais força a espada que tinha na mão esquerda. Não era canhoto, mas tinha mais força no braço esquerdo. Na verdade, poderia lutar com qualquer uma das mãos, esse era um de seus talentos. Balgata ainda era jovem, no frescor de seus 22 anos, e mantinha uma aparência impecável. Era o mais novo dos três capitães, o mais inexperiente, e aquela porcaria de missão era a primeira naquele posto.
Balgata, porém, era um ex-soldado de Dhar e tinha uma boa experiência militar. Servira com Murrough e tinha grande admiração por seu antigo superior. Buscava sempre seus conselhos, fossem eles sobre ações militares ou coisas triviais, como mulheres, bebidas e armas. O jovem capitão vinha de uma família de mercadores dos reinos litorâneos a oeste, além de Gaeramont, a cadeia de montanhas que divide o continente. Seu pai era um misterioso pirata que saqueara e queimara sua cidade natal. Desse ato de pirataria nasceram muitos bastardos, dentre eles um forte menino que recebera o nome Balgata, que na língua primitiva significava "golpe mortal". Fora criado por tutores, longe de sua família, por ser considerado uma desonra para sua mãe, que nunca conseguira um casamento.
Sendo um homem de posses, o avô de Balgata o enviou ainda jovem para a grande cidade de Nintra, para que ele aprendesse um ofício de artesão. Filho bastardo e de uma família que, mesmo influente, era plebéia, ele cresceu recebendo doses regulares de desprezo alheio. Principalmente porque puxara os cabelos vermelhos e a compleição robusta dos saqueadores estrangeiros.
Mas por ser um rapaz disciplinado e talentoso, logo Balgata percebeu que teria que fazer seu próprio destino. Fugiu de seu tutor em uma noite de verão, unindo-se a uma caravana de artistas que rumava a leste. Após meses de jornada, fazendo pequenos trabalhos para a trupe, o rapaz chegou ao belo e verdejante reino de Dhar. A primeira visão que Balgata teve foi das torres brancas de Sathal, brilhando ao sol primaveril. Em seguida, os portões da cidade se abriram e de lá um magnífico exército marchou, com toda a sua glória de flâmulas e estandartes. Naquele momento, Balgata decidiu seu destino. Seria soldado até envelhecer ou morrer em batalha.
Meticuloso, dedicado e responsável, o jovem acumulou recomendações e prêmios em sua carreira no exército, até descobrir que não chegaria longe, por não ter uma ascendência privilegiada. O posto máximo para alguém como ele seria o de tenente e isso foi fácil conseguir. Quando Murrough, seu capitão, aposentou-se e chamou-o para buscar fortuna, Balgata não pensou duas vezes. Deu baixa de suas obrigações militares e seguiu seu capitão. "E foi nessa merda que o senhor me meteu, capitão." murmurou Balgata, entredentes. Sempre soube que Murrough não tinha lá uma cabeça muito boa mas, diabos, ele adorava aquele homem. Para o jovem, seu antigo capitão era como o pai que ele nunca teve.
Aquele não era momento para nostalgia, pois seus homens morriam por todos os lados. Havia perdido a conta de quantas daquelas coisas ele havia abatido, mas tinha certeza que haveria bem mais delas. Quando a chuva de dardos pegou-os de surpresa, o jovem capitão havia conseguido dar ordens que mantivessem seus homens agrupados e seguros. Sua bateria de arqueiros havia repelido tanto os monstros cuspidores de dardos quanto os zumbis que marchavam. Começaram a acreditar que aquela divisão levaria a vitória para a Companhia. Mas então o desastre aconteceu. Uma sombra esquisita postou-se sobre a paliçada, mesmo crivada de flechas. Era um ser humanóide, com um peitoral de placas rebitadas e sem elmo. Segurava duas espadas curvas em suas mãos e gritava em ameaça, enquanto seu rosto se contorcia, disforme. Bocas e olhos misturavam-se naquela face escurecida. Aquilo perturbou a todos. Balgata ordenou que os arqueiros arrancassem aquela coisa do alto da paliçada, mas todos hesitavam.
A “coisa” então abriu uma bocarra enorme, repleta de dentes pontiagudos, e soltou um berro lancinante. Todos os homens tamparam os ouvidos e alguns desmaiaram. A criatura explodiu em seguida, fazendo uma brecha considerável na paliçada, de onde entraram gritando outras criaturas como a primeira.


Continua...

sexta-feira, março 22, 2013

Onde as árvores cantam


Até que ponto uma pessoa pode chegar para lutar contra o seu destino? Quanto alguém pode mudar ao sair de sua posição de conforto? E como resistir ao determinismo, quando todos os seus sonhos são jogados por terra? Essas são algumas perguntas que o leitor pode se fazer durante a leitura do incrível Onde as árvores cantam, romance de Laura Gallego García. Nele, somos apresentados à jovem Viana de Rocagris, de longos cabelos castanhos, filha de Corven, Duque de Rocagris, um dos mais respeitados nobres do reino de Nórtia. Apaixonada desde a infância por Róbian de Castelmar, Viana está prometida a ele, como sempre desejou, de forma que a jovem acredita estar a um passo de ver seu sonho realizado. 

A jovem, porém, vê sua vida mudar drasticamente quando os bárbaros invadem o reino de Nórtia e eliminam quase todos os nobres do país. Obrigada a conviver com os rudes dominadores, Viana conta com a ajuda inestimável de Dórea, sua ama-de-leite e dama de companhia, e justamente por iniciativa de Dórea, a moça vai gradativamente mudando sua postura, de obediência resignada a uma resistência velada e astuciosa, até culminar na franca revolta. 

Assim, ela se vê obrigada a fugir, escondendo-se na Grande Floresta, um lugar até então temido por todos. Dizia-se que qualquer um que entrasse naquelas matas estaria perdido para sempre. A jovem, porém, acaba por descobrir que a Grande Floresta deve ser respeitada, não temida, e lá passa a viver. E assim a moça se transformará lentamente, tendo o misterioso e astuto cavaleiro Lobo como o mentor, para guiá-la rumo a uma nova postura diante da vida. Um homem que tem um terrível acontecimento oculto no passado, que não somente lhe rendeu o apelido como também lhe custou uma orelha. Além disso, Lobo é um cavaleiro decaído que vive no exílio, desacreditado por todos.

Viana também contará com Úri, misterioso jovem de pele rajada, olhos e cabelos verdes, nativo da Grande Floresta e por quem a moça criará um laço inquebrável. 

O maior desafio para a moça será Harak, rei dos bárbaros, que dizem ser invulnerável. Viana acredita que o segredo para vencer os invasores está no interior da Grande Floresta, como Oki, o menestrel, respeitado por todos, teria sugerido ao contar uma história durante a festa mais importante da realeza de Nórtia, antes da invasão bárbara. Contudo, para descobrir o que há de verdade e de mito nas palavras do menestrel, Viana deverá reescrever seu destino, empreendendo uma jornada rumo ao coração da floresta, um lugar "onde as árvores cantam".

Mas o personagem mais fascinante certamente é Lobo, que sempre tem uma história diferente para o motivo de ter perdido a orelha e para cada história há sempre duas lições para a jovem Viana.

Além disso, há os poéticos nomes das regiões e castelos de Nórtia, como Castelmar, Valenevado, Torrespinho, Monteferro. Regiões que seguramente irão despertar a imaginação do leitor. E não posso deixar de mencionar a incrível capa desenhada por Renato Alarcão.

Mas Onde as árvores cantam não se trata apenas da história de batalhas e jornadas misteriosas. Trata-se acima de tudo, de uma história de um amor impossível, mas sobretudo sublime e transformador.

Edição: 1
Editora: Edições SM
ISBN: 9788580720181
Ano: 2012
Páginas: 384
Tradutor: Paloma Vidal

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/253590/

quinta-feira, março 21, 2013

Entrevista de emprego



Na sala de espera, os dois homens se encontram. Ambos são guerreiros, vestem negro, têm alguma relação com poderes ocultos como a necromancia. Além disso, ambos foram demitidos em situações embaraçosas e buscam um novo emprego. 
A secretária da agência de empregos os recebeu calorosamente e com um sorriso contido, embora os olhos não escondessem seu pavor. Por isso, ela não deixou de escapulir logo dali.
Sentados sobre sofás de couro negro, onde seus mantos de cor similar meio que se fundem à negrura dos assentos, os dois se olham meio que de soslaio. Seus elmos negros escondem suas expressões, mas é evidente que são rivais para a mesma vaga. 
Um deles é conhecido por seu silêncio, pois sequer seu nome verdadeiro é conhecido, enquanto o segundo sempre pareceu gostar de falar. Por isso, seria natural que ele deixasse escapar um murmúrio seco, uma mistura de pigarro com arroto.
- Crooofh!
Silêncio...
- Crooofh! - insiste.
Depois de alguns constrangedores segundos, o outro acaba por dizer alguma coisa:
- O que disse?
- Como?
- Você pareceu ter dito alguma coisa.
- Não, foi apenas meu sistema de manutenção de vida - ele pareceu tentar se desculpar. - Isso é involuntário.
- Ah... Sei como é. De vez em quando, solto alguns urros estridentes. Isso me trouxe problemas no trabalho.
- Nem me fale. O pior era quando alguém que eu interrogava simplesmente desmaiava só porque eu tentei tossir! A propósito, sou Darth Vader. Bem, esse não é meu verdadeiro nome. É mais como um nome artístico.
- Não tenho nome, gosto do tom de mistério. Mas pode me chamar de Angmar.
Os dois olharam para frente. Vader bate o pé de impaciência, embora sua postura seja quase inescrutável de tão rígida. Como não pode virar apenas o pescoço, ele gira todo o corpo ao se voltar para Angmar.
- Como você veio parar... bem, nesta sala?
- Hum... era coordenador de um projeto de reestruturação de uma multinacional, a Terra Média InC. Mas perdi o cargo para uma dupla de jovens inovadores de uma divisão rival. Um deles foi uma mulher... meu calcanhar de Aquiles.
- Calcanhar de Aquiles?
- É... ela não parava de pegar no meu pé. E você?
- Bem, eu estava tentando arranjar um bom emprego pro meu filho na empresa em que era diretor de projetos.
- E o que aconteceu?
- Bem, não suportei ver o presidente dando uma bronca no garoto. Acabei perdendo a compostura e aqui estamos nós.
- Fatalidades, meu amigo, fatalidades. E não sei, mas acho que nossa época acabou. 
- Não creio. Ouvi dizer que o presidente desta Companhia procura talentos experientes. Acho que ele quer revitalizar um antigo setor do mercado. Talvez haja vaga para nossas largas vivências.
Nesse momento, a secretária entra na sala. Ambos se endireitam em seus assentos, impecáveis. Atrás dela, um homem incrivelmente musculoso exibe um sorriso esgarçado. Ou melhor, seria um sorriso, mas na verdade ele tem o rosto completamente descarnado, exibindo uma caveira medonha. Sua cabeça é coberta por um capuz e ele veste uma espécie de tanga tribal. Sua imagem não passa tanta seriedade. Se não ficasse evidente demais, Angmar e Vader se entreolhariam, como se pensassem: "Em que furada nós nos metemos?"

segunda-feira, março 18, 2013

O Desespero e a Noite – Parte VI de VI

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Seridath teve espírito o suficiente para erguer com rapidez seu braço esquerdo, protegendo-se com o largo escudo, enquanto via o andarilho desabar como um boneco desajeitado. O guerreiro lançou-se sobre seu líder, para também mantê-lo sob o escudo. Com a mão direita, tateou cuidadosamente o local do pescoço perfurado pelo dardo. Era um projétil negro e pegajoso; parecia ser feito de madeira enegrecida pelo fogo e besuntada de piche. Tinha talvez quatro palmos de comprimento e era fino nas duas pontas. No centro, chegava à espessura de uns dois ou três centímetros. O ancião arfava com dificuldade, parecia querer dizer algo, mas o dardo frustrava suas tentativas. A ferida era de fato mortal e aquele corpo velho foi aos poucos amolecendo, desistindo da vida.
O início de noite pareceu mais escuro, pois a chuva de dardos negros ficou mais forte, adensando a escuridão. Seridath captou o último lampejo de vida nos olhos do andarilho Urso Pardo, que morria em seus braços. Naquele momento ele sentiu a dor de ter perdido um pai. As palavras do velho haviam causado uma profunda impressão no jovem, de modo que ele sentia-se confuso e aturdido por aquele tremendo golpe do destino. "O velho está morto", pensou ele, ao ver que de fato Urso Pardo parara de respirar e seu corpo estremeceu pela última vez. O guerreiro olhou ao redor, enquanto via homens desesperados que corriam para todos os lados serem também atingidos pelos projéteis. O chão, as toras da paliçada, os casebres ao longe, tudo estava coberto de setas negras, tantas como os espinhos de um ouriço. Parecia que uma espécie de relva escura e maldita nascera do chão em poucos segundos.
Seridath tornou a olhar em volta, procurando seu jovem pajem, Aldreth. Ele estava agachado, de costas para a paliçada, com as mãos na cabeça. Estava intacto, pois a proximidade com a defesa de madeira o havia protegido dos dardos. Seridath com esforço arrastou o corpo do andarilho, ainda tentando proteger-se dos dardos. Deixou Urso Pardo sentado, com as costas apoiadas na paliçada. Não queria que mais dardos machucassem o corpo do velho. Correu então até Aldreth e tocou os ombros do rapaz. O arqueiro ergueu seu rosto e fitou Seridath com uma expressão de puro terror. O que o rapaz vira que o deixara tão aterrado? Outros arqueiros estavam posicionados em plataformas improvisadas atrás da paliçada, de forma que pudessem vigiar e atirar por sobre as estacas afiadas, mas quase todos pareciam aturdidos demais para isso.
O guerreiro tomou lugar entre eles, para ver o que se passava fora da aldeia. Ainda não escurecera completamente e ele pôde ver uma grande massa que se movia, aproximando-se com vagar, mas em velocidade regular. Sentiu um nó gelado atravessar sua garganta. Um batalhão de vultos marchava contra eles com disciplina militar. Eram corpos de homens que se moviam, com a pele necrosada e já mostrando sinais de decomposição. Estavam vestidos com uniformes de uma cor cinzenta, com uma caveira negra desenhada no peito. Arrastavam pesados machados de guerra, clavas ou lanças.
Mas a imagem mais horrorosa era de criaturas que se moviam em uma extensa fileira naquele exército. Suas peles eram necrosadas como as dos zumbis uniformizados, mas esses seres não carregavam armas. Não tinham pernas, mas seus braços eram no mínimo quatro vezes maiores que os de uma pessoa normal, de forma que eles se erguiam bizarramente acima das cabeças dos mortos que marchavam. Usavam uma espécie de túnica curta e moviam os braços com grande agilidade. Era difícil crer que aquelas coisas, que se moviam de forma tão estranha, já haviam sido seres humanos.
Eram os artilheiros daquele maldito exército. Tinham diversos dardos costurados em suas bocas. Cuspiam esses projéteis, lançando-os contra os alvos inimigos. Não tinham cabelos e no topo da cabeça uma fileira de espinhos estavam dispostos no estilo moicano. Ao contrário da silenciosa infantaria, esses espinhentos estavam constantemente soltando gemidos agudos por suas bocas obstruídas, sons que pareciam risadas irônicas, como se achassem graça de algo que só eles sabiam.
Olhando em volta, Seridath apenas percebeu o pavor. Os jovens perto da paliçada observavam anestesiados os corpos das vítimas que se espalhavam pela relva. Alguns deles viram Urso Pardo ser atingido e sua morte já era gritada entre os homens do exército, enquanto os camponeses corriam sem rumo. Ainda que a aproximação dos inimigos fosse inevitável, nenhum dos jovens se movia. "Ordens," pensou Seridath, "precisamos de ordens, com urgência." Mas todos pareciam imersos em letargia. O guerreiro não tinha tempo a perder. Viu um rapazinho magro e de estatura mediana passar correndo. Reconheceu-o de imediato.
Arauto! – gritou.
O rapazinho não respondeu. Seridath afastou-se da paliçada, correndo até o garoto, que não havia sido alvejado por milagre. Ele pareceu não ter notado o guerreiro, pois afastava-se com rapidez rumo ao centro da aldeia. Já não caíam tantas setas quanto outrora. Seridath manteve seu escudo erguido, enquanto ouvia os estalos das pontas dos dardos baterem em seu largo bojo.
Arauto!!! – gritou novamente.
O jovem franzino parou e voltou-se. Correu na direção do guerreiro. Era um palmo e meio mais baixo que Seridath e tinha os cabelos castanhos, bem revoltos. Estava vestido com cota de malha e túnica, como qualquer soldado, mas tinha na cintura um sabre no lugar de espada. Não portava escudo e segurava uma pequena trombeta de prata em sua mão esquerda. Na direita estava seu elmo, que havia sido retirado para que o jovem pudesse ajeitar o cabelo castanho que lhe caía sobre os olhos. O rapazinho sorriu ao aproximar-se, indo abrigar-se sob o escudo. Ao contrário do que o cavaleiro julgara, seus olhos não demonstravam medo e carregavam um curioso brilho.
Onde estão Murrough e os outros capitães? – perguntou Seridath, de chofre.
Murrough está morto – respondeu o garoto. – Levou uma seta bem no olho. Aleigh está ferido de morte e não consegui localizar Balgata. Talvez esteja na ala oeste da paliçada.
Aleigh e Balgata eram os outros dois capitães. Seridath não ponderou na morte de Murrough, seu capitão, com qualquer sentimento. "Isso, sim, é guerra," pensou. Mas os deuses não pareciam favoráveis, ao permitirem que dois capitães e o comandante do destacamento fossem abatidos com tamanha rapidez. Não poderia vacilar agora. O guerreiro deu uma ordem direta:
Soe o toque de cerco e, em seguida, o toque para convocar toda a tropa. Quem puder ouvir e obedecer, virá lutar. Vamos perfilar os arqueiros sobre a paliçada. Quero todos eles atirando contra aquelas coisas que cospem setas!
O arauto não contestou as ordens do guerreiro. Levou a trombeta aos lábios e tocou uma série combinada de notas. Logo foram surgindo homens que haviam se abrigado nos casebres. Para a surpresa de Seridath, havia um número considerável de arqueiros. Pelo menos uns dez aproximaram-se correndo, carregando sacolas de flechas, para ajudarem aqueles que já mantinham suas posições sobre as plataformas de madeira. A ordem de Seridath foi bem acertada. Os arqueiros dispuseram-se em grupos de quatro ao longo da paliçada e capricharam na precisão contra as estranhas criaturas. Antes que os zumbis armados chegassem à aldeia, não havia mais nenhum lançador de dardos entre os inimigos. Mas ainda havia aquela terrível massa de mortos que marchava e já estava bem próxima da paliçada. Aqueles machados com certeza reduziriam as defesas a simples destroços.
Em instantes, os primeiros daquela horda compacta já cruzavam o fosso. Seus machados começaram a golpear com força a madeira. Quatro arqueiros logo acima desses zumbis freneticamente disparavam contra os agressores. Os zumbis caíam, cobertos de flechas, para em seguida serem pisoteados pelos que vinham atrás. Não havia apenas aqueles zumbis, mas também os tais homens-macaco, os argros, que poderiam usar de sua natural agilidade para subir a pilha de corpos que se acumulava ao pé da paliçada. Seridath previu que logo aquelas criaturas alcançariam o topo da defesa, usando os corpos dos mortos como apoio. Voltou-se para o arauto, que ainda permanecia ao seu lado.
Mande aqueles idiotas saírem logo de lá – rosnou, nervoso, para o arauto. – Leve-os com você. Vamos tentar assegurar o centro da aldeia livre de inimigos. Arrume mais uns quatro ou cinco homens, guerreiros. Concentre todos os moradores sobreviventes na casa do prefeito; faça barricadas ao redor. Se algum homem oferecer resistência, ou atrapalhar qualquer trabalho seu, não hesite em matá-lo.
O arauto saiu para cumprir as ordens, levando os quatro arqueiros. Alguns homens, dentre soldados e arqueiros, aproximaram-se de Seridath quando ele se lembrava dos anões, perguntando-se onde estariam.
A resposta foi um estrondo à direita. Os anões, violentos e muitas vezes inconsequentes, não estavam sob ordem alguma. Assim como Seridath, eles viram aqueles mesmos argros que tentavam escalar a defesa. Movidos por um ódio ancestral a essas criaturas, os anões atacaram sem prudência. Uma porção daquelas esferas pequenas e escuras foi lançada por cima da paliçada. As bombas explodiram em conjunto, destruindo parte da defesa de madeira. Os argros sobreviventes surgiram da brecha na paliçada, empunhando grosseiros machetes, enquanto o grupo de anões, bravo e valoroso, postou-se em prontidão para aguentar o choque. As bombas não deram cabo nem de metade daqueles homens-macaco. A carnificina começou. Mesmo prontos para o combate mortal, portando seus martelos e machados de guerra, aquele punhado de anões não daria conta de quase o dobro de inimigos. Atrás dos argros que invadiam a paliçada, os sombrios zumbis golpeavam a brecha para torná-la mais larga. Seritah gritou aos homens que o acompanhavam:
Pelos deuses! Matem logo aquelas coisas!
As flechas foram disparadas contra os inimigos, mesmo com o perigo de que aliados fossem alvejados, enquanto os guerreiros procuravam cercar os anões que lutavam. Seridath lamentou a perda de seis valiosos anões. Os nove restantes, ofegantes e feridos, se juntaram ao grupo de guerreiros encabeçado por Seridath, que avançava rumo à brecha com uma carroça, para bloquear a passagem aberta pela explosão.
Aldreth não saía do lado do amo, estava colado a ele como uma sombra, embora de tempos em tempos fizesse um patético disparo, tentando atingir algum zumbi que tivesse alcançado o topo da paliçada. Mas alguns deles já estavam prestes a fazer outras brechas na muralha de madeira. Seridath dispusera todos os guerreiros que encontrara para abaterem os inimigos nas brechas que iam surgindo, mas logo haveria mais aberturas do que homens para evitarem que os mortos nelas penetrassem. O próprio rapaz ainda não havia entrado na peleja.
Desde o início da luta, Seridath havia lançado longe a espada que recebera de Murrough. Estava decidido a fazer Lorguth funcionar a qualquer custo. Como o próprio Urso Pardo havia dito, ele iria impor sua vontade sobre a lâmina negra. O arauto retornou, correndo com animação, embora estivesse sozinho. Parecia realmente divertir-se com tudo aquilo.
Estão todos no casarão principal, senhor – informou, sorridente. – Aleigh e os outros feridos estão sendo tratados pelo sacerdote. Encontrei o capitão Balgata. Ele está ao norte da aldeia, com um outro grupo. O senhor não vai acreditar no que está acontecendo lá.
Sua fala foi seguida pelo som de madeira rachando. Em vários pontos, já podiam ser vistas as lâminas dos machados destruindo as toras de madeira, que soltavam grandes lascas. Em outros pontos, guerreiros se aglomeravam nas brechas recém-abertas, tentando empurrar com seus escudos os zumbis de volta. Estavam condenados. 


Continua...

sexta-feira, março 15, 2013

Um romance feito de estilhaços



Fonte: divulgação
Ao começar a leitura do romance eles eram muitos cavalos, do mineiro Luiz Ruffato, já de início perce-se o claramente o tom de relato fragmentado. Construído a partir de pedaços de narrativas e discursos que se atravessam, descrevendo ao leitor uma cena comum sobre a vida de um indivíduo igualmente comum, o primeiro capítulo funciona como prefácio que irá fazer com que o leitor decida se continuará essa leitura calcada em interrupções ou se decidirá fechar o livro de vez.

E assim prossegue o texto de Ruffato, demonstrando um notável desprendimento com seus personagens e com os conflitos vivenciados pelos mesmos.

Ambientado em uma São Paulo múltipla, alternando-se entre tacanha e cosmopolita, o texto passeia entre diversos gêneros textuais, muitos deles não sancionados pela alta literatura. Isso, contudo, reforça a potência criativa de Ruffato, bem como sua genialidade, ao levar o romance não-linear às últimas consequências.

Ainda assim, o autor demonstra que seu romance não é mero exercício estético, mas também um espaço para a beleza de sua poesia. Veja-se por exemplo os textos "A menina" e "Crânio", além de muitos outros.

Quanto aos personagens, o romance nunca se atém por muito tempo em qualquer um deles. E essa é outra evidência da diversidade em que se fundamenta o romance. São pessoas de vários estratos sociais, origens, credos. Perce-se contudo, um tênue interesse pelos evangélicos, em especial os pentecostais.

Ainda assim, o romance busca apresentar esses perfis como retratos, com todos seus juízos de valor e preconceitos, embora não de forma pejorativa.

O romance de Ruffato tem peso e fôlego, mas não se trata de uma leitura fácil, descontraída. Alguns trechos são densos, carregados, seja pela tragédia pessoal de cada um, seja pela linguagem que por vezes é truncada, como estilhaços de uma grande catástrofe chamada cotidiano. E a intenção caótica e fragmentada presente na escrita de Ruffato é o que mais evidencia sua maestria, tornando eles eram muitos cavalos uma leitura certamente inesquecível.

Ficha Técnica:

Edição: 1
Editora: Boitempo
ISBN: 9788585934866
Ano: 2006
Páginas: 152



Perfil do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/6505

quinta-feira, março 14, 2013

Sombras de dores e a poética do dia

Hoje é dia da poesia nacional. Sei, poesia está entranhada em nossa cultura, fazemos poema até com piada. Mesmo assim, acho bacana lembrar disso com uma data comemorativa. Acho que de vez em quando ajuda a gente a parar e olhar pro lado.

Compartilho então dois poemas nascidos ontem, fruto do cansaço, da pressão interna e da angústia nossa de cada dia.


Asceta

A tristeza faz sua volta
coça meu nariz mais uma vez
é o espírito
o sopro tênue
a chama
que logo cessará
centelha exangue
lânguida
esmaecida
carente de qualquer sentido
conto os instantes
de minha própria morte
exilado de qualquer anseio
estilhaço-me
e depois
esqueço.


Insônia

A pele alva
exala um cheiro de
nostalgia encapsulada
animal,
minto para o tempo
nego o desejo
Tendo meu eu como único inimigo,
mordo minha própria bochecha
e sorvo meu sangue
embriagado pelo nada

quarta-feira, março 13, 2013

Lançamento do "Névoa" em Belo Horizonte

Olá, amigos!

Quero abrir este post eventual para convidar a todos os leitores de Belo Horizonte/MG e região para o lançamento do livro Névoa: contos sobrenaturais, de suspense e de terror, que acontecerá na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, às 10h30 do dia 16 de março de 2013.

O lançamento contará com a presença dos autores Daniel Rocha Silveira, Gabriella Lara Silva, G. Lamounier e Mateus Mourão. Não percam!

Endereço: Rua Carangola, 288 - Santo Antônio.

Conto com a presença de todos!

segunda-feira, março 11, 2013

O Desespero e a Noite - Parte V de VI

Ir para O Desespero e a Noite - Parte IV de VI

Seridath se manteve na mesma posição, como se a chegada do líder do exército não fosse tão importante. Mas a troca de olhares que ambos tiveram naquele momento denunciava outra coisa. O rapaz temia a represália do andarilho, da reação que o velho teria para com ele. O cavaleiro olhou em volta. Não havia ninguém para testemunhar aquela conversa, pois os demais homens do destacamento estavam mais distantes, raspando suas tijelas de sopa, e o casebre mais próximo devia estar a uns cinqüenta passos. O crepúsculo findava, anunciando uma noite escura que se aproximava com rapidez. Seridath soltou um suspiro, enquanto descruzava os braços. Encarou então o andarilho, que parou diante do guerreiro com uma expressão enigmática. O rapaz estava atento, as próximas palavras seriam decisivas.
Esta noite prenuncia horrores, bravo guerreiro – a voz de Urso Pardo soou serena aos ouvidos do jovem.
Parece ser noite de maldições, velho. - respondeu o rapaz, suspirando - E uma maldição antiga, talvez milenar.
Como a que tu carregas contigo...
Seridath pareceu surpreso. Instintivamente, tocou a ponta do cabo de Lorguth, que ainda permanecia presa às suas costas, inútil. Urso Pardo estendeu as mãos, como se exigisse, silenciosamente, que Seridath entregasse a espada. O rapaz ficou na defensiva, mas viu que nos olhos do velho não havia hostilidade, mas apenas uma curiosidade quase infantil, como uma criança que deseja examinar um brinquedo exótico. Murmurou, como que esperando confirmar as intenções do andarilho:
Bem vi que você... er... o senhor notou a espada, por fim.
Eu notei desde o início. – respondeu Urso Pardo, com um sorriso. – Deixa que a examine, meu jovem.
Seridath desatou a espada e depositou-a, ainda embainhada, nas palmas das mãos do andarilho, que aproximou o punho da mesma e passou a examiná-la com minúcia. Usou o manto para proteger a pele da mão ao segurar o punho e puxar, com cuidado, a espada para fora da bainha. Ao ver a lâmina, o velho soltou um murmúrio de aprovação, como se confirmasse suas suspeitas.
Trata-se de um artefato mágico e muito antigo – disse com firmeza. – Se não me engano, esta espada é Lorguth, forjada no fim da Era dos Errantes.
Como sabe disso, velho? – perguntou Seridath surpreso. Ele próprio sabia apenas o nome da espada.
Nós não somos andarilhos à toa, como alguns pensam, rapaz. Também peregrinamos pelo mundo em busca de conhecimento. E essa espada é de fato algo notável. Dizem que um ser denominado "O Sombrio" a forjou.
Seridath lançou um olhar profundo ao ancião. Seu coração, pela primeira vez, gelou. Estava lidando com algo mais terrível do que podia imaginar. Urso Pardo notou a reação infantil do jovem e sorriu, embainhando Lorguth e devolvendo-a ao dono. O andarilho acenou para Seridath, para que caminhassem lado a lado, afastando-se alguns passos da paliçada.
Eu queria que tivesses a experiência de enfrentar malignas criaturas com essa espada. Creio que agora possuis pelo menos uma melhor noção do artefato em teu poder. Mas acalma-te. É uma espada poderosa, e ainda não sabes usá-la. Por tal motivo ela não te obedece.
O que devo fazer? – perguntou Seridath, sem conseguir esconder a aflição.
Tua vontade, meu jovem – respondeu o andarilho, enigmaticamente –, somente tua vontade é a chave para conseguires usar a espada. Se fores bem-sucedido em impor tua vontade sobre a lâmina negra, ela te obedecerá, e será eficaz com os inimigos mortos. Mas saibas que essa espada é perigosa, ela drena vida e deve se alimentar com sangue, para evoluir. Mortos não a alimentam, e por isso ela pode ser perigosa contra teus aliados, se ficar muito tempo sem matar.
Seridath assentiu. Já conhecera a voracidade assassina daquela lâmina negra.
Controla também a sede da espada, senão ela te consumirá, tomará teu ser e serás somente mais uma habitação para "O Sombrio". Se caíres, o mal que acometerá esta terra será infinitamente pior do que o que enfrentamos agora. Lembra disso.
Mas por que, velho, você me dá essa opção? – Seridath estava perplexo. – Por que não tomar a espada, por que não me expulsar da Companhia, me matar, por quê? Crê que eu sou tão forte que possa dominar essa espada tão antiga?
Não, rapaz, certamente não creio – a resposta de Urso Pardo deixou-o atordoado. – Mas somente os deuses podem determinar isso. Não és mau, somente confuso, e eu não posso trair as Leis e matar-te sem sofrer a ira divina. Serpente Flamejante, o Grande Andarilho, diz que "o peso de uma vida dá para esmagar o mundo." Muitos em nossa terra começaram bons, mas por não entenderem o valor de uma vida, terminaram tornando-se os mais terríveis entes que já existiram. Quem sabe um homem obscuro, portador de uma espada amaldiçoada, possa fazer o caminho inverso e tornar-se um guerreiro justo? A escolha em ter e usar a espada é tua, não minha. O caminho que trilhares será também o caminho que os deuses permitirão. Lembra-te dis...
Mas o discurso de Urso Pardo foi interrompido por um som seco de algo pontiagudo penetrando em carne. Um dardo acabava de atravessar a garganta do ancião.

Continua...

sexta-feira, março 08, 2013

Uma Ideia Toda Azul - Magia e sensibilidade



Quando menino, já apaixonado pelas histórias escritas, costumava explorar os livros didáticos de língua portuguesa que eu e meus irmãos recebíamos na escola, em busca de contos e crônicas interessantes. Havia em alguns livros a "seção suplementar", que geralmente nunca seria abordada pelos professores. Ainda assim,.quantos textos deliciosos conheci nesse exercício de "caçador de histórias"! 

Foi numa dessas solitárias incursões que encontrei o conto "Uma Ideia Toda Azul", que falava sobre a cruel passagem do tempo e seu poder de nos separar de nossos sonhos. Lembro-me que meu coração menino ficou angustiado com o destino do rei, protagonista do conto. Sentia em mim sua melancolia, sua falta de talento para a felicidade. Ao mesmo tempo sonhei como ele, brincando também com a ideia azul pelos jardins do palácio real.

Outro conto que naquela mesma época havia me comovido foi "Por trás do bastidor", onde uma menina bordadeira dava forma e substância a seus sonhos através da linha do bordado.

E muitos anos depois descobri que ambos os contos não apenas são da mesma autora, como também fazem parte do mesmo livro, cujo título é, justamente, Uma Ideia Toda Azul. Essa descoberta permitiu um recorrente mergulho no mundo onírico e belo de Marina Colasanti.

Escritos e publicados em uma época de transição, em que os efeitos da revolução feminina ainda eram tênues e pontuais aqui no Brasil, a voz forte e segura dessa grande mulher assumia um tom de denúncia sobre a condição feminina, mas também sobre as infinitas possibilidades que estão diante de toda a humanidade, nas potencialidades de cada pessoa, especialmente da mulher, única e exclusiva senhora de seu destino.

Assim, neste dia tão importante, quando celebramos a luta pelo fim da violência contra a mulher e pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, considero de grande importância lembrar dessa obra de Marina Colasanti, exemplo que a boa literatura pode muito bem ir além da beleza estética, assumindo uma voz de consciência, sem comprometer sua qualidade.

Ficha Técnica
I.S.B.N.: 852601109X
Editora: Global
Acabamento : Brochura
Edição : 23
Número de Paginas : 61
Prêmios:

     • APCA - Grande Prêmio da Crítica 1979
     • FNLIJ - O Melhor para o Jovem 1979


Perfil do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/13707

terça-feira, março 05, 2013

Selos e blogs amigos

Para minha felicidade, fui agraciado nas indicações de alguns colegas de blogs. E isso não só me deixa feliz como também me estimula a continuar este trabalho. Sim, pessoal, é um trabalho. Afinal, invisto horas e horas pesquisando livros, lendo, anotando e escrevendo. Ainda mais trabalhoso é produzir os textos autorais, pois faço várias releituras buscando melhorar o escrito. Assim, quando algum outro blog faz menção a este, tenho uma forte sensação de dever cumprido e ao mesmo tempo que sou imbuído pelo desafio de melhorar. 

A primeira notificação sobre os selos foi da Fernanda Cristina Vilas Reis, autora do blog Na Trilha dos Livros. Curiosamente, hoje acessei o blog da Fefa (Apaixonada por Papel) e descobri que ela também tinha postado o mesmo selo. Em seguida, fiquei sabendo também que havia sido indicado pelo Vitor Vieira, autor do blog O Guardião da Muralha. Agradeço aos três pela confiança! 

Bem, sem mais delongas, vamos aos selos.

O primeiro é o Prêmio Dardos, iniciativa criada pelo espanhol Alberto Zambade, que concedeu em 2008 o primeiro "El Pequeño Dardo", em seu blog Leyendas, mencionando quinze outros blogs selecionados por ele. Ao divulgar o prêmio, Zambade solicitou aos blogs premiados que também indicassem outros blogs ou sites considerados merecedores do prêmio. Assim a iniciativa se espalhou pela Internet. Nas palavras de Alberto Zambade, o Prêmio Dardos destina-se a "reconhecer os valores demonstrados por cada blogueiro diariamente durante seu empenho na transmissão de valores culturais, éticos, literários, pessoais etc., demonstrando, em suma, a criatividade por meio do seu pensamento vivo que permanece inato entre as suas palavras". 


Regras:

Exibir a imagem do selo no seu blog; 
Linkar o blog que te indicou; 
Escolher outros 10 blogs para receber o Selo Dardos; 
Deixar um comentário nos blogs escolhidos:


O selo seguinte é este:





Regras:

1. Citar o nome de quem te indicou: Citados acima;

2. Indicar 2 livros (no mínimo) que leu e gostou em 2012 (não há limite máximo);

Do amor e outros demônios, de Gabriel Garcia Márquez;
Dança com Dragões, de George R.R. Martin;
Retalhos, de Craig Thompson;
Carta aos Dinossauros, de José Wilson Barbosa Sales;
Sabor de Sangue e Chocolate, de Helena Gomes;
A Tormenta de Espadas, de George R.R. Martin;
Haroun e o Mar de Histórias, de Salman Rushdie;
O contador de histórias, de Saki;
Lugar Nenhum, de Neil Gaiman;
Diálogos impossíveis, de Luis Fernando Veríssimo;
Clube da Luta, de Chuck Palahniuk;
A Caixa Preta, de Amós Oz.

3. Listar 3 livros (no mínimo) que deseja ler em 2013:
Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa;
Dragões de Éter (a série inteira) de Raphael Draccon;
Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago;
Histórias da Eternidade, de Jorge Luis Borges;

4. Oferecer a mais dez pessoas ou blogs e avisá-los: os mesmos acima.


Por último, mas não menos importante:



Regras:

Responder as sete perguntas: OK, abaixo;

Nomear sete blogs: resolvi manter os dez acima, neste mesmo post;

Avisar sobre o selo aos blogs premiados;

Fazer sete perguntas diferentes para os blogs que você indicar;

Minhas respostas:


1. Quais suas maiores paixões?
Em primeiro lugar, minha maior paixão é minha namorada, Ana Luiza. Agora, quanto a coisas que gosto de fazer, amo ler, assistir seriados e desenhos animados, amo contar histórias para crianças e amo trabalhar na Biblioteca.

2. Se você pudesse nascer em outra época, qual seria?
Gostaria de nascer no século XIX, por conta das roupas, das carruagens, do estilo vitoriano, da literatura romântica.

3. Se pudesse ser um personagem de um livro, qual seria?
Se pudesse, seria o Mago Howl, da trilogia O Castelo Animado, O Castelo no Ar e A Casa de Muitos Caminhos, da escritora Diana Wynne Jones.

4. O que te levou a criar o blog?
O desejo de escrever e de ser lido me levou a criar este blog. Inicialmente, era um blog de textos literários, sem resenhas. Posteriormente, vi que havia não só uma necessidade pessoal de qualificar minhas leituras, como também uma demanda na internet por blogs literários. Acabou que gostei muito de fazer resenhas e até hoje estamos aí!

5. Qual seu gênero preferido se leitura? Por que?
Gosto muito de fantasia. Sou fissurado por cenários mirabolantes, poderes fantásticos e grandes jornadas épicas.

6. Como nasceu sua paixão por leitura?
Nasceu quando eu tinha 9 anos. Tive em minhas mãos um exemplar do livro O Caso da Borboleta Atíria, de Lúcia Machado de Almeida. Fiquei tão apaixonado que continuei buscando nos outros livros a mesma empolgação que havia sentido nessa leitura. Não parei mais desde então.

7. Cite uma passagem de algum livro que você nunca esquece.
A cena em que Shasta está perdido em Arquelândia e no meio do nevoeiro tem uma conversa reveladora com o grande Aslan.

Agora, vamos às perguntas novas, que eu tenho que bolar:

1. O que você procura quando abre um livro que nunca viu?

2. Você consegue ir direto para o final de um livro?

3. Quantas vezes você costuma ler um livro que tenha adorado?

4. O que você acha necessário para estimular uma criança a ler?

5. Se você fosse imaginar duas personagens de livros diferentes se encontrando, que personagens seriam e como se daria esse encontro?

6. Cite quem você acredita ser um dos grandes nomes da literatura do Brasil.

7. Você costuma frequentar alguma biblioteca? Caso afirmativo, conte um pouco sobre ela!


É isso aí, pessoal! Foi um exercício interessante e mais uma vez agradeço àqueles que me indicaram. Grande abraço!

segunda-feira, março 04, 2013

O Desespero e a Noite - Parte IV de VI

Ir para O Desespero e a Noite - Parte III de VI

Ao ouvir que Urso Pardo não seria hóspede em sua casa, Denor pareceu querer retrucar, mas apenas abriu a boca e, em seguida, fechou-a, enquanto baixava os olhos. Como Urso Pardo havia dito, aquele não era tempo para confortos ou formalidades. O andarilho queria estar próximo ao exército para organizar o alojamento e alimentação da tropa. Haviam trazido seus próprios suprimentos nos carros de boi, mas os militares careciam de legumes frescos, como batatas, nabos e cenouras.
Com muita presteza, os camponeses se ofereceram para ajudar nessa carência alimentar. Muitos deles haviam sofrido por causa da praga que se espalhara com rapidez. Não havia família que não houvesse perdido algum ente querido. Seu ressentimento se materializava na vontade de ver a Companhia prevalecer sobre os zumbis.
O destacamento olhava curioso ao que restara da aldeia, entre as cinzas das cabanas purgadas. Seridath, por seu lado, não pousara seu olhar para os aldeões uma vez sequer. O rapaz observava de longe Urso Pardo sempre atarefado, vagando de um lado para o outro, despachando ordens e recomendações. Via com interesse como o andarilho parecia estar desconcertado. O guerreiro adivinhava, e muito bem, que a tarefa estava mais difícil para o velho depois que o Conde de Arnoll negara seu apoio, impedindo que a Companhia estabelecesse sua base na forte cidadela. Essa verdade deixava o rapaz com uma sensação que beirava a satisfação. Afinal, não seria ele o único a fracassar. Não conseguia esquecer sua humilhação. A falha da espada doía-lhe como uma ofensa imperdoável. Distraído e sentindo um gosto ruim na boca, descobriu Aldreth, que parecia completamente perdido. O jovem permanecia sentado na beira de uma carroça e voltava-se para todos os lados com um olhar apático.
Aldreth não conseguia disfarçar sua comoção, ao ver as expressões vazias de tantas crianças. Sentia seu peito apertado ao ver aqueles pequeninos com ares de quem já cedo sabe não ter futuro. Além disso, o arqueiro era atormentado pelas mesmas visões que o perseguiram nos últimos dias, imagens dos extermínios anteriores.
Seridath se aproximou do garoto e despertou-o de suas lembranças com uma forte batida no ombro. Fitava o arqueiro com os mesmos olhos penetrantes e malignos. O garoto se lembrou de que fora o próprio “cavaleiro negro” que o metera naquele inferno, e seria mais que justo odiá-lo. Mas Aldreth simplesmente não conseguia. Quase sentia pena, pois como todos os outros, vira o fracasso quase ridículo de Seridath em usar aquela espada, inútil contra os mortos-vivos.
No que está pensando, rapaz? – perguntou o guerreiro. – Se tem alimentado lembranças desta guerra maldita, esquece! Isso só te levará à loucura.
E por acaso, haverá paz para homens como nós? – perguntou o garoto, com amargura. – Depois dos atos que cometemos, ainda que por honra, creio que seremos atormentados para o resto de nossas vidas.
Calma, jovem! – Seridath lançou um sorriso frio para o arqueiro. – Fale com Urso Pardo. Esse sim dará bons conselhos sobre como lidar com essa guerra. O homem é bom para curar corpos e almas.
Você... quer dizer, o senhor considera isso uma guerra?! – Aldreth demonstrava visível transtorno.
E o que mais poderia ser? Por acaso se você ficar parado diante daquelas coisas, elas irão poupá-lo?
Aquelas coisas foram gente! – gritou Aldreth. – Gente como eu e você!
Seridath manteve silêncio por alguns segundos, enquanto o pajem caía em si e seu temor retornava. O cavaleiro se aproximou do garoto de forma a intimidá-lo. Aldreth encolheu-se diante do ar ameaçador do amo.
Quer que eu lembre a quem você deve a vida, moleque? – murmurou Seridath, entredentes. – Sua insolência é um insulto ao meu orgulho, verme. Acho melhor lembrá-lo que você me pertence!
Aldreth, acuado, baixou a cabeça e suspirou:
Sim, Mestre, peço perdão.
O arqueiro fez menção de inclinar-se, mas Seridath o deteve, irritado:
Não se incline, imbecil, nem use a palavra “mestre” por aqui, pelo menos por enquanto. Você tem um juramento para comigo, mas o mesmo não nos exime do juramento que temos para com este lixo de Companhia. Você curvar-se aqui só me trará mais problemas.
Verdade... – Aldreth pareceu confuso e frustrado. Erguendo os olhos, perguntou, em desafio: – E a espada, tem funcionado melhor agora?
Seridath fitou o arqueiro, consternado, quase enfurecido. O garoto bem sabia a resposta. Aldreth afastou-se sem olhar para trás, buscando os demais arqueiros.
Seridath permaneceu sozinho, remoendo seu despeito. Aquele garoto iria pagar por sua impertinência. A verdade é que havia uma certa preocupação incomodando o guerreiro. Ele estava satisfeito com as dificuldades de Urso Pardo mas dedicava-se a esse sentimento para encobrir o pesar que invadia seu interior. Lorguth, ao não funcionar contra os amaldiçoados, revelara seu poder maligno. E era certo que Urso Pardo percebera esse detalhe. Intimamente, Seridath aguardava uma repreensão por parte do andarilho, talvez até um ultimato para que ele deixasse a Companhia. Mas o ancião não lhe dirigira a palavra durante toda a viagem e parecia até mesmo desconhecer sua existência. O jovem guerreiro somente sabia que Urso Pardo mandara dois mensageiros rumo ao sul, com cavalos emprestados por Denor. Aqueles mensageiros certamente trariam o famoso Serpente Flamejante, juntamente com toda a Companhia, para Keraz. O exército que viria, segundo Seridath ouvira falar, alcançava o número de três mil homens.
Ao fim da tarde, os guerreiros da Companhia receberam cobertores e pequenas tigelas com sopa com raros fiapos de carne e complementada pelos legumes que os aldeões haviam fornecido. Não tinha um gosto definido, mas estava quente e foi acompanhada por um pedaço de pão sem fermento. Após o jantar frugal, os três capitães distribuíram as sentinelas, montando em comum acordo a escala de vigia. Seridath fora um dos escalados para o primeiro turno. O jovem cruzou os braços e escorou suas costas na paliçada, soltando um suspiro profundo. Estava cansado e abatido, seu desânimo era profundo. Todos os seus planos agora pareciam-lhe totalmente ingênuos. Afinal, o que ele queria provar? E para quem? O que queria de fato conseguir em manter consigo aquela espada ao invés de livrar-se dela? E finalmente, por que fora enviado para encontrá-la? Quem o enviara?
Seus pensamentos foram interrompidos pelos os calmos passos do andarilho Urso Pardo, que se aproximava. Os olhos do velho estavam apreensivos e fitavam Seridath com firmeza. Pelo visto, a inevitável conversa estava para acontecer.

Continua...

sexta-feira, março 01, 2013

Ubirajara, o Senhor da Lança


Jaguarê é um jovem índio da tribo araguaia, filho de Camacã, líder supremo. Apesar de sua fama como exímio caçador, o rapaz deseja realizar uma façanha de guerra e assim receber um nome de guerreiro e galgar melhores posições junto ao seu povo.


Mas o que antes era uma busca por realização pessoal torna-se uma épica jornada de amor e superação, quando Jaguarê se encontra por acaso com Araci, bela filha do chefe dos tocantins. Apesar do interesse mútuo, os jovens são de tribos rivais e Jaguarê sequer tem a posição social necessária para disputar o amor de Araci.


A oportunidade surge então para o rapaz quando, pouco depois de se despedir de Araci, Jaguarê encontra Pojucã, campeão dos tocantins. Numa luta equilibrada, Jaguarê acaba perdendo sua lança para o adversário, que não imaginava que a arma obedecia apenas a seu mestre. A lança se volta contra Pojucã, que acaba derrotado. Assim Jaguarê, por ter vencido o mais forte guerreiro dos tocantins, assume o nome de Ubirajara, o senhor da lança.

Escrito por José de Alencar e publicado em 1874, esse romance indianista apresenta um  texto composto de frases e parágrafos curtos, com verbos em geral no tempo presente, o que garante ao texto certo dinamismo. Alencar procura valorizar um vocabulário indígena, o que pode muitas vezes soar estranho e artificial.


Ao contrário de muitos romances de Alencar, "Ubirajara" procura explorar as cenas de ação sem deixar de fora o sangue e a violência. Um dos combates em especial nos faz lembrar das lutas de imobilização nos hoje famosos torneios de MMA.


Os dois campeões recuaram passo a passo até que se acharam a um tiro de arco.
Então soltaram o grito de guerra e se arremessaram um contra o outro brandindo o tacape.
Os tacapes toparam no ar e os dois guerreiros rodaram como as torrentes impetuosas no remoinho da Itaoca.
Dez vezes as clavas bateram, e dez vezes volveram para bater de novo. 
Os animais que passavam na floresta fugiram espavoridos, como se a borrasca ribombasse no céu.
Ainda uma vez encontraram-se os dois tacapes e voaram em lascas pelos ares.
— O ubiratã é forte; mas há outro ubiratã que lhe resiste. Como o braço de Pojucã é que não há outro braço. Já viste, jovem caçador, o veado nas garras da jibóia? Assim vais morrer.
— Se tu fosses a cascavel que somente sabe morder, Jaguarê te esmagaria a cabeça com o pé e seguiria seu caminho. Mas tu s a jibóia feroz; e Jaguarê gosta de estrangular a jibóia. Não morrerás pelo pé, mas pela mão do caçador. Lança teu bote, guerreiro tocantim.
Pojucã estendeu os braços e estreitou os rins de Jaguarê, que por sua vez cingiu os lombos do guerreiro.
Cada um dos campeões pôs na luta todas as suas forças, bastantes para arrancar o tronco mais robusto da mata.
Ambos, porém, ficaram imóveis. Eram dois jatobás que nasceram juntos e entrelaçaram os galhos ligando-se no mesmo tronco.

O trecho acima ilustra um dos muitos momentos em que a ação recebe grande destaque no enredo.


É importante observar que Alencar, normalmente tão descritivo, acaba sendo sucinto demais em suas descrições. Acredito que isso rouba um pouco a força do romance.



Outro aspecto que deve ser destacado é o uso dos nomes próprios pelos personagens e como o próprio herói muda de nome ao longo da aventura. Jaguarê, após se tornar Ubirajara, dias depois adota o nome de Jurandir, que usará enquanto disputar o amor de Araci.


A despeito dos preconceitos presentes na obra, vale lembrar que existia sim um projeto indianista de valorização nacional. Não cabe aqui a discussão ou defesa desse projeto. Aponto somente que a literatura também cria os seus mitos e tradições, que vão além das lendas orais. Vale destacar assim textos como O Hobbit e O Senhor dos Anéis, tão em voga ultimamente.

Em que Ubirajara se aproxima dessas narrativas épicas? Primeiramente, na posição do herói. Guardadas as devidas proporções, o protagonista do romance de Alencar, assim como os personagens dos livros de J.R.R. Tolkien, enfrenta uma série de desafios, todos ligados a jornadas. O herói está em trânsito constante, símbolo das mudanças a que todo protagonista está submetido. Essas mudanças marcarão o crescimento desse herói. No caso do protagonista do romance indianista, essa mudança também está marcada nos diferentes nomes que o herói assume ao longo de sua jornada.

Da mesma forma que no livro O Hobbit, há em Ubirajara um desafio a ser alcançado. No romance britânico, o desafio é encontrar o tesouro e enfrentar o maligno dragão Smaug. E a busca desse objetivo acaba por desencadear uma terrível guerra. Em Ubirajara, o tesouro é o amor da jovem Araci, filha do chefe supremo dos tocantins. Os acontecimentos que envolvem a disputa pela jovem lançam também Ubirajara em um aguerra que irá selar o destino das tribos.

Por esses e outros motivos, Ubirajara pode apresentar-se ao leitor como uma agradável surpresa. No que se espera uma leitura enfadonha, arcaica, a grande surpresa poderá se apresentar na descoberta de um texto dinâmico e ágil, repleto de romance e aventuras.

Ficha Técnica:
Autor: José de Alencar
Edição: 18
Editora: Ática
ISBN: 8508052499_
Ano: 2000
Páginas: 120

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/4803-ubirajara

Link para download do livro no Domínio Público: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00144a.pdf